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31/12/2000 - 04h04

Marta promete limpeza da sujeira e da corrupção

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NILSON DE OLIVEIRA, editor de Cotidiano da Folha de S.Paulo
CHICO DE GOIS, da Folha de S.Paulo

A prefeita eleita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), 55, que toma posse amanhã, estará empenhada, nos primeiros dias de sua gestão, em limpar a cidade da sujeira nas ruas e paredes de prédios públicos e da corrupção.

Trajando um vestido longo vermelho e echarpe de oncinha, disse que, para isso, não hesitará em pegar a vassoura para dar o exemplo à população paulistana.

Anteontem, em entrevista à Folha, afirmou que não pretende ficar trancada em seu gabinete. Na terça-feira, por exemplo, fará um almoço com moradores de rua; depois pretende ir uma vez por semana até as administrações regionais e visitar os locais mais pobres, além de almoçar no bairro.

A futura prefeita disse ainda que espera obter verbas com o combate ao desperdício e à corrupção.

Folha - Quais serão as primeiras atitudes da senhora sentada na cadeira de prefeita?
Marta Suplicy -
Dia 1º vou fazer um discurso que espero que tenha um conteúdo que vai balizar tudo que pretendemos fazer neste governo. O primeiro ato que acho importante, fora a posse, será no dia 2, no Pátio do Colégio, e que vai simbolizar um governo voltado ao combate à exclusão social. Vai ser a regulamentação de um projeto da (vereadora) Aldaíza Sposati (PT) para o povo da rua. Vai ser um almoço. A outra questão vital é o combate à corrupção e ao desperdício da coisa pública.

Folha - Como vai ser esse combate à corrupção?
Marta -
Cada secretaria está levantando coisas específicas. Contratos terão de ser revistos, como na Cohab e no Abastecimento. O Jilmar Tatto (futuro secretário do Abastecimento) avaliou que a lata de leite no Leve-Leite custa três vezes mais do que produto em saco plástico. Hoje, o Leve-Leite custa 60% da merenda das crianças. Quando diminuir mais de um terço no valor da lata, sobra mais dinheiro para uma merenda adequada. Esse tipo de ação é que estamos vendo em todas as pastas.

Folha - A senhora pretende reduzir a participação do Leve-Leite na merenda escolar, uma vez que a senhora mesma disse que ocupa 60% da merenda?
Marta -
Não. Vamos manter a mesma quantidade de crianças que levam o leite, mas o custo, sem a lata, é menor. Esse dinheiro vai continuar na merenda. Vamos acrescentar suco de laranja fresca e achocolatado no lanche, além de um alimento melhor.

Folha - E é nesse combate à corrupção que a senhora espera mais verbas para poder tocar a prefeitura, uma vez que os próprios técnicos do PT vêm dizendo que a situação é sombria?
Marta -
A perspectiva não é diferente do que falamos na campanha inteira, e o cidadão já sabe. A prefeitura está falida, e o dinheiro não foi utilizado para coisas concretas. Vamos lidar com a expectativa que foi gerada na campanha de que a cidade deve combater a corrupção e que volte a ter as prioridades corretas, que são saúde, educação e qualidade de vida, com menos poluição visual e mais limpeza, que é o que poderemos fazer neste primeiro momento.

Folha - As empreiteiras de lixo foram doadoras de sua campanha. A senhora tem dito que isso não significa favorecimento. Quem pode garantir?
Marta -
Mas foi tudo declarado (ao Tribunal Regional Eleitoral). Nós vamos fazer uma licitação clara, pública e transparente para todo mundo vigiar e que seja o mais barato possível porque não existe mais propina e espero que caia o preço.

Folha - Investigações sobre os atuais contratos apontaram uma série de irregularidades e superfaturamento do preço do serviço.
Marta -
Está tudo com o Ministério Público. O que for apurado vamos rever.

Folha - Essas empreiteiras que estão sob suspeita de irregularidades, mesmo assim elas podem participar da licitação?
Marta -
Enquanto essas empresas não forem condenadas, não se pode proibir de participar, ou pode? Acho que não.

Folha - O caso da máfia dos fiscais mostrou que a prefeitura tem uma estrutura funcional habituada a procedimentos não muito adequados à coisa pública. Como vocês pretendem enfrentar isso?
Marta -
Vamos depender muito da ouvidoria. Vamos criar uma infra-estrutura boa para ela.

Folha - Existe alguma medida para aumentar a arrecadação?
Marta -
A cobrança de pessoas que devem à prefeitura é uma das medidas. Mas há dívidas de R$ 15 que custam R$ 8,70 para o fiscal ir cobrar. Estamos estudando para ver como podemos fazer para melhorar essa cobrança.

