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07/01/2007 - 10h26

"Roubo assusta mais que crime organizado", diz secretário

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GILMAR PENTEADO
da Folha de S.Paulo

Há seis dias no cargo de secretário da Segurança Pública de São Paulo, o advogado, ex-PM e ex-promotor Ronaldo Augusto Marzagão, 58, vai na contramão de especialistas e diz que crimes de roubo e furto causam maior impacto no sentimento de insegurança da população que as ações do crime organizado, como o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Segundo ele, o roubo (uso de violência ou ameaça) e o furto são hoje os principais problemas de segurança de São Paulo. Os crimes preocupam porque, segundo estatísticas, persistem em grande número, apesar de pequena tendência de queda.

Marzagão cita sua experiência para reforçar a tese. Há cerca de 20 anos, foi alvo de roubo. O ladrão usava uma chave de fenda. "Apesar de durar alguns minutos, foi traumatizante."

Ao contrário de seu antecessor, Saulo de Castro Abreu Filho, Marzagão evita polêmicas e não quis comentar se houve erro da polícia, que não conseguiu se antecipar às ações do PCC. Mas admite que os atentados serviram de lição e afirma que uma nova onda de violência seria "muito mais difícil" de ocorrer.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida em seu gabinete, no centro de São Paulo.

FOLHA - Qual o principal problema de segurança de São Paulo?

RONALDO AUGUSTO MARZAGÃO - Eu aponto o roubo e o furto. Porque é o que me dão as estatísticas. Embora venham caindo, não chegaram aos níveis dos demais delitos. Não se conseguiu ter os mesmos resultados.

FOLHA - E o que pode ser feito?

MARZAGÃO - Por exemplo, incrementar o policiamento de motocicleta, que tem maior mobilidade. Os engarrafamentos de São Paulo são conhecidos. E, no meio de um engarrafamento, você fica um refém fácil. E há uma segunda questão. São crimes comuns, são os mais praticados e são os que mais inquietam a população. Não que a criminalidade organizada não deve ser [combatida], claro. É também prioridade. Mas não é a única prioridade nossa.

FOLHA - Por que o policiamento ostensivo não surgiu o efeito desejado sobre o roubo e o furto?

MARZAGÃO - Está surtindo efeito, só que não está caindo nos mesmos níveis.

FOLHA - Mas não é o desejado.

MARZAGÃO - Porque o furto e o roubo são crimes que podem ser praticados por uma única pessoa. O sr. pega um sujeito que resolva roubar, no mesmo dia, em um congestionamento, ele pode roubar quatro, cinco, seis, oito pessoas. Pega um carro aqui, um carro ali, um carro acolá. Furto não é um crime difícil de ser praticado hoje.

FOLHA - E esses crimes influem mais no sentimento de insegurança da população do que as ações do crime organizado?

MARZAGÃO - Influi. Em termos de sentimento de insegurança, são os crimes comuns que causam o maior abalo. Até porque nos acontecimentos de maio [referindo-se à primeiro onda de atentados] houve prejuízo, houve. Mas quem foram as grandes vítimas? Policiais.

FOLHA - Ter uma arma apontada para você é muito mais impactante do que saber dos atentados?

MARZAGÃO - Exatamente. Esse contato direto produz uma sensação de insegurança muito maior do que a possibilidade de haver uma ação indireta de um grupo criminoso. E não diria só o furto e o roubo. O crime comum afeta o cidadão muito mais do que a estrutura da criminalidade organizada.

FOLHA - O sr. já foi vítima de algum roubo?

MARZAGÃO - Muitos anos atrás, eu senti uma sensação [de insegurança] muito grande. Eu posso avaliar o que é. Porque a pessoa me abordou com uma chave de fenda.

FOLHA - Quanto tempo faz isso?

MARZAGÃO - Faz uns 20 anos. Eu estava em um orelhão. Foi uma chave de fenda, mas é uma arma que equivale a uma arma branca.

FOLHA - E isso marcou o sr.?

MARZAGÃO - Marca e marca muito. Não fui ferido. Foi rápido, mas foi traumatizante.

FOLHA - Foi o único roubo que o sr. sofreu?

MARZAGÃO - Pessoalmente, sim. Mas tive familiares. E foi muito traumatizante também. Para a população, isso é muito mais impactante. Não preciso ser médico para saber que o indivíduo está resfriado. Não precisa ser policial da ativa para saber ou sentir, pelo menos, quais são os crimes que mais causam impacto na população. Até porque tive uma experiência e minha esposa também.

FOLHA - Também foi roubo?

MARZAGÃO - Foi roubo. O dela foi mais grave porque foi arma de fogo. Faz uns quatros anos. Mas, felizmente, só levaram carro, bolsa. Qualquer experiência nesse sentido é altamente traumatizante. A população, em geral, sente isso na criminalidade comum.

FOLHA - E que sentimento é esse?

MARZAGÃO - São vários. O primeiro é de medo, o segundo de impotência, o terceiro de humilhação e o quarto é de raiva. Foram poucos minutos, mas foi uma experiência que eu não gostaria de passar de novo.

FOLHA - Mas, em relação ao crime organizado, a polícia não conseguiu se antecipar aos atentados do PCC...

MARZAGÃO - Em maio [período da primeira onda de violência], a realidade era outra.

FOLHA - E hoje tem condições de se antecipar?

MARZAGÃO - Hoje nós temos. Maio serviu de lição.

FOLHA - O sr. acha que uma nova onda de violência não acontecerá?

MARZAGÃO - Prever o futuro é muito difícil. Eu sou secretário, mas não cheguei à condição de profeta. Mas acho que hoje está muito mais difícil.

FOLHA - No que a polícia falhou naquela época?

MARZAGÃO - Naquela época, eu era um advogado. Estava no meu escritório e não acompanhei, senão pelos jornais, o que aconteceu.

FOLHA - Mas e a sua opinião de cidadão?

MARZAGÃO - Eu analiso que foi um movimento de surpresa, vitimou um número muito grande de policiais e que terminou sendo contido pela polícia de modo satisfatório, apesar de todos os danos.

FOLHA - E o que é o PCC para o sr.?

MARZAGÃO - Uma organização criminosa, nada mais.

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