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17/11/2006 - 00h02

Relatório sobre acidente aéreo aponta falhas; parentes formalizam associação

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da Folha Online

Relatório preliminar divulgado nesta quinta-feira pela Aeronáutica confirma que o jato Legacy, da americana ExcelAire, teve problemas de comunicação com controladores de tráfego aéreo de Brasília antes de colidir com o Boeing que fazia o vôo 1907 da Gol --foram 19 tentativas, todas sem sucesso. A queda do Boeing causou a morte dos 154 ocupantes, no dia 29 de setembro último.

Apesar de confirmar as falhas de comunicação e a altura errada do Legacy no trecho da colisão, o relatório frustrou as expectativas sobre a identificação das causas do acidente. "No momento, qualquer conclusão será prematura", disse o presidente da comissão de investigação, coronel Rufino da Silva Ferreira, ao apresentar o relatório.

No mesmo dia da divulgação preliminar, parentes de vítimas anunciaram que, a partir da próxima segunda-feira (20), a Comissão de Familiares dos Passageiros do Vôo 1907 será legitimada, com registro em cartório.
Sergio Lima/Folha Imagem
Coronel Rufino apresenta relatório preliminar sobre acidente com Boeing da Gol
Coronel Rufino apresenta relatório preliminar sobre acidente com Boeing da Gol


A associação deverá ser presidida por Jorge André Fernandes Cavalcante e representada por outras oito pessoas, além de colaboradores nas regiões onde moravam vítimas do acidente. O objetivo, de acordo com os parentes, é reunir e organizar todos os familiares e amigos das vítimas, lutar pela defesa de todos os direitos e interesses dos envolvidos e auxiliar os familiares, obter todas as informações pertinentes sobre o acidente e exigir a apuração das causas que levaram à queda do avião da Gol.

"Além do respeito que exigimos das autoridades, neste caso considerado a maior tragédia aérea do país, queremos também transparência nas investigações e ter total acesso aos resultados", diz o grupo em nota.

Acidente e investigações

Após a colisão, o Legacy conseguiu pousar, apesar de danos na asa e nenhum dos sete ocupantes --seis deles americanos-- ficou ferido. De acordo com o relatório preliminar, a colisão aconteceu às 16h56m54s (horário de Brasília) do dia 29 de setembro.

A asa esquerda do jato teria colidido com a asa esquerda do Boeing. "O vôo 1907, após a colisão, ficou incontrolável aos pilotos, iniciando imediato mergulho até o solo", afirma a Aeronáutica. A queda teria durado aproximadamente um minuto.

Para o presidente da comissão de investigação da Aeronáutica, coronel Rufino da Silva Ferreira, o Boeing teria entrado em movimento rotacional (pirueta), e excedido "vários limites estruturais", o que fez com que ele se despedaçasse antes mesmo de tocar o solo.

Os gravadores de dados do Boeing tiveram o seu funcionamento interrompido 54 segundos depois da colisão, quando já estariam a 7.887 pés de altitude. Os destroços da aeronave teriam caído 6,2 quilômetros distantes do ponto onde houve o choque.

Contato

O relatório mostra que os pilotos do Boeing da Gol não tiveram problemas de comunicação. Já os pilotos do Legacy fizeram, das 16h48m16 às 16h52m59s, 12 tentativas de contato com o Centro Brasília.

As tentativas de contato haviam sido feitas para entender a orientação dos controladores de tráfego aéreo para que a aeronave chamasse o centro Amazônico fornecendo duas freqüências, que os pilotos do Legacy não teriam conseguido "copiar".

Os pilotos do Legacy fizeram outras sete chamadas --das 16h54m16s às 16h56m53s--, também sem sucesso.

Plano de vôo

O relatório também confirma que o Legacy estava em altitude errada no momento da colisão.

Segundo Ferreira, o plano de vôo do jato, que partiu de São José dos Campos (SP) com destino a Manaus, previa uma altitude de 37 mil pés (cerca de 12 km de altura) até Brasília, 36 mil pés entre Brasília e o ponto Teres, e 38 mil pés daí até Manaus.

Entretanto, o Legacy, que decolou às 14h51 (horário de Brasília), atingiu o nível de 37 mil pés às 15h33, e manteve essa altitude até o momento da colisão.

O Boeing da Gol decolou em Manaus às 15h35 (horário de Brasília), solicitou o nível de vôo de 37 mil pés, condição mantida a partir das 15h58, até a colisão.

O último contato bilateral do Legacy com o centro de Brasília ocorreu às 15h51. Quatro minutos depois, quando o jato executivo sobrevoou a vertical de Brasília, manteve o nível de vôo a 37 mil pés sem solicitar ou receber qualquer instrução do centro de controle, seguindo em direção a Manaus sem mudar de altitude, diferente do que previa o plano de vôo original.

Ferreira evitou atribuir a causa do acidente à mudança no plano de vôo do Legacy, que acabou seguindo na "contra-mão" para Manaus. Segundo ele, é preciso avaliar o ambiente e as informações disponíveis para os pilotos e os controladores naquela momento para saber que procedimentos podem não ter sido realizados, os que podem ter sido incompletos ou insuficientes.

"Buraco negro"

O centro de Brasília perdeu as informações do radar secundário (equipamento que apresenta com precisão a informação de altitude da aeronave ao controlador) com o Legacy às 16h02. Entretanto, até as 16h26, não houve qualquer tentativa de contato nem por parte do jato executivo nem pelo centro de controle.

A partir das 16h26, o centro de Brasília fez sete chamadas, sem obter resposta, sendo a última, às cegas (já que o centro de Brasília perdeu definitivamente o contato radar primário com o Legacy às 16h38m00s). Nessa última tentativa (16h53m39), o Legacy foi orientado a chamar o centro Amazônico. Nesse intervalo de tempo, houve ainda uma perda momentânea --por dois minutos-- do radar primário com o Legacy.

Ferreira admitiu que a dificuldade de comunicação no local de transição do controle do centro Brasília com o centro Amazônico será analisada profundamente. O presidente da comissão de investigação afirmou que os equipamentos que atuam na região serão analisados, assim como os relatos sobre eventuais falhas de comunicação na região, tratada como um "buraco
negro" de comunicação.

"Um "ponto cego" pode ser momentâneo ou não. Para isso, vamos analisar o alcance dos equipamentos para o controle naquela área", disse Ferreira, após explicar que a comunicação pode sofrer influências diversas, inclusive atmosféricas.

Com PATRÍCIA ZIMMERMANN, da Folha Online, em Brasília e LÍVIA MARRA, editora de Cotidiano da Folha Online

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