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07/01/2001 - 09h17

Fuga do aluguel dissemina favelas em SP

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GABRIELA ATHIAS
da Folha de S.Paulo

Desde que se mudou de Alagoas para São Paulo, há sete anos, a operária Maria Nazaré de Lima trabalhou como passadeira em fábricas de roupa. Há quatro anos, passou um período desempregada e tomou uma decisão: trocou a casa alugada, em Ermelino Matarazzo (zona leste), por um barraco na favela conhecida como Fase 3, no mesmo bairro.

A decisão de escapar do aluguel e de trocar ruas asfaltadas, água encanada e registro de luz pela precariedade das favelas vem se consolidando como uma tendência na cidade de São Paulo.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de favelas na capital aumentou de 585, em 1991, para 612, em 2000. Nos dois períodos, a cidade ficou em primeiro no ranking do número de favelas.

O aumento de 27 favelas pode parecer pequeno, mas o dado não é totalmente representativo da precariedade da situação habitacional, já que não registra o crescimento populacional nas favelas já existentes em 91.

Naquele ano, por exemplo, a União de Vila Nova (em São Miguel Paulista, na zona leste) já existia, mas com um número de habitantes próximo a 370 famílias. Atualmente, a favela abriga cerca de 6.000 famílias.

Segundo líderes comunitários da zona leste, a União de Vila Nova é uma das favelas que mais cresceram nos últimos anos. Anteriormente restrita a um pequeno conjunto nas proximidades da avenida São Miguel, a favela se expandiu e seus limites ameaçam cruzar a fronteira entre a capital e o município de Guarulhos.

Ocupação desordenada

A formação da favela Fase 3 ilustra bem a ocupação desordenada da periferia. Há quatro anos, não existia nenhum barraco no local onde hoje se aglomeram de 120 a 180 moradias precárias.

A favela surgiu ao lado da Vila Nossa Senhora Aparecida, uma das mais antigas da zona leste, com cerca de 30 anos.

A Vila Nossa Senhora Aparecida é dividida em duas partes, conhecidas como Fase 1 e Fase 2. As duas partes foram urbanizadas durante a gestão da então prefeita Luiza Erundina (89-92).

Sonho da urbanização

Atraídos pelo calçamento e outras obras de infra-estrutura, os fundadores da favela vizinha acabaram batizando o local de Fase 3, na esperança de que também fosse urbanizado.

A Fase 3 é separada da Vila Nossa Senhora Aparecida por uma fossa a céu aberto tão grande que forma uma cachoeira de dejetos.

O sonho da urbanização continua, mas há oito anos não há nenhum movimento nessa direção. Apesar disso, a proximidade com a parte urbanizada faz com que os barracos, apesar de construídos sobre fossas e córregos, tenham seu preço valorizado.

"Um dia vão asfaltar isso aqui", diz a alagoana Isaurina Maria de Jesus Vieira, 66, que se mudou no último domingo para a Fase 3, onde já moram seus filhos. Ela pagou R$ 1,5 mil por um barraco de dois cômodos (feito de restos de madeira), construído em uma área de barranco que tem um esgoto embaixo.

Financiamento

Um estudo feito pela FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), com base em dados de 97 do Ibge, mostra que as famílias que ganham até dez salários mínimos não têm opções de financiamento para adquirir casa própria.

Uma aparente contradição é que o número de domicílios próprios aumentou de 55,5% para 63,5%, entre 80 e 91. A explicação é justamente o aumento de "casas próprias" na favela, apesar de essas residências não terem nenhum documento de posse e serem construídas em terrenos de terceiros, geralmente do poder público ou de empresas privadas.



 

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