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27/10/2006 - 17h06

Controladores de tráfego aéreo se organizam e ameaçam greve branca

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ANDREZA MATAIS
da Folha Online, em Brasília
LÍVIA MARRA
Editora de Cotidiano da Folha Online

Ainda sob efeito do maior acidente aéreo do país, controladores de tráfego aéreo se reuniram nesta sexta-feira em Brasília, em sigilo, para discutir as dificuldades do setor e definir uma forma de pressionar o governo a atender a reivindicação por melhores salários, menor carga horária e a contratação de mais profissionais, e ameaçam realizar protestos. Atrasos nas decolagens do aeroporto de Brasília marcam o dia.

A maioria dos controladores é militar, por isso estão proibidos por lei de fazer greve. Mas, segundo apurou a Folha Online com alguns dos participantes, não está descartada uma "greve branca", mobilização que pode ser desde o atraso proposital dos vôos até a paralisação dos civis que trabalham no setor.

O encontro --que contou com cerca de 60 controladores de tráfego aéreo-- foi realizado de forma discreta --não foi organizado por associações, mas pelos próprios profissionais. A preocupação de não serem flagrados em "assembléia" ficou evidente com o local e horário escolhido para a reunião. A conversa ocorreu no Parque da Cidade, um local praticamente deserto pela manhã em dias de semana. Os participantes evitaram a imprensa sob o argumento de que não poderiam falar "ainda" sobre o que discutiram. Também tiveram o cuidado de deixar os uniformes nos carros para não serem identificados.

Ao menos três participantes disseram à Folha Online que a hipótese de greve dos civis ou de uma "operação padrão" ser colocada em prática foi discutida. A "operação" consistiria no atraso dos vôos para demonstrar a insatisfação com o trabalho, já que não são todos que podem participar da paralisação.

Na manhã desta sexta, ao menos 32 aeronaves com destino a São Paulo, Cuiabá, Campo Grande e à região Sul do país decolaram do aeroporto de Brasília com atrasos de uma hora e meia, em média. A Aeronáutica nega que os problemas sejam conseqüência de uma "operação padrão" por parte dos controladores e afirmou que os atrasos foram provocados pelo excesso do tráfego aéreo, o que obrigou as aeronaves em solo aguardar um maior espaçamento para decolar.

Segundo a Infraero (estatal que administra aeroportos), os problemas começaram por volta das 8h25. Aeronaves com outros destinos tiveram atrasos de dez minutos e, a partir das 10h42, todas as decolagens passaram a ocorrer com um intervalo de cinco minutos. Funcionários da estatal admitem a possibilidade de o problema voltar a ocorrer.

Contratações

As normas internacionais determinam que cada operador de tráfego aéreo deve controlar, no máximo, 14 aeronaves no mesmo instante. O excesso de jatinhos e de aviões pequenos vem provocando atrasos de 30 minutos a duas horas nos pousos e decolagens nos aeroportos de Congonhas e de Brasília, nos últimos dias, o que levou o governo a se reunir na quinta-feira (26) para discutir o assunto.

Nesta sexta, o ministro da Defesa, Waldir Pires, confirmou que novos controladores de tráfego devem ser contratados, diante da grande demanda de aeronaves que operam em todo o país. Ele evitou admitir, no entanto, que o atual número de controladores seja insuficiente para acompanhar os vôos.

Outra medida é a transferência, nos próximos dias, de controladores de outras regiões do país para reforçar o setor em Brasília. Após a queda do Boeing da Gol, no dia 29 do mês passado, oito controladores de tráfego foram afastados para as investigações de possível falha operacional. Foi o maior acidente aéreo do país, que resultou na morte dos 154 ocupantes do vôo 1907.

Na próxima semana, a PF (Polícia Federal) deve ouvir, em local reservado, os controladores e supervisores que trabalhavam no dia do acidente, em Brasília. O delegado Renato Sayão, que investiga o caso pela PF, também quer ouvir controladores de São José dos Campos (91 km a nordeste), cidade de onde decolou o jato Legacy, também envolvido no acidente.

O delegado também quer ter acesso ao conteúdo das caixas-pretas dos dois aviões, o que já foi negado pela Aeronáutica. Ele pediu que a Justiça Federal determine que a Aeronáutica e o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos) fornecerem os dados sobre a investigação, mas o juiz Charles Renaud Frazão de Moraes decidiu que competência para avaliar o caso é do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Trabalho

Sobre as novas contratações, um dos participantes da reunião desta sexta demonstrou que a medida não atende aos que já estão no cargo. Outro participante, que também preferiu não ter o nome revelado, reclamou da carga horária, considerada elevada.

Colocados sob suspeita nas investigações da queda do avião da Gol, os controladores reclamaram do estresse a que são submetidos. Um deles lembrou um colega que sofreu infarto na última quinta-feira, enquanto trabalhava no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais (Grande Curitiba).

Os controladores trabalham ao menos 18 dias por mês com plantões de oito a nove horas. Cada controlador deveria trabalhar duas horas e descansar duas, o que, na prática, dificilmente ocorre, afirmam.

A pressão aumenta devido ao regime rígido imposto pela hierarquia militar e o medo de punições. O salário de um controlador é de R$ 1.600, em média, mais adicionais. Um deles, o alimentação, é de R$ 36 --o equivalente a R$ 3,60 por dez dias.

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