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12/12/2000 - 17h04

Moradores fecham estrada em protesto contra ação policial no Rio

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VIVIANE PAULA VIANA
da Folha de S.Paulo, no Rio

Uma bala perdida que atingiu um menino de seis anos desencadeou um protesto de mais de 15 horas de moradores da favela de Parque Royal, na Ilha do Governador _zona norte do Rio de Janeiro.

Os manifestantes fecharam a estrada Chagas Freitas, principal via de acesso à favela, e ameaçaram atear fogo e apedrejar veículos que passavam pelo local.

O protesto teve início por volta das 19h de segunda-feira. O menino Carlos Cesário Fernandes Domingos, 6, brincava com outras crianças na praça da favela quando os moradores ouviram tiros. Carlos chegou a se esconder numa casa próxima, mas acabou sendo atingido quando tentava voltar para sua residência, que fica a cerca de dez metros do local.

A bala atingiu a cabeça do garoto, que, até o momento, encontrava-se internado em estado grave no hospital Souza Aguiar, no centro do Rio.

Os manifestantes acusam a polícia de ser a responsável pelo tiro, pois, segundo eles, policiais já chegaram na favela atirando. O comandante do 17º Batalhão, Mário dos Santos Pinto, disse que os policiais atiraram para defender-se. "Os PMs faziam o patrulhamento de rotina e, ao abordarem um indivíduo suspeito, foram recebidos com uma chuva de balas disparadas por traficantes", afirmou.

Foi registrado na 37ª DP (Delegacia de Polícia) o depoimento de um morador que confirma a versão policial. Segundo o depoente, cujo nome foi mantido em sigilo pela polícia por uma questão de segurança, de três a cinco homens dispararam "uns 15 tiros" contra os policiais, que então teriam revidado. O tenente José Luiz de Souza foi ferido com um tiro de raspão durante o tiroteio e levado para o hospital da Aeronáutica, na Ilha do Governador.

Os manifestantes contestam a versão. "Isso não é verdade. Queremos saber quem é a pessoa que afirmou isso. Os traficantes não atirariam com a praça cheia de crianças", afirmou Josirene da Silva Pereira, 37, moradora do bairro e tia do menino.

O pai do menino atingido, o ajudante de pedreiro Robertos Domingos, 33, estava em casa quando tudo aconteceu. "Ao ouvir os tiros, saí correndo para buscar as crianças na praça, mas cheguei tarde demais. Meu filho já tinha sido levado para o hospital." Cássia Regina Cesário, a mãe de Carlos, passou mal quando soube que o filho tinha sido ferido.

Após o acidente, moradores foram para a rua protestar e enfrentaram os policiais jogando pedras e paus. A manifestação prosseguiu durante toda a madrugada e o dia de hoje. Para desobstruir a estrada, foi chamado reforço policial, que montou guarda na entrada da favela para impedir a confusão.

O presidente da Associação de Moradores do Parque Royal, José Almeida de Oliveira, 34, que esteve reunido com a polícia na manhã de hoje, disse que chegou a negociar a dispersão da comunidade em troca da retirada das viaturas.

"Senti-me como o negociador da paz entre palestinos e israelenses. Não precisava de nada disso. Era só o comandante retirar as viaturas que a comunidade recuaria, mas ele não me ouviu e acabou excitando mais os moradores. Onde está a polícia inteligente do nosso governador?"

O menino que foi atingido pela bala perdida é aluno da classe de alfabetização do Ciep Doutor João Ramos de Souza, que fica próximo à casa onde mora com os pais e sete irmãos. Como está em férias, costuma brincar à tarde com os amigos na praça Vanessa Ferreira Coutinho.

O tenente ferido de raspão, depois de ser medicado no Hospital da Aeronáutica, foi levado para o hospital da Polícia Militar e, por volta de 13h de hoje, já estava em casa.

Leia mais:

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