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19/04/2007 - 18h46

Confira íntegra do bate-papo com Marta Salomon sobre a propaganda de bebida

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da Folha Online

A jornalista Marta Salomon conversou nesta quinta-feira com os internautas sobre a nova regulamentação da Anvisa que deve restringir a propaganda de bebidas alcoólicas. Confira a íntegra do bate-papo abaixo. O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

(05:13:52) marta: Boa tarde


(05:14:11) p@blo: olá marta, boa tarde


(05:16:30) p@blo: o que vc acha da bebida alcoólica no Brasil? vc acha que se as propagandas de bebida fossem proibidas isso iria mudar alguma coisa em nosso país?


(05:18:26) marta: Há estudos que orientam a posição da Anvisa. Falam do aumento do consumo de bebidas entre jovens, acompanhado do aumento da dependência ao álcool. Há também estudos sobre a associação entre o consumo de álcool e acidentes de trânsito com vítimas. Isso justifica a ação do Ministério da Saúde e da Anvisa.


(05:19:17) marta: Acho sim que pode mudar alguma coisa no perfil do consumo. Tanto que há muita reação da indústria contra a regra em estudo na Anvisa.


(05:15:09) jefferson: Marta, essa restrição à propaganda de cerveja é igual à restrição ao cigarro?


(05:16:19) marta: A restrição à propaganda de bebidas alcóolicas ainda vai ser votada na Anvisa. Uma lei de 1996 já impunha restrição à propaganda de cigarros. A mesma lei entendeu que cerveja não era bebida alcólica.


(05:18:29) amarilis!: oi marta, tudo bem? queria saber como a Anvisa pretende fazre essa regulamentação?


(05:21:03) marta: Amarilis, a Anvisa submeteu uma primeira proposta de regulamentação da propaganda de bebida à consulta pública há um ano e cinco meses. Depois houve uma audiência pública. E, desde dezembro, há uma consolidação do resultado. Agora falta votar a regulamentação na direção da agência, o que deve acontecer nas próximas semanas. Você quer detalhes do texto, é isso?


(05:21:05) amarilis!: vc acha que essa regulamentação pode fazer com que jovens diminuam o consumo de alcool?


(05:22:36) marta: Um dos principais argumentos favoráveis à regulamentação é a exposição de jovens à propaganda. Atualmente, a propaganda de bebidas até 13 graus está liberada em qualquer horário.


(05:23:32) marta: A intenção é justamente essa, Amarilis, reduzir o consumo de álcool. A restrição à propaganda é apenas um primeiro passo, adianta o Ministério da Saúde. Há outras medidas em estudo, como a proibição de venda de bebidas alcóolicas ao longo das rodovias federais.


(05:22:43) Fred: Vc não acredita que é mais importante ter campanhas para conscientizar o 'beber e não dirigir'?


(05:24:27) marta: Fred, campanhas de alertas são importantes. Mas, na avaliação do ministério, não bastam diante do problema.


(05:23:34) p@blo: eu já acho que não, pq foi posta uma lei anteriormente que era proibida a venda de bebida alcoólica a menores, o que foi um fracasso e ninguém obedece, já quanto a propaganda a pessoa não necessita de uma propaganda para ir até um bar e beber. hoje em dia na sua opinião, quem são os verdadeiros culpados pelo aumento dos alcoólatras no Brasil?


(05:26:21) marta: Pablo, o fato de a legislação não ser cumprida é um outro problema. Os defensores do controle à propaganda acreditam que ela estimula o consumo.


(05:27:05) eduk: marta, em alguns paises europeus essa questão da propaganda de bebidas é levada muito a serio. As regras são durissimas, porque todos sabem a consequencia do consumo do álcool. Voce acha que, neste sentido, essa legislação é um avanço para a nossa sociedade? No modo como cuidamos de como regulamentamos a propaganda de produtos nocivos ao nossos jovens e criança?


(05:28:48) marta: Eduk, acredito que sim, é um avanço. Acho inexplicável a lei que trata de propaganda não considerar cerveja bebida alcóolica. A regulação da Anvisa provavelmente não mudará o quadro de uma hora para outra, mas será um avanço.


