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08/05/2007
-
07h54
MATHEUS PICHONELLI
da Agência Folha
Caiu pelo segundo ano consecutivo o número de doadores de órgãos no Brasil. Dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) obtidos pela Folha revelam que apenas seis a cada um milhão de pessoas doaram órgãos no país no ano de 2006.
Em 2005, o índice nacional era de 6,3 doadores por milhão de pessoas, segundo a entidade. No ano anterior, foi de 7,2.
Para especialistas, fatores culturais e até religiosos ainda criam resistência à doação.
Os dados mostram que foi interrompida uma curva ascendente desde 1997, quando foi criado o SNT (Sistema Nacional de Transplantes). Órgão do Ministério da Saúde, o SNT regularizou o processo de captação e distribuição de órgãos e passou a nortear as politicas públicas de transplantes. Na ocasião, havia só 2,7 doadores por milhão de habitantes.
O índice de 2006 frustrou a expectativa de especialistas. O objetivo, segundo Valter Duro Garcia, responsável pelo Registro Brasileiro de Transplantes, da ABTO, era que o país chegasse, até 2015, perto de taxas registradas no Canadá e nos EUA, onde os índices são de 14 e de 23 doadores, respectivamente, por milhão de habitantes. Na Espanha, a taxa é de 35.
No Brasil, cerca de 65 mil pessoas ainda aguardam por órgãos ou tecidos para transplante. Foram transplantados no ano passado 4.668 órgãos.
"Estamos preocupados. Estimamos que hoje, no Brasil, dos 60 pacientes que têm morte encefálica, apenas 30 são identificados. Desses, seis se tornam doadores", diz Garcia.
Segundo ele, na maioria dos casos, as famílias resistem a autorizar a doação ou não têm condições de providenciar a documentação da morte encefálica e os exames necessários.
No Brasil, ainda que a pessoa se identifique como doadora, a captação do órgão só acontece se o hospital tiver o aval da família.
Os Estados brasileiros vivem um contraste em relação a doações. Enquanto Santa Catarina, o melhor do índice, consegue 12,8 doadores a cada milhão de habitantes, no Maranhão, o índice foi de 0,2 --só uma doação foi efetivada.
Potenciais doadores são pessoas que fizeram diagnóstico de morte encefálica e cujos casos foram notificados para centrais estaduais de transplantes.
São Paulo tem o terceiro melhor índice de doadores do país, atrás de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (12).
Herança cultural
Para a assistente em administração do Centro de Notificação, Captação e Distribuições de Órgãos no Maranhão, Renata Rocha, o principal entrave para o trabalho na região ainda é a questão cultural.
"Não temos tantos recursos para fazer campanhas de conscientização. Não faz muito tempo, uma senhora se negou a autorizar a doação dizendo que não queria que o parente fosse incompleto para o céu."
Em Sergipe, a família proibiu a retirada dos órgãos em 51,4% dos casos, no Piauí, em 45,1% e, no Maranhão, em 42,3%.
Em seis estados, houve registros de doações não autorizadas porque a infra-estrutura do hospital foi considerada inadequada --Goiás, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
A presidente da ABTO, a nefrologista Maria Cristina Ribeiro de Castro, diz que contribui para esse quadro o precário funcionamento das comissões intra-hospitalares de doação e transplante, obrigatórias em hospitais com mais de 80 leitos.
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da Agência Folha
Caiu pelo segundo ano consecutivo o número de doadores de órgãos no Brasil. Dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) obtidos pela Folha revelam que apenas seis a cada um milhão de pessoas doaram órgãos no país no ano de 2006.
Em 2005, o índice nacional era de 6,3 doadores por milhão de pessoas, segundo a entidade. No ano anterior, foi de 7,2.
Para especialistas, fatores culturais e até religiosos ainda criam resistência à doação.
Os dados mostram que foi interrompida uma curva ascendente desde 1997, quando foi criado o SNT (Sistema Nacional de Transplantes). Órgão do Ministério da Saúde, o SNT regularizou o processo de captação e distribuição de órgãos e passou a nortear as politicas públicas de transplantes. Na ocasião, havia só 2,7 doadores por milhão de habitantes.
O índice de 2006 frustrou a expectativa de especialistas. O objetivo, segundo Valter Duro Garcia, responsável pelo Registro Brasileiro de Transplantes, da ABTO, era que o país chegasse, até 2015, perto de taxas registradas no Canadá e nos EUA, onde os índices são de 14 e de 23 doadores, respectivamente, por milhão de habitantes. Na Espanha, a taxa é de 35.
No Brasil, cerca de 65 mil pessoas ainda aguardam por órgãos ou tecidos para transplante. Foram transplantados no ano passado 4.668 órgãos.
"Estamos preocupados. Estimamos que hoje, no Brasil, dos 60 pacientes que têm morte encefálica, apenas 30 são identificados. Desses, seis se tornam doadores", diz Garcia.
Segundo ele, na maioria dos casos, as famílias resistem a autorizar a doação ou não têm condições de providenciar a documentação da morte encefálica e os exames necessários.
No Brasil, ainda que a pessoa se identifique como doadora, a captação do órgão só acontece se o hospital tiver o aval da família.
Os Estados brasileiros vivem um contraste em relação a doações. Enquanto Santa Catarina, o melhor do índice, consegue 12,8 doadores a cada milhão de habitantes, no Maranhão, o índice foi de 0,2 --só uma doação foi efetivada.
Potenciais doadores são pessoas que fizeram diagnóstico de morte encefálica e cujos casos foram notificados para centrais estaduais de transplantes.
São Paulo tem o terceiro melhor índice de doadores do país, atrás de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (12).
Herança cultural
Para a assistente em administração do Centro de Notificação, Captação e Distribuições de Órgãos no Maranhão, Renata Rocha, o principal entrave para o trabalho na região ainda é a questão cultural.
"Não temos tantos recursos para fazer campanhas de conscientização. Não faz muito tempo, uma senhora se negou a autorizar a doação dizendo que não queria que o parente fosse incompleto para o céu."
Em Sergipe, a família proibiu a retirada dos órgãos em 51,4% dos casos, no Piauí, em 45,1% e, no Maranhão, em 42,3%.
Em seis estados, houve registros de doações não autorizadas porque a infra-estrutura do hospital foi considerada inadequada --Goiás, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul.
A presidente da ABTO, a nefrologista Maria Cristina Ribeiro de Castro, diz que contribui para esse quadro o precário funcionamento das comissões intra-hospitalares de doação e transplante, obrigatórias em hospitais com mais de 80 leitos.
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