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03/11/2000 - 04h00

"Mateus mantém contato com a realidade", diz psiquiatra

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da Folha de S>Paulo

Cássio Pitta, o médico de Mateus da Costa Meira, é mestre em psiquiatria e tem formação em psicanálise. Veja os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha na última quarta-feira, em seu consultório.

Folha - Mateus é um psicótico?
Cássio Pitta - No presente momento, não. Ele teve um quadro psicótico em determinado momento, induzido por uma determinada circunstância, mas, no presente momento, não. Eu diria que ele teve um quadro psicótico agudo, mas, do dia 5 de novembro de 1999 até hoje, ele não apresentou uma sintomatologia de natureza psicótica.

Folha - O que é uma sintomatologia psicótica?
Pitta -
Predominantemente, alucinação, que é uma alteração da senso-percepção, alteração do pensamento, como delírios, e desorganização da forma do pensamento.

Folha - Ele mantém o contato com a realidade?
Pitta -
Ele mantém o contato com a realidade, embora ele seja uma pessoa com certo distanciamento afetivo.

Folha - Ele não deve ser considerado um esquizofrênico?
Pitta -
Do meu ponto de vista, não.

Folha - Ele é portador de um transtorno mental?
Pitta -
Do meu ponto de vista, sim.

Folha - Qual a diferença entre um transtorno mental e uma psicose?
Pitta -
A psicose está incluída no transtorno mental. Transtorno mental é uma alteração psíquica. Existem várias categorias de transtornos mentais. Há transtornos do humor, de ansiedade, alimentares, de somatização. É um nome amplo para qualquer alteração do funcionamento mental. Eu diria que o Mateus apresenta uma alteração no desenvolvimento de sua personalidade.

Folha - Alteração em que sentido?
Pitta -
Um prejuízo no desenvolvimento da sua personalidade.

Folha - Essa alteração levou a que tipo de transtorno?
Pitta -
A ações mais impulsivas e agressivas. Não vou declarar o diagnóstico por uma questão de ética médica.

Folha - Esses traços de impulsividade e agressividade explicam o crime do dia 3 de novembro de 99?
Pitta -
Isso, associado ao que ingeriu, de certa maneira explicam.

Folha - A ingestão pode ter induzido a um surto psicótico.
Pitta -
Pode.

Folha - Nesse surto psicótico, a pessoa sabe o que está fazendo?
Pitta -
Às vezes, pode ter um conhecimento parcial; às vezes, total; e, às vezes, não. A gente não pode afirmar qual era o grau de conhecimento do Mateus no momento do ato.

Folha - Quando o sr. decidiu dar alta a ele da clínica Parque Julieta em 19 de outubro, o sr. não temia que pudesse ocorrer algo grave?
Pitta -
Não. Havia um temor de que ele pudesse voltar a ter um comportamento agressivo, induzido por algum tipo de substância psicoativa. Então a minha alta foi condicionada à presença do pai no apartamento dele, acompanhando de perto o tratamento. Foi combinado que, se houvesse alguma intercorrência, o pai entraria em contato comigo o mais rápido possível. O pai tinha se prontificado a ficar em São Paulo para acompanhar.

Folha - O sr. não temeu novos episódios de agressão?
Pitta -
Ele estava controlado. Não houve nenhum episódio agressivo na clínica. Mesmo na internação, não houve nenhum ato violento. Nesse tempo todo eu nunca vi um ato violento do Mateus. No máximo, um momento de discreta irritabilidade. Eu sabia de outros momentos de impulsividade, mas nada próximo ao que aconteceu.

Folha - Numa cidade como São Paulo, onde as drogas circulam muito, o sr. não ficou preocupado?
Pitta -
Ninguém que faz abuso de droga vai ficar condenado a uma internação o resto da vida. A internação é uma parte do tratamento. Hoje, no setor de saúde mental, nós entendemos que as internações devem ser as mais breves possíveis. Só para remeter o quadro agudo.

Folha - O sr. se sente responsável pelas mortes?
Pitta -
Eu não posso me sentir responsável porque o meu atendimento foi cuidadoso. Dei a alta na presença do pai. Acompanhei de perto. O que estava ao alcance do profissional foi feito. Essas situações são imprevisíveis. Como é que eu poderia imaginar que isso fosse ocorrer? Claro que essa é uma situação que abala qualquer profissional. Foi um impacto e uma dor muito grande, mas não posso me sentir responsabilizado.

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