(05:28:54) pedro: marta, sinceramente não acredito que essa regulamentação possa surtir efeito. De que adianta tudo isso, se em casa os pais molham a chupeta da criança na cerveja só pra naõ deixar o bebe com vontade?


(05:30:47) marta: Pedro, as restrições à propaganda de cigarro deram resultado. Pode acontecer o mesmo com bebida alcóolica. São padrões de comportamento, que demoram algum tempo para dar resultado.


(05:30:55) vava: vc fala em proibição de venda em estrada. pego a Fernão Dias todos os finais de semana e há venda de cerveja em vérios postos, inclusive com propaganda.


(05:33:26) marta: Há legislações estaduais que proíbem a venda de bebida alcóolica nas estradas. O Ministério da Saúde estuda o envio de um projeto de lei ao Congresso para proibir a venda nas estradas federais. Cumprir ou não a proibição é um outro problema. Inclusive há um estudo em que a indústria supostamente apoiaria a medida, como contribuição para não ver o consumo crescente associado a acidentes com vítimas. Tenho cópia aqui.


(05:34:17) marta: A discussão no governo vem de alguns anos, VAVA, mas não vi nenhuma proposta de restrição a bebidas em ambientes públicos.


(05:31:31) marta: Você já não ouviu alguém falar que é 'forte' para bebida? Como se conseguir beber muito fosse um mérito?


(05:31:33) Vinc_Ss: Nos Estados Unidos há uma grande restrição ao consumo de bebidas alcólicas em ambientes públicos. Isso pode ocorrer também no Brasil pelo menos a longo prazo ?


(05:33:44) p@blo: eu acho assim que deveria ser imposta uma lei onde fosse totalmente proibido a venda e o consumo do alcool...acho que daria certo, o que vc acha?


(05:36:07) marta: Como assim, Pablo? Quando muito, a legislação pode tentar controlar a propaganda ou impôr restrições a consumo por menores de idade ou em estradas. A intenção nunca foi fazer uma política meramente proibicionista ou contra o consumo do álcool em qualquer situação.


(05:36:14) Nena: Marta, profissionalmente convivi com famílias às voltas com problemas com o álcool. O pedro tem razão, especialmente quando as criañças são meninos, há estímulo desde cedo, como molhar a chupeta, servir cerveja ou outra bebida, como a demonstrar e confirmar 'a masculinidade' da criança. E, outra coisa que me preocupa são as áreas de convivência em postos de gasolina, onde a bebida alcoólica serve de combustível para a diversão da moçada. Não é tudo meio ilógico?


(05:38:31) marta: Nena, a proibição da venda ao longo das rodovias ou em postos de gasolina segue o mesmo princípio: tentar reduzir o número de acidentes de trânsito associados ao consumo de álcool. Uma das frases de alerta que a regra da Anvisa pode mandar veicular com a propaganda fala que mais da metade dos acidentes estaria associado ao consumo excessivo de álcool.


(05:39:50) eduk: O alcoolismo destroi familias inteiras. Então toda ação no sentido de combater esse vicio é altamente louvável. Um dos grande cinismos da nossa propaganda é a frase 'aprecie com moderação'. Desde quando, quem bebe tem a vontade de moderar? Se bebe é porque quer perder a razão. Pensando assim, a lei tem que ser bastante dura mesmo para coibir essas 'malandragens'. Como a lei prevê isso? Tem brejas nela que a industria pode se aproveitar?


(05:43:48) marta: Eduk, o seu raciocínio é o mesmo de autoridades na área de saúde. Acham que as frases veiculadas por recomendação do conselho de auto-regulamentação publicitária não bastam para conter o consumo crescente, sobretudo entre jovens. O texto da Anvisa pretende alcançar uma mudança no padrão de consumo. A indústria de cerveja é um negócio lucrativo, que fatura R$ 20 bilhões por ano. Alguns representantes dessa indústria já disseram que vão à Justiça contra as regras da Anvisa. Ou seja, vai haver uma queda de braços, com certeza.


(05:43:58) estudante: qual o impacto imediato dessa nova proposta ?


