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21/02/2001 - 04h48

Comando Vermelho deu origem à organização paulista

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LUIZ ANTÔNIO RYFF, da Folha de S.Paulo

Uma das principais lideranças do Comando Vermelho nos anos 80, José Carlos Gregório, 51, condenado a 64 anos de prisão por assalto a banco, sequestro e roubo diz que o PCC (Primeiro Comando da Capital) começou a ser estruturado por integrantes do CV no início dos anos 90.

"É o filho menor do Comando Vermelho", diz Gregório. "Há dez anos, quando a repressão começou a piorar, o CV migrou para São Paulo", afirma Gregório, autor do resgate do traficante José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, do presídio da Ilha Grande usando um helicóptero.

Segundo Gregório, alguns integrantes importantes do CV passaram a agir em São Paulo com o conhecimento da liderança da organização -que costuma tomar as decisões mais importantes em sistema de colegiado. Entre esses membros da organização estavam os irmãos Sérgio e Júlio Achê. Além de Célio Tavares, o Lobisomem, um dos fundadores do CV.

Além de estrutura semelhante, o PCC utiliza várias marcas criadas pelo CV, como a frase "Paz, Justiça e Liberdade", que apareceu escrita no chão de terra do campo de futebol no complexo penitenciário do Carandiru e em outros presídios rebelados em São Paulo. No estatuto, o PCC faz alarde da ligação com o CV. "Em coligação com o CV, iremos revolucionar o país de dentro das prisões e o nosso braço armado será o terror "dos poderosos" opressores e tiranos que usam o "anexo de Taubaté" e o Bangu 1 no Rio de Janeiro como instrumento de vingança da sociedade na fabricação de monstros". Em Taubaté e em Bangu, estão prisões de segurança máxima.

O estatuto do PCC difunde as mesmas idéias centrais que nortearam a fundação do Comando Vermelho, como a proibição da prática de estupro, assalto e extorsão dentro das cadeias (cujo desrespeito é punido com a morte) e a formação de um caixa para financiar o grupo nas prisões e suas famílias do lado de fora.

Convertido em 90 à Igreja Prebisteriana, Gordo atende hoje por "irmão Gregório", vive em regime semi-aberto e trabalha na Fundação Benção do Senhor. "Hoje estou no Comando de Jesus", diz ele que considera o manifesto do PCC "uma xerox com algumas modificações" das idéias do CV.

Gregório afirma que, no seu tempo, o CV já tinha ramificações em todo o Brasil.
Gregório lembra que a revolta que marcou o nascimento, em 1979, do CV -organização surgida a partir do convívio entre presos políticos e criminosos comuns- fez 21 mortos.

"Ou se acabava com os estupradores, com os assaltantes de cadeia e os achacadores ou nós não íamos a lugar nenhum. Então fizemos a nossa noite de São Bartolomeu", diz, aludindo ao massacre dos protestantes pelos católicos em 1572, em Paris.

Para o ex-coordenador de Segurança Pública do Rio, Luiz Eduardo Soares, as organizações fortes no sistema penitenciário, com ramificações externas, como o CV, o Terceiro Comando e o ADA (Amigos dos Amigos), funcionam como "formas de afirmação da unidade dos grupos criminosos locais e, simultaneamente, como recursos de diferenciação, no mercado das disputas por dinheiro e poder".

Segundo Soares, fora das prisões, esses nomes funcionam mais como "linhas de demarcação que aproximam e opõem os atores coletivos, do mundo criminal" do que como representação de organizações sólidas bem estabelecidas. "Quanto valem, de fato, depende do contexto, da circunstância específica, do tema em foco", salienta. "Ele está certíssimo", atesta Gregório.
 

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