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21/03/2001 - 03h42

"Pensei que era treinamento", diz sobrevivente da P-36

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CRISTINA GRILLO, da Folha de S.Paulo, no Rio

Durante 25 minutos, na madrugada de quinta-feira, Tiago Lopes, 53, professor do Programa de engenharia oceânica da Coppe/UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro), pensou estar em um exercício de simulação de acidentes na plataforma P-36.

Com 20 anos de trabalhos em plataforma, Lopes nunca tinha vivido um acidente real. Ele diz que foi acordado por um alarme e vestiu macacão, "crente de que era mais um treinamento".

Houve então a grande explosão. "Aí tive a noção de que havia algo muito
grave. Não seria qualquer explosão que faria uma plataforma como aquela sacudir." Leia abaixo trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O que ocorreu na P-36?
Tiago Lopes -
Fui acordado à 0h20 por um alarme. Acordei, coloquei macacão, bota, colete salva-vidas e fui para o ponto de reunião. Era minha única noite na plataforma. Cheguei para a reunião à 0h25 crente de que era mais um treinamento.

Folha - Até aquele momento o senhor não havia ouvido nenhuma explosão?
Lopes -
Não, mas quem estava do outro lado do corredor de camarotes acordou antes do alarme, com a primeira explosão, por volta da 0h15. Eles acharam que tinha havido colisão de uma embarcação com uma coluna.

Quando o senhor percebeu que havia algo errado?
Lopes -
Por volta da 0h45 houve uma grande explosão. A plataforma sacudiu toda, e quando isso aconteceu tive a noção de que havia algo muito grave. Não seria qualquer explosão que faria uma plataforma como aquela sacudir. A sensação era como se tivesse havido um terremoto.

Folha - Não houve fogo visível?
Lopes -
Não, em momento algum houve fogo no deque de produção. Víamos que a situação era crítica, mas sabíamos que perguntar não ia adiantar.

Folha - Qual era a sensação entre as pessoas (cerca de 45) que estavam no mesmo local?
Lopes -
Ficamos todos muito apreensivos, mas não houve pânico. O que poderia ter causado pânico seria as pessoas enxergarem fogo. Pouco depois de 1h o pessoal da Petrobras veio correndo para apanhar extintores.

Folha - Como foi a retirada do pessoal embarcado?
Lopes -
Havia umas cestinhas, operadas por um guindaste. Oito pessoas de cada vez. Iam para o heliporto, subiam na cestinha, o guindaste levantava e levava até o convés dos rebocadores lá embaixo. Ficaram lá na plataforma só umas 15 pessoas, tentando controlar a situação.

Folha - Quando o senhor teve noção do que havia acontecido com a brigada de incêndio?
Lopes -
Quando cheguei na P-47. Os operadores da Petrobras souberam imediatamente. Um pouco antes da 1h eles ficaram muito nervosos, mas não nos informaram nada porque não podem falar. Tentaram resgatar os companheiros e devem ter visto o que havia acontecido com eles. Encontraram uma pessoa com vida, dentro do elevador da coluna avariada.

Folha - Nesse momento, em que o senhor pensava?
Lopes -
Na família, tentava imaginar o que estava ocorrendo, pensava que de nenhum jeito iria morrer. Pensei: "se tiver fogo aqui, vou descer por aquela escada (uma das escadas externas de uma coluna), chegar a uns 15 m de altura e pular no mar". Houve grande profissionalismo do pessoal da Petrobras. As pessoas que voltaram ao local da explosão sabiam que havia risco de nova explosão, mas continuaram a batalha que os outros não tinham conseguido vencer.

Folha - O senhor conhecia alguma das vítimas?
Lopes -
Era a primeira vez que estava lá. No almoço estava conversando com algumas pessoas, inclusive um dos operadores, que também era da brigada.
 

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