(05:47:14) marta: Isso também responde ao ESTUDANTE. Depois do período de adaptação, os anúncios ficariam proibidos na televisão e no rádio entre as 8 da manhã e as 8 da noite. Fora desse horário, teriam de circular com alertas do Ministério da Saúde, que associam o consumo de álcool a acidentes de trânsito, má-formação de bebês e até ao abuso sexual e episódios de violência. Para muita gente, que não vê mal no consumo de bebida alcóolica, deve ser um choque.


(05:44:40) marta: Ainda o Eduk: a regulamentação da Anvisa prevê que as novas regras só entrariam em vigor depois de um período de 180 dias. OU seja, haverá seis meses de prazo de adaptação tanto para a indústria como para os publicitários.


(05:44:46) vava: vc não acha importante colocar imagens que choquem em uma campanha, para que as pessoas percebam a importância de consumir moderadamente e quando possível?


(05:50:21) marta: Vavá, a Anvisa quer evitar que a propaganda de bebidas associem o consumo de álcool ao sucesso, por exemplo, mas não fala em campanhas educativas bancadas pela indústria. Essa seria uma tarefa para o próprio ministério e até já houve uma campanha assim, de alerta às conseqüências do consumo de bebidas.


(05:47:41) estudante: nossos filhos vão observar que as propagandas do álcool na televisão sumiram, quando nos perguntarem o que devemos falar ?


(05:51:41) marta: Não imagino meus filhos perguntando sobre o sumiço da propaganda de cerveja. Mas, se os seus perguntarem, estudante, você poderá aproveitar a oportunidades e explicar os motivos do controle.


(05:50:27) Nena: Marta, creio ser vital também desmistificar a bebida, como fizeram com o cigarro. Na minha juventude era 'charmoso' fumar, estímulando a juventude daquela época. Hoje, vejo que os estímulos à bebida alcóolica têm a mesma função dos filmes de Holywood e seus ídolos fumando 'elegantemente' Beber é ser feliz, ter muitas gatas, acabar com a sede(engraçado cadê a água), enfim há tantas mensagens subliminares que a moçada, nem sequer se dá conta. Como nós, em outra época com o cigarro.


(05:54:28) marta: Perfeito, Nena. Acho que essa é uma das intenções da equipe do Ministério da Saúde e da Anvisa. A regulamentação quer evitar que o consumo de bebida seja associado a situações de sucesso. Mas, repito, é uma mudança de padrão cultural. Beber é algo que deve ser feito com cuidado. Até a indústria reconhece que o consumo excessivo ou impróprio causa danos a saúde.


(05:51:45) fernando: Oi Marta, estou chegando agora, e acho difícil segurar as propagandas de bebidas alcólicas, devido a força da indústria e o volume de dinheiro que gera para as agências. O que acho um absurdo é o CADE deixar propaganda como a última da Brahma trocando a quarta-feria pela z-feira. ou suaj estão estimulando beber durante a semana, que devería ser preocupação de trabalho. Não acha?


(05:57:17) marta: Fernando, você tem razão. A indústria e representantes do mercado publicitário se opõem a qualquer tipo de controle da publicidade de bebidas. É um negócio bilionário: a indústria faturou R$ 20 bilhões no ano passado. Os investimentos em publicidade do setor passaram de R$ 700 milhões também no ano passado. Mas acho que é preciso negociar. Deverá haver um meio termo que preserve as atividades de um setor econômico importante sem deixar para segundo plano questões de saúde pública.


(05:54:34) Lua: Marta,o q acha de um pai q induz seu filho a beber?


(05:59:47) marta: Lua, acho que os filhos (mesmo os adolescentes mais encrespados) tendem a observar muito o que fazem os pais. Vejo gerações seguirem um mesmo padrão de comportamento em relação a bebida.


(05:59:26) Tom: Quando a sociedade começa a atribuir aos outros a sua responsabilidade é muito complicado. Se no grupo familiar as pessoas não beberem não há publicidade no mundo que faça a pessoa beber... você não acha?


(06:01:56) marta: Pois é, Tom. A família é muito importante. Mas há uma responsabilidade própria dos agentes públicos. A regulamentação da propaganda é uma dessas questões de política pública. Não é por outro motivo que a Anvisa, como agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, tem de levar em conta o impacto do consumo de bebidas alcóolicas na saúde pública. E não os interesses específicos da indústria.


(06:04:00) Adriana/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Marta Salomon e de todos os internautas. Até o próximo!

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