09/05/2001 - 23h00

Loteamentos clandestinos incham Anhanguera, mostra IBGE

da Folha de S.Paulo

Morro Alegre, Palmares e Rosinha são bairros do distrito de Anhanguera (zona norte) que surgiram no embalo dos loteamentos clandestinos. Segundo o IBGE, é o distrito que registrou o maior crescimento populacional da cidade. Entre 1991 e 2000, o número de habitantes aumentou 210,3%, de 12.408 pessoas para 38.502. O de domicílios, 300% _de 2.992 passou para 11.992.

A conquista dessa região paulistana foi protagonizada por moradores de distritos próximos, como Pirituba, Freguesia do Ó, Vila Maria e até o vizinho Perus.

Para compensar a falta de infra-estrutura urbana, os novos moradores encontraram terrenos com preços entre R$ 1.500 e R$ 6.000. Há loteamentos que surgiram no ano passado, caso do Rosinha. Os bairros são de classe média baixa, as ruas, retas, e as construções, bem-feitas, apesar de inacabadas.

Morro Alegre ganhou luz elétrica no meio do ano passado. Em dezembro, chegou a água encanada. Agora, quem perfura o chão de terra batida do bairro é a Telefônica. Os moradores ainda não têm asfalto nem esgoto, mas já podem telefonar de casa.

Quem comprou um terreno de 5 m x 20 m em Morro Alegre na época em que foi loteado, em 1994, pagou nove prestações de um salário mínimo. "Foi o único jeito de eu escapar do aluguel", conta o mecânico Vedival Azevedo do Nascimento, 37, que comprou um lote em 94, mas só se mudou para lá no ano passado.
Já a dona-de-casa Luiza Maria da Silva, 40, mudou-se com a família para o Morro, vinda da Freguesia do Ó, quando ainda era mata fechada. "Até hoje, as crianças andam 3 km de barro até a escola. Quando chove, ninguém chega até aqui. Mas era o jeito de nós termos a nossa casa", afirma.

O comerciante Antonio Martinho de Paulo, 42, sonha: "Isto aqui ainda vai ser um bairro."

O único saldo negativo em Anhanguera é o ambiental. Estudo publicado no ano passado pela Secretaria Municipal do Verde concluiu que a região perdeu, na década de 90, 84 hectares de mata significativa (840 mil m2 ou 118 campos de futebol). Dos 143 loteamentos ilegais identificados no estudo, 20% está na região.

Cercado de dois parques ecológicos estaduais, o distrito é formado por áreas de proteção aos mananciais que integram o sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água de 53% da população da Grande São Paulo.