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19/01/2007 - 10h22

Caixão de luxo do operário não cabia no jazigo

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LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo

Morto sob 38 metros de terra no desabamento da estação Pinheiros do metrô, o motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, 47, transportava 30 mil kg de terra todos os dias no caminhão Mercedes-Benz 2638 que pilotava a serviço do Consórcio Via Amarela. Ele teve de enfrentar a terra de novo na hora do enterro.

Velório realizado em sua casa, na rua Santa Terezinha, Vila Guilherme, em Francisco Morato, Grande São Paulo, o féretro estava marcado para sair ontem às 9h em direção ao cemitério da Alegria. Não deu.

Nessa hora, sob chuva, a rua de terra era lama intransitável. O carro da funerária desistiu. Cerca de 20 operários do consórcio, que foram ao enterro, ofereceram-se para carregar o caixão nas costas --ladeira acima, 200 metros até o asfalto.

Câmeras de TVs ao vivo, a prefeita Andréa Pelizari (PSDB) mandou um trator jogar brita para estabilizar o terreno. O carro funerário conseguiu sair às 11h, sob aplausos de colegas, vizinhos e familiares.

No cemitério, outro problema: os jazigos foram construídos na medida padrão das urnas mortuárias populares. O caixão do motorista Torres era especial, de luxo, pago pelo Consórcio Via Amarela. Resultado: não cabia no retângulo concretado. Demorou. A solução foi enfiá-lo de lado.

O secretário estadual de Justiça, Luiz Antonio Marrey, que fora levar conforto aos familiares, não esperou. O corpo ainda estava encalacrado e o helicóptero da PM com Marrey a bordo sobrevoou o campo santo, voltando para São Paulo.

Pai de três filhos (Kelly, 19, Adilson, 16, e Danilo, 15), marido de Maria Sinhazinha Torres, o motorista era líder comunitário. Passou os últimos 20 anos, tempo de moradia em Francisco Morato, lutando por asfalto. Não deu tempo. Francisco Morato, 200 mil habitantes, só uma indústria instalada, é cidade-dormitório dona dos piores indicadores sociais do Estado. De 1.500 ruas, apenas 400 são pavimentadas. O resto é terra.

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