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20/11/2000 - 15h23

Enterro de estudante morta em vestibular vira protesto no Ceará

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KAMILA FERNANDES
da Agência Folha, em Fortaleza

O enterro da estudante Elian de Aguiar Mendes, 17, transformou-se em um ato contra a violência à mulher. Ela foi estuprada e estrangulada ontem dentro de um banheiro da Unifor (Universidade de Fortaleza), onde faria a primeira prova do vestibular da UFC (Universidade Federal do Ceará).

Representantes da Associação das Mulheres Cearenses e da Apavv (Associação de Parentes de Vítimas da Violência) protestaram contra uma possível "negligência" da UFC, da Unifor e da própria polícia, que permitiram que o vestibular transcorresse normalmente depois de o crime ter acontecido.

"Eles colocaram em risco a vida de todos os outros vestibulandos, afinal o assassino poderia ainda estar dentro da universidade", disse Regino Pinho, conselheiro da Apavv.

Um suspeito, o vigilante Elionildo Sousa Oliveira, 24, foi preso ainda na noite de domingo e está na Polícia Federal. Apesar de não estar inscrito no vestibular, ele foi visto no campus da Unifor por seguranças, que afirmaram que ele estaria "dopado".

O vigilante, porém, não apresentava, nas roupas nem no corpo, marcas de sangue. Segundo o delegado regional da Polícia Federal, Francisco Cavalcanti, ele está com um arranhão no ombro. Oliveira nega que seja culpado.

Durante o enterro, em que estiveram presentes cerca de 600 pessoas, era possível notar as lesões no rosto de Elian no caixão descoberto. A estudante foi mordida no maxilar e tinha a região dos olhos bastante inchada e roxa.

Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), as marcas nos braços da estudante provam que ela lutou antes de morrer. Apesar disso, não havia aparecido, pelo menos até o final da tarde de ontem, nenhuma testemunha que tivesse ouvido gritos.

A Unifor recebeu 6.426 candidatos ao vestibular da UFC. Além da Unifor, outros 30 locais da região metropolitana de Fortaleza e do interior do Ceará foram usados para a prova.

"Não é justo culpar a Unifor pelo que aconteceu. Poderia ter ocorrido em qualquer outro local. A violência é um problema de toda a sociedade", afirmou o vice-reitor da UFC, René Teixeira Barreira, durante o enterro.

Apesar de Elian ter sido encontrada morta às 8h30, o corpo da estudante só foi levado para o IML depois de a prova ser encerrada, às 12h.

Segundo a fiscal do vestibular Erica Pontes, a orientação da coordenação do vestibular, logo que a estudante foi encontrada morta no banheiro, foi esconder o crime.

O pai de Elian, João Gonçalves Mendes, é pastor da igreja Assembléia de Deus de Maracanaú, na Grande Fortaleza. Ele chegou a ser internado no Hospital Geral de Fortaleza quando soube que a filha havia sido morta.

Amigos da estudante afirmaram que ela era muito tímida, conhecia poucas pessoas e nunca havia tido um namorado.

Como nenhum amigo iria fazer vestibular na Unifor, Elian, assim que
chegou, foi para a sala de aula, no bloco R. Um pouco antes das 8h, horário do início da prova, decidiu ir ao banheiro, localizado no bloco Q, vizinho ao bloco R. A estudante deixou a bolsa sobre a mesa e não chegou a receber a prova.

Apenas meia hora depois de a prova do vestibular ter sido iniciada, o corpo da estudante foi encontrado no banheiro por uma funcionária responsável pela limpeza do local. Apesar disso, a UFC e a própria polícia só foram informadas do crime às 10h.

"Como a prova já havia começado, não tinha sentido mandar suspender o vestibular", afirmou o delegado regional da PF. "Ia dar na mesma."

Segundo o delegado Cavalcanti, funcionários que trabalharam no vestibular serão ouvidos. Ele não descarta a hipótese de que o assassino tenha sido, inclusive, um dos vestibulandos.

 

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