Folha - A prefeitura vai fazer uma anistia para casos como esse que a senhora citou?
Marta -
Não foi pensado nisso ainda. Tem a questão do Refis (programa de recuperação fiscal que beneficia determinados setores de empresas prestadoras de serviço) que precisa ser vista. Vamos ver se manteremos isso que foi aprovado ou não.

Folha - Já há alguma idéia do que se fará com o Refis?
Marta -
Estamos estudando.

Folha - O partido desistiu de entrar na Justiça contra o projeto aprovado?
Marta -
Estamos estudando e não decidimos nada ainda. Isso que você está falando eu não sei, então vamos ter de sentar com o partido para não fazer uma coisa dissonante e vamos ver o que faremos em conjunto. Em conjunto não. A prefeitura vai escutar o partido e vamos tomar a decisão.

Folha - O secretário João Sayad (Finanças) afirmou que haveria contestação judicial do Refis.
Marta -
O secretário, o partido e eu vamos sentar e tomar uma decisão. Ninguém está brigando por causa disso. Vamos decidir o que é melhor para a cidade.

Folha - Na sua avaliação, quais foram os erros cometidos na outra administração petista (1989-1992) que podem ser evitados agora?
Marta -
A outra administração já foi e não interessa mais. Avaliamos internamente o que é aproveitável e o que não é. Agora é bola para frente.

Folha - Na indicação dos futuros administradores regionais, surgiram acusações de loteamento dos cargos para favorecer parlamentares petistas.
Marta -
O que as pessoas têm de entender é que fizemos uma coisa muito mais ampla do que jamais foi feita. Somos um partido que está no poder. Com as indicações que tivemos da sociedade civil e do próprio partido, além dos aliados e coligados, fomos avaliando o que era melhor para cada região. Alguns lugares foram pessoas do PT mesmo. Eu não posso ter como critério o fato de que por ser do PT não pode entrar. Isso é ridículo. O critério teria de ser: se tem dois iguais e o melhor é do PT, que seja do PT. Teve lugares onde houve indicações melhores do que as do PT e aí privilegiamos os outros.

Folha - Como será o processo de implantação das subprefeituras? Marta - Gostaria de encaminhar o projeto para a Câmara em junho ou julho. Mas o estado em que as regionais estão vai dificultar até mesmo colocá-las de pé para fazer zeladoria. O secretário de Implantação das Subprefeituras (Arlindo Chinaglia) estava me dizendo que não sabe se em seis meses dará para colocar as regionais em pé e, ao mesmo tempo, começar a transformar. Pode ser que atrase alguns meses. Talvez tenhamos nos precipitado em dizer para o eleitorado que em seis meses a proposta estaria pronta.

Folha - A senhora pretende levar ao conhecimento público esse diagnóstico do que vão encontrar na administração municipal?
Marta -
Com certeza. Não sabemos ainda de que forma. A população sabe que está um caos, mas vamos dizer o que faremos. Por exemplo, estas fotos (mostra efusivamente algumas fotos das escadarias do Pacaembu e da lateral do estádio completamente sujas) foram tiradas no Natal. Estamos documentando a situação. Olha estas aqui (fotos de outdoors irregulares). São quase 700 locais públicos invadidos por outdoors. Vamos tirar e denunciá-los.

Folha - A senhora sente o peso da responsabilidade nestes momentos que antecedem sua posse na Prefeitura de São Paulo?
Marta -
Eu sinto, mas durmo. Estou me esforçando o máximo. O possível nós faremos. Ninguém muda esse caos em pouco tempo.

Folha - A senhora não teme ser classificada de populista ao anunciar iniciativas como a de ir ao estádio do Pacaembu para limpá-lo?
Marta -
Se faz, é porque faz; se não faz, é porque não faz. Eu sou uma prefeita que não vou ficar fechada no Palácio das Indústrias. Uma vez por semana eu vou às administrações regionais. Vou conversar com o administrador, vou almoçar num restaurante popular do bairro e depois visitar as zonas carentes daquela região. Não há nada que se faça que não tenha contestação. Algumas pessoas acham ridículo e outras aplaudem. Eu tenho de fazer o que acho certo. No momento em que a prefeita vai, tem boa-vontade, pega a lata de tinta e fica lá, lavando junto, isso estimula as pessoas a irem também. Pensamos em fazer isso em outras avenidas, como Santo Amaro, Radial Leste e Aricanduva.
 

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