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19/01/2007 - 10h32

Consórcio fez explosão 7 h antes de acidente

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ROGÉRIO GENTILE
editor de Cotidiano da Folha de S.Paulo
ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

O Consórcio Via Amarela, responsável pela construção da linha 4 do Metrô de São Paulo, fez uma detonação na obra da futura estação Pinheiros às 8h20 da última sexta-feira. A explosão foi realizada menos de sete horas antes do acidente que abriu uma cratera ao lado da marginal Pinheiros --cinco corpos já foram encontrados-- e um dia depois da constatação de um rebaixamento acelerado do terreno.

O consórcio confirma que houve a detonação. Dois engenheiros das construtoras, que só aceitaram falar à Folha sob o compromisso de não terem seus nomes revelados, alegam que a explosão foi "controlada", de "pequena intensidade" e a 10 metros do trecho do túnel da estação destruído no acidente --distância que não consideram pequena. O procedimento do consórcio de fazer a detonação mesmo após a aceleração do rebaixamento do terreno vem sendo questionado por técnicos do governo José Serra (PSDB) --para quem as explosões, mesmo que não sejam a causa principal, podem ter alguma contribuição para a tragédia.

Os engenheiros do consórcio dizem que a detonação foi feita para ajudar no processo de nivelamento do piso da estação e que esse tipo de ação não foi suspensa, apesar do recalque constatado no dia anterior, porque as medições no rebaixamento da terra não estavam acima do patamar de alerta. Para os dois, portanto, a medida não interferiu no acidente. Dois especialistas consultados pela Folha dizem, porém, que toda explosão, ainda que controlada, leva a vibrações que podem acelerar uma movimentação de terra ou rocha.

Mas eles afirmam que a relação da detonação como um fator contribuinte para a abertura da cratera depende da forma como ela foi feita, sua intensidade e até que ponto a obra estava em condições normais. "Toda detonação resulta numa vibração, que pode soltar partes do solo. Mas não dá para dizer se ela foi correta ou não sem ter certeza de que os recalques estavam dentro do previsto no projeto e de que todos os cálculos estavam corretos", afirma Paulo Helene, professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e presidente do Instituto Brasileiro do Concreto.

"Se os recalques estão acima do nível de alerta, não se faz uma detonação. Mas se estão dentro do previsto, não há razão para mudar qualquer procedimento desse tipo", afirma Roberto Kochen, diretor do Instituto de Engenharia e que já prestou serviços na linha 4. Os dois engenheiros do consórcio afirmam que não havia indícios para nenhuma atenção diferenciada até a manhã de quinta-feira --quando as medições apontaram para um rebaixamento do terreno próximo de 25 milímetros.

O recalque é comum em obras do tipo, mas estava em patamar superior ao dos dias anteriores. Apesar disso, na versão dos técnicos do consórcio, não a ponto de provocar uma situação de alerta.

Eles chegam a comparar a condição com os 75 milímetros de rebaixamento identificados no ano passado na frente de obras da linha 4 na rua João Elias Saada, quando houve a desocupação de oito casas, mas nada desabou, apesar do nível de recalque bem superior.

Reunião

Na véspera do acidente, pela manhã, o engenheiro de plantão reuniu-se com a equipe do assistente técnico da obra para avaliar a gravidade da aceleração do rebaixamento do solo, que acabara de ser verificada. Nesta reunião, eles decidiram interromper as escavações e iniciar um procedimento de contenção do recalque, com uso de concreto e tirantes (barras de sustentação) no túnel. No dia seguinte, considerando que a situação estava sob controle, fizeram a detonação para nivelamento do piso.

Os técnicos do consórcio alegam que ninguém tinha idéia do risco de acidente, tanto que engenheiros e outros profissionais estiveram no túnel mesmo após a explosão --não se arriscariam a ficar ali se acreditassem haver problema grave. Tarcísio Barreto Celestino, engenheiro e presidente da Comitê Brasileiro de Túneis, funcionário da Themag e projetista da estação Butantã da linha 4, diz que "danos causados pelos explosivos no entorno da área que está sendo detonada são desprezíveis".

André Assis, professor titular de geotecnia da UnB e ex-presidente da Associação Internacional de Túneis, diz não conhecer "nenhum acidente em túneis provocado por explosivos". "Essa tecnologia é dominada há muito tempo."

Colaborou MARIO CESAR CARVALHO, da Reportagem Local

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