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09/10/2006 - 10h07

Sobreviventes contam seus "milagres"

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DANIELA TÓFOLI
da Folha de S.Paulo

Eles tiveram certeza de que morreriam. Sobreviventes de acidentes de avião no Brasil ou no exterior, Zilmar Gomes da Cunha, Epaminondas Chaves, James Polehinke e Antonio Vizintin estão vivos por milagre. Procurados pela Folha, os sobreviventes contaram como é sair vivo de um desastre aéreo e afirmam que foram salvos por Deus.

Cunha, em Paris

Trinta e três anos depois de sobreviver a um incêndio e a um pouso de emergência de um avião da Varig em Paris, Zilmar Gomes da Cunha, 76, ainda não consegue dizer o que sentiu. Aposentado, morando em Niterói, Rio de Janeiro, diz: "Sou católico e tenho certeza de que foi Ele quem me salvou. Não estava na minha hora de morrer."

Cunha era o navegador do vôo que levava 134 pessoas à capital francesa em 11 de julho de 1973. Um minuto antes de chegar ao aeroporto de Orly, o avião precisou fazer um pouso forçado por causa de um incêndio, que acabou matando 123.

"Eu estava na cabine e não cheguei a ver o fogo. Quando percebemos que havia algum problema, não deu tempo de fazer mais nada", conta. "É impossível explicar o que senti enquanto o avião descia." Apesar de ter poucos segundos para pousar, o piloto da aeronave, Gilberto Araujo da Silva, conseguiu desviar das casas.

O navegador Cunha não chegou a ver as vítimas, porque foi retirado rapidamente dos destroços pelas autoridades francesas. Ele saiu ileso. Dias depois, na hora de pegar o vôo de volta ao Brasil, teve de controlar o frio na barriga. "Naquela hora, deu uma tremedeira. Mas, acabou passando", diz. Logo se recuperou do trauma e continuou na profissão.

Chaves

Quando a aeromoça pediu aos passageiros que se preparassem para um pouso de emergência, o engenheiro Epaminondas Chaves, 53, correu para o banheiro do Boeing e lá escondeu sua maleta. Queria que os projetos das obras que tocava ficassem preservados e imaginou que o banheiro seria o lugar mais seguro, caso o pouso não desse certo.

Não deu. O avião caiu em plena floresta do Alto Xingu, em Mato Grosso. Era 3 de setembro de 1989. Chaves sobreviveu à queda, mas pensou que fosse morrer na mata. Sem comida nem água, ele e mais três colegas saíram em busca de ajuda no terceiro dia de isolamento.

Depois de sete horas, chegaram a uma fazenda. "Havia muitos feridos e a água tinha acabado. Se não fizéssemos alguma coisa, morreríamos todos." O mais difícil, porém, não foi a busca por ajuda, e sim a retirada dos sobreviventes. "Ajudei a salvar muita gente presa nas ferragens, inclusive uma criança ao lado da mãe morta. Foram cenas muito fortes", diz. "Sei que saí ileso por milagre. Acho que nem merecia."

O piloto do Boeing onde Chaves estava digitou no painel a rota errada e o avião foi para o lado contrário. Quando se deu conta, estavam em cima do Xingu, sem combustível, e houve o acidente. Seis tripulantes e 36 passageiros sobreviveram. Doze morreram. A maleta do engenheiro não sofreu nenhum arranhão.

Vizintin, nos Andes

O mundo se chocou quando descobriu que 16 integrantes de uma equipe de rugbi uruguaia sobreviveram 72 dias nos Andes comendo carne dos 24 passageiros mortos depois de o avião onde estavam ter caído. Para Antonio Vizintin, 53, um dos sobreviventes, o pior não foi se alimentar de carne humana, mas ver os companheiros morrendo.

"Podia morrer a qualquer momento e a angústia de não poder me despedir da minha família era grande", conta. "Sobrevivemos porque não perdemos a esperança, trabalhamos em equipe e Deus sempre esteve conosco." O avião caiu em 13 de outubro de 1972 e eles foram resgatados na antevéspera do Natal. Fazia muito frio mas, em 12 de dezembro, Vizintin e os amigos Fernando Parrado e Roberto Canessa saíram em busca de ajuda. "Resolvemos arriscar porque acabaríamos morrendo sozinhos ali."

São e salvo, ele diz que aprendeu a valorizar pequenas coisas, como as tardes com a família e o cheiro do café. O acidente, porém, não lhe deixou traumas. Vizintin já voltou três vezes aos Andes, onde o avião caiu. Uma delas, com os sobreviventes da tragédia. "Foi emocionante estar naquele lugar lindo, cheio de vistas espetaculares, e ao mesmo tempo tão triste, onde estão meus amigos."

Polehinke, em Kentucky

James Polehinke, 44, não se lembra que o avião do qual era co-piloto caiu. Não se lembra nem mesmo que embarcou no jato Comair CRJ-100, que levava 47 passageiros, o piloto e uma comissária de Kentucky para Atlanta, nos EUA. Único sobrevivente do acidente --o pior dos últimos cinco anos nos EUA-- ocorrido em 27 de agosto, está em recuperação.

Perdeu uma parte da perna esquerda, teve fraturas na face, pernas, braços, pulsos, tornozelos e espinha e sofreu traumatismo craniano. Submetido a cirurgias, passou 31 dias internado no Hospital da Universidade do Kentucky e agora está em um centro de reabilitação. "Meu filho sabe que teve extrema sorte por estar vivo. É um milagre absoluto", diz a mãe de Polehinke, Honey Jackson.

Quando chegou ao hospital, o co--piloto tinha poucas chances de continuar vivo. Inconsciente, foi melhorando clinicamente. Agora, está lúcido e conversa com a família e os médicos. "Mas, ele não se lembra do dia do acidente." Em razão da perda parcial da memória, ele ainda não foi ouvido pela equipe que investiga o acidente. "Meu filho não está preparado para falar com ninguém. Ele esteve no inferno, e ainda continua lá."

O inferno de Polehinke começou logo após seu avião decolar do aeroporto de Lexington, em Kentucky. Ainda não se sabe o motivo, mas a aeronave começou a perder altitude, explodiu e se incendiou antes de atingir o solo.

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