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13/06/2000 - 16h54

Policiais que transportaram assaltante após sequestro estão presos

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ISABEL CLEMENTE
SERGIO TORRES
da Sucursal do Rio

O sequestrador que manteve dez reféns dentro de um ônibus na zona sul do Rio, na segunda-feira, foi asfixiado por policiais dentro de um veículo da Polícia Militar, no trajeto entre o Jardim Botânico e o hospital Souza Aguiar (centro).

Identificado pela polícia como Sandro do Nascimento, de 21 anos, ele havia mantido as dez pessoas sob a mira de um revólver durante mais de quatro horas, dentro do ônibus parado no meio da pista da rua Jardim Botânico.

O assassinato do criminoso foi o desfecho de um episódio desastrado em que a refém Geísa Firmo Gonçalves acabou morrendo após ser atingida por quatro tiros, um deles disparado pelo soldado Marcelo Oliveira dos Santos, do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM.

Geisa era agarrada por Nascimento, já fora do ônibus, quando o soldado se aproximou e disparou contra o criminoso. Só que o tiro atingiu o queixo da moça.

A seguir, o criminoso, que usava um revólver Rossi calibre 38, disparou três vezes contra Geísa, que morreu no hospital Miguel Couto (zona sul). De acordo com a diretora do IML (Instituto Médico Legal), Naura Liane, os dois tiros letais atingiram o tórax de Geísa.

Capturado ileso, Nascimento foi colocado dentro de um camburão, onde estavam cinco policiais militares. Ele chegou morto ao Souza Aguiar. O exame cadavérico do IML concluiu que Nascimento morreu em consequência de "asfixia mecânica".

"Estamos convencidos de que houve um crime naquele trajeto. Os policiais estão presos e serão indiciados", afirmou nesta terça-feira (13) o secretário estadual da Segurança Pública, coronel Josias Quintal.

Os PMs que conduziram Nascimento ao hospital são o capitão Ricardo de Souza Soares e os soldados Luiz Antônio de Lima Silva, Márcio de Araújo David, Paulo Roberto Alves Monteiro e Flávio do Val Dias. Todos trabalham no Bope. Durante o período em que Nascimento manteve os reféns dentro do ônibus, Quintal chegou a ordenar a morte do criminoso.

Por telefone, cerca de 90 minutos antes do fim do caso, Quintal determinou ao comandante do Bope e da operação de resgate dos reféns, tenente-coronel José Penteado, o que chamou de "neutralização" de Nascimento. No jargão dos policiais militares e civis fluminenses, neutralizar uma pessoa é a mesma coisa que matá-la.

Quintal decidiu ordenar a morte do criminoso quando soube que uma das reféns, a universitária Janaína Lopes Neves, poderia ter sido executada no ônibus. O assassinato de Janaína era um blefe de Nascimento, que simulou ter atirado nela.

A ordem de Quintal foi passada por Penteado para dois soldados do Bope, que se posicionaram embaixo do ônibus. Um deles era o soldado Marcelo Oliveira dos Santos. O nome do outro não foi revelado pela polícia.

Quando o criminoso e a refém desceram do ônibus, Santos atacou, em uma ação classificada pelo secretário como "mal executada e mal avaliada".
Quando o soldado disparou, o tenente-coronel Penteado, o major Fernando Príncipe e o capitão André Luiz Batista negociavam a rendição de Nascimento.

A ação do soldado os surpreendeu, segundo disse Penteado, que preferiu não falar sobre o que poderia ter acontecido caso Santos permanecesse onde estava. "Não tenho como responder se a negociação teria êxito caso o soldado não tivesse atirado", afirmou o comandante, para quem o soldado errou na execução, mas não ao decidir pelo ataque.

"O soldado do Bope é treinado para ter iniciativa. Ele errou na avaliação e na execução", disse.

Segundo o secretário da Segurança, o soldado Santos não está preso, mas "vai responder criminalmente" pelo ato que praticou. "A ação do soldado foi inoportuna. Ele fez uma avaliação errada", disse Quintal. Para o secretário, se tivesse matado Nascimento, e a moça não fosse atingida por disparos, a ação teria sido correta.

O secretário e o comandante do Bope defenderam a ação da polícia, que priorizou a negociação. Um ataque contra o ônibus e o disparo contra o criminoso por dois atiradores de elite que estavam nas redondezas eram recursos que só deveriam ser utilizados quando se esgotasse a possibilidade de negociação.

Penteado defendeu o uso pelo soldado de uma submetralhadora, arma conveniente para o que chamou de "assaltos táticos".

A promotora Luciana Silveira, que acompanha o inquérito aberto na 15ª DP, determinou que os corpos da refém e do criminoso não sejam liberados para as famílias, já que existe a possibilidade de realização de novos exames.

Clique aqui para ler toda a cobertura do caso na página especial Pânico no Rio

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