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09/11/2000 - 15h20

Mãe encontra filha depois de cinco anos no Ceará

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KAMILA FERNANDES
da Agência Folha, em Fortaleza

Depois de mendigar e perambular por quatro Estados durante cinco anos, Iracema Souza Ferreira, 26, conseguiu encontrar sua filha caçula, que havia sido tirada de seus braços ainda na maternidade. Mais do que isso, pôde voltar com a menina para casa por decisão judicial.

Elizângela Vitória Souza Ferreira, que hoje completou 5 anos, estava vivendo em Caucaia (CE), região metropolitana de Fortaleza, com uma ex-vizinha de Iracema, Maria Francisca Gonçalves Lima, que a registrou como se fosse a mãe biológica com o nome de Jarlene Lima Gomes.

A ex-vizinha tirou Elizângela da maternidade com o consentimento de Enedina Souza Ferreira, avó da criança. Iracema soube que a filha havia sido levada por Maria Francisca apenas quatro dias depois _ela teve sérias complicações no parto e ficou desacordada todo esse tempo.

Quando saiu do hospital, Iracema não pôde mais encontrar a filha, já que a ex-vizinha havia desaparecido de Curionópolis (PA), onde vivia.

Em depoimento ao Conselho Tutelar de Fortaleza, a própria Maria Francisca reconhece que tirou a criança do hospital com o consentimento de Enedina _mais tarde, em entrevista, afirmou que foi Iracema quem "deu" a criança.

Mesmo sem a menina, Iracema a registrou no cartório da cidade. Com o documento na mão, deixou os outros quatro filhos com o marido e partiu em busca de pistas para encontrar Elizângela.

Percorreu todo o interior do Pará sem sucesso. Foi para o Maranhão, onde começou a encontrar pistas. Tudo sem dinheiro, apenas pedindo carona e esmolas para a passagem do ônibus.

"Cheguei a passar fome. Dependia da ajuda das pessoas. Mas tudo valeu a pena", disse Iracema, na rodoviária de Fortaleza, abraçada com a filha. Ela voltou ao Pará na noite de ontem.

Uma última dica a fez passar pelo Piauí e a levou a Caucaia (CE). A certidão de nascimento de Elizângela _com o nome de Jarlene_ foi conseguida pela ex-vizinha apenas em março deste ano, em um cartório do município de São Mateus (MA).

Para isso, ela utilizou o cartão de vacinas da criança, o que é proibido _em todo o Brasil, os cartórios são obrigados a registrar apenas com a apresentação do documento da maternidade.

O juiz da Infância e da Juventude de Caucaia, José Pio Porto Belém, cancelou essa segunda certidão e determinou a entrega imediata da criança à mãe biológica ontem.

Além de entregar Elizângela, Maria Francisca terá de responder como seus outros três filhos chegaram às suas mãos. Ela não é a mãe biológica de nenhum deles.

"Esse tipo de adoção 'à brasileira', sem o consentimento de um juiz, tem de acabar. A Maria Francisca deve, inclusive, responder por falsidade ideológica, por registrar uma criança como sua filha mesmo não sendo", disse Edméa Monteiro de Lima, do Conselho Tutelar de Fortaleza.
 

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