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20/02/2001 - 04h17

Tomada de prisões teve ação padronizada pelo PCC

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da Folha de S.Paulo

O governo de São Paulo identificou uma atuação padronizada na operação de tomada dos presídios, no final de semana, pelos membros do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Após a entrada dos visitantes, no início da tarde, os rebelados iniciaram um tumulto, fazendo com que os familiares corressem até os portões para tentar escapar.

A confusão atraiu a atenção dos agentes penitenciários e levou a segurança interna a se mobilizar para coordenar a saída das visitas.
"O ataque foi feito na traição, pelas costas dos agentes", disse Sergio Ricardo Salvador, coordenador da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo).

Nas penitenciárias, os agentes trabalham desarmados dentro dos pavilhões, onde estão as pessoas condenadas. Apenas nas muralhas externas há guarda armada, no caso, policiais militares.

Só no complexo do Carandiru, em São Paulo, havia 6.000 pessoas visitando parentes na Casa de Detenção e na Penitenciária do Estado. Todos foram impedidos de sair do interior dos pavilhões.

Os presos amotinados tinham em mãos estiletes e até pistolas, como
aconteceu na Penitenciária do Estado, na capital.

Sem citar nomes de presídios, Salvador disse que até disparos para o alto serviram como aviso para dar início à revolta.

O governo não descarta o apoio de parentes dos presos à rebelião. "Familiar não é bem um refém", disse anteontem o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi.

Tempo
Além do plano de ocupação, o que mais surpreendeu o governo foi o sincronismo de explosão das revoltas em todo o Estado.

A maior rebelião da história do país começou, pouco depois do meio-dia, na Penitenciária do Estado, onde estão 2.500 detentos.

Em seguida, estourou a revolta da Casa de Detenção, primeiro pelo pavilhão 9, de onde haviam saído os líderes transferidos na sexta-feira passada.

As penitenciárias de Guarulhos (Grande São Paulo) e de Marília (443 km de São Paulo) foram tomadas na sequência.

A partir das 13h, a Coesp foi recebendo avisos quase que simultâneos de rebeliões em diversas regiões do Estado, não sabendo informar quais pararam primeiro. No total, houve problemas em 19 municípios de São Paulo.

A Secretaria da Administração Penitenciária considera que o "centro" da megarrebelião estava no complexo do Carandiru, em São Paulo. Dos dez transferidos de dois dias antes, o primeiro homem do PCC, Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, estava na Detenção. O número dois, Marcos Willians Herbas Camacho, ficava na Penitenciária do Estado.

Foi desse complexo que saiu a única exigência da facção: o retorno dos transferidos para o complexo. Hipótese rejeitada pelas secretarias da Segurança Pública e da Administração Penitenciária.

Nos demais presídios, segundo as duas secretarias, ninguém se apresentou para negociar em nome do PCC. Pelo que a polícia apurou até agora, no inquérito que investiga a existência da facção, cada presídio tem uma cúpula de comando, dividida em: chefes, assessores e seguranças, líderes de pavilhões e soldados.

A ordem de explosão dos motins coincide com as unidades da rota de fuga de presos filiados ao PCC, segundo descreve o dossiê feito pelo ex-corregedor da Coesp Renato Laércio Talli, no final do ano passado. As penitenciárias de Guarulhos, Marília, Hortolândia e Franco da Rocha foram citadas por ele como sendo locais de fácil saída. A facção teria como comprar a liberdade nesses locais.

A organização da megarrebelião não surpreendeu Talli, que deixou o cargo de corregedor da Coesp após cinco meses de exercício. "Essa coordenação não surgiu de um dia para o outro, ela vem de muito tempo", disse.

Segundo o delegado Alberto Mateus Júnior, da Delegacia de Roubo a Banco do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes Patrimoniais), os líderes do PCC tiveram de se expor para fazer a megarrebelião. "Agora deve ficar mais fácil identificá-los", disse o delegado, responsável pelo inquérito contra o PCC.
(ALESSANDRO SILVA)
 

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