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29/12/2000 - 10h10

"O Maluf me deve muito mais do que eu a ele", diz Pitta

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da Folha Online

O prefeito Celso Pitta disse que deixará a prefeitura de São Paulo de cabeça erguida e, aparentemente, sem grandes preocupações. A única parece ainda ser o crédito com o Maluf. Nem os problemas financeiros tiram Pitta do sossego.

Sem amigos, o prefeito ainda não sabe com quem vai contar mas não esquece da única pessoa que esteve ao seu lado: a mãe.

Folha Online - O senhor precisou mentir? Quando o senhor assumiu disse que todas as suas promessas eram exequíveis....

Pitta
- Sim, e são.

Folha Online - Acabar o fura-fila, fazer um PAS só para idosos...

Pitta
- O PAS foi o plano que lançou a vacinação para o idosos...

Folha Online - A secretaria (da Saúde) diz que não há programa para idosos.

Pitta
- Em todas as áreas da prefeitura você vai ver ações específicas (para idosos).

Folha Online - Mas a secretaria fala que o projeto inicial eram unidades...

Pitta
- Isso não quer dizer que a ausência de um nome tenha significado a ausência de uma ação.

Agora o que este balanço tem de considerar é toda dificuldade que tive de enfrentar, as dificuldades de ordem financeira, de ordem política e toda má vontade da mídia e da elite paulistana em relação à minha administração.

Apesar disso fizemos um trabalho isento, importante para a cidade. Se um político deve faltar com a verdade? Não, não deve. Se eu faltei com a verdade? Não, não faltei.

Folha Online - O senhor e Maluf diziam que nunca iriam romper...

Pitta
- Veja, quem rompeu foi o Maluf comigo, quando ele me criticou publicamente dizendo que eu comecei mal a administração. Esta pergunta você tem que fazer a ele...

Folha Online - E como ficou sua relação com Maluf ? O senhor entrou na vida pública por meio dele.

Pitta
- Só um instantinho. Se você colocar a minha relação com o Maluf em termos de crédito e débito... O Maluf me deve muito mais do que eu a ele.

Eu o defendi com unhas e dentes publicamente, na Justiça, na CPI dos Precatórios, fui envolvido neste negócio dos frangos, não tinha nada a ver com frango, mas mesmo assim defendi seu Paulo Maluf.

Se existe alguém que tá em dívida com alguém é seu Paulo Maluf comigo.

Folha Online - Nesse seu esforço por lealdade, o senhor teve de mentir, passar por cima dos seus princípios, do que o senhor acreditava?

Pitta
- De jeito nenhum. Nunca acobertei nenhum fato ilegal que tivesse ocorrido. Não defendi nada que pudesse ser considerado irregular.

Folha Online - No ano passado, o senhor anunciou um dossiê contra ex-prefeito Maluf e não era nada. O que foi aquilo?

Pitta
- Eu anunciei e deixei na Procuradoria do Estado um conjunto de documentos colocando aberta a prefeitura para o aprofundamento das investigações.

Nada que foi do meu conhecimento que se referisse a algum tipo de irregularidade não foi examinado.

Folha Online - Mas eram cópias de papéis do Ministério Público.

Pitta
- Mas que foram utilizados em investigações. Entreguei a eles respostas dos ofícios, pedidos de informações.

Folha Online - Mas na CPI da máfia da propina existiu uma tentativa dos governistas de não abrir as investigações. O senhor não acha que poderia ter contribuído mais para este trabalho?

Pitta
- Na Assembléia Legislativa tem uma dezena de pedidos de CPI sendo que nenhuma delas foi instaurada por ação da bancada governista. E ninguém criticou o Covas.

Quando a mesma coisa aconteceu na prefeitura, todos se voltaram contra a bancada governista. O que efetivamente se mostrou é que (a CPI) era palanque político da oposição. A CPI se baseou em investigações que já estavam abertas.

Folha Online - Depois da avalanche de denúncias, a entrada do secretário Arnaldo Faria de Sá levantou Celso Pitta? (Faria de Sá, histórico malufista, entrou na prefeitura no início da corrida das eleições municipais e criou fatos para melhorar a imagem da administração).

Pitta
- A função do secretário de governo depende da circunstância. Eu atravessei sucessivas crises políticas.

