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16/03/2001 - 03h50

Funcionários apontam falhas na P-36

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CRISTINA GRILLO
da Folha de S.Paulo

A Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras) afirma que a plataforma P-36, que estava em operação desde o dia 16 de maio de 2000, tinha um erro fundamental em seu projeto.

De acordo com Argemiro Pertence, diretor de comunicação da associação, o
queimador de gás natural, que, pelas normas de segurança, tem que ficar longe do deck principal da plataforma, foi instalado muito próximo ao local.

"Por causa do queimador, a temperatura no deck chegava, às vezes, a quase 80C, o que contraria todas as normas de segurança", disse Pertence, que é engenheiro de petróleo e trabalhou durante 25 anos em áreas de prospecção da Petrobras.

As altas temperaturas, na avaliação do engenheiro, podem ter alterado o funcionamento de equipamentos sensíveis e prejudicado a detecção de irregularidades. Pertence diz que, se houve explosão, é porque havia vazamento de gás. "Sem vazamento de gás, não há explosão. Não houve vazamento de óleo, por exemplo, porque isso causaria um incêndio".

Segundo o engenheiro, empregados que estavam na P-36 informaram a representantes da Aepet em Macaé que já haviam reclamado na quarta-feira de um vazamento de gás. "Eles disseram que nada foi feito naquele momento, para não paralisar a produção."

O presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, contestou as denúncias da Aepet. Ele disse que a empresa "jamais" colocaria seus funcionários em risco, se já tivesse detectado problemas.

A possibilidade de um vazamento de gás na plataforma foi confirmada pelo engenheiro Tiago Lopes, da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), que estava na plataforma no momento da explosão.

Muito abalado, Lopes disse ao diretor da Coppe, Segen Estefen, que a primeira explosão, de menor impacto, deve ter aumentado o vazamento de gás, levando a uma grande explosão à 0h45.

"Ele disse que a plataforma toda tremeu, o que mostra a força da explosão", disse Estefen. A P-36 tem a altura de um prédio de 40 andares e pesa 60 mil toneladas.

Lopes, que até o final da tarde ainda estava na plataforma P-47, para onde foram levadas as pessoas que estavam na plataforma acidentada, disse que a situação da P-36 é bastante grave. "A avaliação dele é que a inclinação seja de 30 graus, o que é muito para uma plataforma", disse Estefen.

Alerta
A Comissão de Minas e Energia da Câmara já havia sido alertada sobre supostas irregularidades na construção da P-36 e na contratação da empresa Marítima, responsável pela obra.

A denúncia foi apresentada pelo PT em novembro de 1999. "Houve dispensa de licitação em uma obra de US$ 500 milhões. Naquela época denunciamos outros problemas, como grau de segurança e viabilidade técnica da construção", disse o líder do partido na Câmara, Walter Pinheiro (BA).

O líder do PDT, Miro Teixeira (RJ), pediu ontem a convocação do presidente da Petrobras para explicar a explosão e o aumento do número de acidentes.

O líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), disse que não será preciso convocar o presidente da Petrobras. "Ele virá ao Congresso prestar esclarecimentos no momento oportuno."

Segurança
Embora os engenheiros da Aepet apontem falha na P-36, o especialista em segurança Moacyr Duarte diz que ela é segura e tem um plano de emergência eficaz.

Duarte, que é professor da Coppe-UFRJ, afirma que a morte de um trabalhador no acidente de ontem foi "uma fatalidade".

"Os que se feriram foram os que estavam diretamente relacionados à emergência", diz Duarte. "Só instalações militares são comparáveis a plataformas em termos de segurança e treinamento de pessoal. Até porque os trabalhadores não têm para onde ir em caso de acidente", completa.

Segundo o professor, a explosão não foi exatamente uma surpresa porque quanto mais novo ou mais velho o equipamento, maior a probabilidade de problemas.

Além disso, a Petrobras está pagando pelo seu "pioneirismo", afirma. "Se você tem uma tecnologia de ponta, ninguém pode te ensinar a usá-la. Você tem de aprender fazendo", diz.

Para Duarte, uma prova da confiabilidade do esquema de segurança do local é o fato de que a extração de petróleo não estava sendo feita em sua plena capacidade. "Caso isso estivesse acontecendo, o acidente seria ainda pior".
 

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