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21/11/2006 - 14h23

Comandante da Aeronáutica admite possível falha de controlador

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da Folha Online

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, admitiu nesta terça-feira, pela primeira vez, a possibilidade de falha por parte de um controlador de tráfego aéreo de Brasília que estava de plantão no dia 29 de setembro último, quando o Legacy da empresa americana de táxi aéreo ExcelAire e o Boeing da Gol colidiram. A queda do avião comercial causou a morte dos 154 ocupantes.

Bueno participou de uma audiência pública no Senado para discutir a crise no tráfego aéreo. O comandante frisou que sua declaração não tem como base as investigações, ainda em curso. De acordo com ele, há possibilidade de o radar ter mantido os dados do plano de vôo do Legacy depois que o jato perdeu contato com o Cindacta 1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) e deixou de transmitir os dados.

Com isso, o radar teria indicado que o Legacy estava a 36 mil pés de altitude, quando, na verdade, voava a 37 mil pés (11,2 km), mesma altitude do Boeing. Para Bueno, o fato pode ter levado o controlador a um erro. "Era uma informação falsa, mas que ele não acreditava que fosse falsa", disse.

Conforme o plano de vôo, o jato, que partiu de São José dos Campos (SP) com destino a Manaus, deveria ter baixado para 36 mil pés em Brasília e, pouco antes do choque, subido para 38 mil pés, altitude que deveria ter sido mantida até Manaus.

Atrasos

Bueno também afirmou aos senadores que a crise nos aeroportos estará controlada até o final do ano. Segundo ele, os passageiros não terão problemas nos feriados do Natal e de Ano Novo e nas viagens de férias.
Sergio Lima/Folha Imagem
Audiência pública no Senado discute a crise que atinge o tráfego aéreo brasileiro
Audiência pública no Senado discute a crise que atinge o tráfego aéreo brasileiro


Ele admitiu, ainda, que a Aeronáutica falhou ao não organizar uma reserva técnica de controladores para eventuais substituições. O controle de tráfego aéreo em Brasília está desfalcado desde o afastamento de dez profissionais após a queda do Boeing da Gol. Outros pediram dispensas por motivos de saúde.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, que também participa da audiência, reiterou que "todo o esforço e empenho do governo" é para que a situação nos aeroportos esteja normalizada em dezembro. Na última semana, Pires disse que apenas em 60 dias o problema estaria resolvido.

Uma das medidas que pode ser tomada para normalizar o setor, segundo o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, também presente na audiência, é a reorganização do mapa de vôos do país para acabar com o horário de pico.

Outra possibilidade é a Anac estabelecer horários fixos para os vôos charters, a exemplo do que ocorreu com os aviões particulares. Com relação aos controladores de tráfego aéreo, o comandante da Aeronáutica disse que a equipe será reforçada até o final do ano. No dia 24 de novembro, 54 novos profissionais irão se formar para atuar na área.

Contingenciamento

O presidente da Anac fez críticas a falta de recursos para o setor aéreo que, segundo ele, opera no limite por falta de investimentos. Ele observou que nos últimos anos a aviação cresceu 26% enquanto que a economia apenas 3%. Waldir Pires rechaçou as críticas. "Não houve contingenciamento de forma significativa que tenha tumultuado o sistema de tráfego aéreo", disse.

Conforme o ministro, nos últimos quatro anos foram destinados para o setor R$ 1,84 bilhão, dos quais R$ 77 milhões foram contingenciados. "Isso [apagão aéreo] não ocorreu só no Brasil, mas em outros países ditos como muito importantes e desenvolvidos. Estamos providenciando todos os meios para que tenhamos uma solução rápida", afirmou.

Waldir Pires disse que a população não pode ficar refém de grupos, ao ser questionado sobre o fato de os controladores de tráfego aéreo terem o poder de paralisar os vôos. "Num estado democrático ninguém pode ser refém de nada", disse.

Audiência pública e crise

A audiência pública foi promovida pelas Comissões de Serviços de Infra-estrutura, Relações Exteriores e Defesa Nacional e Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle.

Os trabalhos começaram por volta das 10h30, com as explicações do ministro da Defesa, Waldir Pires. Também participaram, além do comandante da Aeronáutica, e do presidente da Anac, o presidente da Infraero (estatal que administra os aeroportos), brigadeiro José Carlos Pereira. Os presidentes do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, e do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias, Marco Antonio Bologna, também foram convidados.

A crise nos aeroportos começou em outubro, após a queda do Boeing da Gol. Inicialmente, os atrasos foram causados pela chamada operação-padrão dos controladores de tráfego aéreo, que, de forma isolada, decidiram aumentar o espaçamento entre as decolagens. O objetivo seria garantir a segurança dos vôos.

O resultado do movimento foi uma seqüência de atrasos e cancelamentos de vôos. O setor entrou em colapso na madrugada do último dia 2, feriado de Finados. Na ocasião, o comando da Aeronáutica convocou controladores para o trabalho, como medida emergencial.

O aquartelamento voltou a ocorrer no último dia 14, véspera do feriado da Proclamação da República, quando atrasos eram registrados nos principais aeroportos do país. Na ocasião, os problemas seriam resultado da falta de controladores no Cindacta 1, em Brasília.

Entre o último domingo e a segunda-feira (20), os passageiros voltaram a enfrentar transtornos. Os problemas, desta vez, foram atribuídos pela Aeronáutica à chuva e ao efeito bola-de-neve causado pelo rompimento de um cabo de fibra ótica do Cindacta 2 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo) --que coordena o tráfego na região Sul. A falha afetou a transmissão de dados necessária para o controle do tráfego aéreo e prejudica vôos nacionais e internacionais, inclusive aqueles que passam pela região Sul sem pousar na região.

Colaboraram ANDREZA MATAIS, da Folha Online, em Brasília e LÍVIA MARRA, editora de Cotidiano da Folha Online

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