A situação do secretário de governo, quando houve meu retorno do afastamento, já não havia mais nada que pudessem fazer contra mim e a tarefa de coordenação política foi enormemente facilitada, então essas ações do Arnaldo se sobressaíram.

Mas o próprio Arnaldo, no início da minha gestão, teria o mesmo grau de dificuldade que tiveram os antigos coordenadores políticos.

Folha Online - Quem foi seu amigo nos momentos difíceis?

Pitta
- Eu não tenho um confidente, um confessor ou terapeuta para me abrir, nunca tive e não foi o caso de ter.

Eu contei para a superação de todos esses momentos desagradáveis com a lealdade da equipe que me cerca, Antenor Braido, um leão em defesa da prefeitura, na área jurídica teve o Edvaldo Brito, as lideranças políticas da base governista, Brasil Vita, Wadih Mutran. É um rosário de agradecimentos.

Folha Online - O senhor não teve ninguém para "se abrir"?

Pitta
- Claro que depois da dissolução da família, foi minha mãe e minha irmã, nessa área afetiva, que me deram a compensação que eu precisava, que naqueles momentos mais delicados, passaram comigo.

Foi fundamental para a superação desses problemas de ordem afetiva.

Folha Online - Ninguém de fora da família?

Pitta
- Não.

Folha Online - O senhor tem esta cobrança de pensão, a dívida com os advogados que chega a R$ 20 mil, mais os R$ 800 mil de empréstimo. Como o senhor lida com este problema financeiro.

Pitta
- A partir de janeiro poderei me dedicar a uma atividade profissional que me garantirá rendimento para pagar não só a pensão como estas dívidas.

Folha Online - O senhor pensa em fazer um novo empréstimo?

Pitta
- Penso em pagar, tenho uma disponibilidade aí no início do ano, até para tirar um mês de descanso. Mas eu já ouvi do próprio Yunes e outros amigos que se precisasse, estariam dispostos a me socorrer.

Eu acho que já tenho condições, a partir de janeiro, de ter um entendimento.

Folha Online - O senhor várias vezes apontou o complô da mídia, disse que foi vítima de preconceito. Antes de eleger-se, afirmava que nunca havia enfrentado este problema. Foi a primeira vez, então?

Pitta
- Juntou toda uma insatisfação da elite dominante com o fato de eu ter consolidado com a minha eleição o malufismo a nível (sic)local.

Todos aqueles contrários à política conhecida como malufismo se voltaram contra mim, e neste balaio de gatos, claro que alguma componente étnica também se juntou.

Folha Online - E não faltou falar mais sobre isso com os negros?
Não vamos colocar esta questão racial como fundamental. Não há comparação de movimento negro, do que existe nos EUA e do que existe aqui.

Pitta
- Nos EUA, uma rede de televisão que fizesse campanha vexatória como Rede Globo fez comigo eu duvido se a comunidade negra americana já não teria feito uma campanha contra os produtos anunciados pela emissora, se não teria feito uma campanha para que toda a comunidade negra não assistisse aquela rede de televisão.

Folha Online - Faltou apoio dos negros ao senhor?

Pitta
- O que estou falando é que existe uma diferença muito grande de reações possíveis de uma comunidade negra politicamente amadurecida e evoluída, como é a americana.

Eu não fui lançado politicamente por um movimento negro, fui lançado por um partido político que representava interesses de uma sociedade multiracial.

Eu não posso chegar e cobrar desta comunidade negra uma ação em minha defesa que não fosse compatível. Mesmo assim, eu alinho as escolas de samba, que sempre estiveram ao meu lado.

Folha Online - O que o senhor vai dizer quando deixar o Palácio das Indústrias?

Pitta
- Eu venci, se há uma mensagem importante é a mensagem de um pessoa que encarou a mais furiosa oposição, inclusive de caráter destrutivo.

Venci no âmbito da política, com a derrubada de todas as tentativas de impeachment, venci na Justiça com, as tentativas de me tirarem do governo, não me intimidei com as ações de parte da mídia e termino meu mandato com a cabeça erguida, com dignidade, sem em nenhum momento, apesar de todas as dificuldades, ter sido grosseiro, mal educado e autor de alguma pérola ou frase que pudesse caracterizar um destempero emocional.

Clique aqui para ler mais notícias sobre os últimos dias da gestão Pitta
 

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