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07/07/2001
-
03h54
SABRINA PETRY
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Folha de S.Paulo, no Rio
Um protesto de militantes negros no shopping Rio Sul, o mais movimentado da cidade, marcou a abertura da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, que começou ontem no Rio. Adesivos com a frase "Não compre. Esta loja não emprega negros" foram colados nas vitrines de mais de 30 lojas.
Os manifestantes percorreram o Rio Sul carregando cartazes com os mesmos dizeres dos adesivos e discursaram na praça de alimentação. "Queremos chamar a atenção para a discriminação que acontece em todos os outros shoppings da cidade", disse Ivanir dos Santos, presidente do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), que organizou o ato.
Um levantamento feito pelos militantes em 155 lojas do Rio Sul mostrou que, dos 742 funcionários desses estabelecimentos, apenas 26 são negros, ou 3,5%. De acordo com dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 12,7% da população do Rio de Janeiro é negra e 25,5% são pardos.
Funcionária da loja "O Boticário", Vera Cristina Ferreira, 50, que é negra, confirmou a discriminação. "Durante meses procurei emprego como vendedora, e a resposta era sempre a mesma: "não temos vagas". Aí chegava uma loira e ela preenchia ficha para trabalhar como vendedora".
O protesto, acompanhado de perto por seguranças do shopping, foi pacífico. Alguns gerentes se irritaram com a colagem dos adesivos.
Muitos alegavam que havia negros na loja, mas que eles estavam de folga. Outros diziam que já tiveram funcionários negros, mas que não estavam mais trabalhando. Nas poucas lojas em que havia empregados negros, os manifestantes entraram e aplaudiram os funcionários.
"Eles não podem chegar e colar adesivos na minha loja, me acusando de racista. Eles é que são racistas. Na minha loja trabalha quem é educado e competente, não importa a cor", disse a gerente da loja "Dimpus", Heloísa Feo.
Segundo ela, a loja já teve funcionários negros, mas, "coincidentemente", não havia nenhum empregado no momento. "Eles mesmos se discriminam, porque eu quase não recebo pessoas negras querendo trabalhar aqui".
Questionada sobre a ausência de negros em seu quadro de empregados, a subgerente da "Chocolate", Cristina Gonçalves, respondeu: "Tivemos uma funcionária negra linda aqui há um tempo atrás, ela tinha até olhos verdes. Na verdade, eles é que não nos procuraram, e existem tantos negros bonitos lá fora".
Críticas
A abertura da conferência, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi interrompida pelo protesto de funcionários da instituição, que estão em greve. A organização do evento teve de negociar com os grevistas e prometer uma audiência com a vice-governadora Benedita da Silva (PT).
O movimento negro aproveitará a conferência -preparatória para o encontro organizado pelas Nações Unidas e marcado para agosto, na África do Sul- para exigir do governo medidas práticas de combate ao racismo.
"A conferência corre o risco de se transformar num ato de fachada, para que o governo diga que está consultando a sociedade civil. O governo diz uma coisa aqui, outra no exterior, onde muitos ministros não reconhecem a existência do racismo", diz o economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Negros fazem protesto em shopping do Rio
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FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Folha de S.Paulo, no Rio
Um protesto de militantes negros no shopping Rio Sul, o mais movimentado da cidade, marcou a abertura da Conferência Nacional contra o Racismo e a Intolerância, que começou ontem no Rio. Adesivos com a frase "Não compre. Esta loja não emprega negros" foram colados nas vitrines de mais de 30 lojas.
Os manifestantes percorreram o Rio Sul carregando cartazes com os mesmos dizeres dos adesivos e discursaram na praça de alimentação. "Queremos chamar a atenção para a discriminação que acontece em todos os outros shoppings da cidade", disse Ivanir dos Santos, presidente do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), que organizou o ato.
Um levantamento feito pelos militantes em 155 lojas do Rio Sul mostrou que, dos 742 funcionários desses estabelecimentos, apenas 26 são negros, ou 3,5%. De acordo com dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 12,7% da população do Rio de Janeiro é negra e 25,5% são pardos.
Funcionária da loja "O Boticário", Vera Cristina Ferreira, 50, que é negra, confirmou a discriminação. "Durante meses procurei emprego como vendedora, e a resposta era sempre a mesma: "não temos vagas". Aí chegava uma loira e ela preenchia ficha para trabalhar como vendedora".
O protesto, acompanhado de perto por seguranças do shopping, foi pacífico. Alguns gerentes se irritaram com a colagem dos adesivos.
Muitos alegavam que havia negros na loja, mas que eles estavam de folga. Outros diziam que já tiveram funcionários negros, mas que não estavam mais trabalhando. Nas poucas lojas em que havia empregados negros, os manifestantes entraram e aplaudiram os funcionários.
"Eles não podem chegar e colar adesivos na minha loja, me acusando de racista. Eles é que são racistas. Na minha loja trabalha quem é educado e competente, não importa a cor", disse a gerente da loja "Dimpus", Heloísa Feo.
Segundo ela, a loja já teve funcionários negros, mas, "coincidentemente", não havia nenhum empregado no momento. "Eles mesmos se discriminam, porque eu quase não recebo pessoas negras querendo trabalhar aqui".
Questionada sobre a ausência de negros em seu quadro de empregados, a subgerente da "Chocolate", Cristina Gonçalves, respondeu: "Tivemos uma funcionária negra linda aqui há um tempo atrás, ela tinha até olhos verdes. Na verdade, eles é que não nos procuraram, e existem tantos negros bonitos lá fora".
Críticas
A abertura da conferência, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi interrompida pelo protesto de funcionários da instituição, que estão em greve. A organização do evento teve de negociar com os grevistas e prometer uma audiência com a vice-governadora Benedita da Silva (PT).
O movimento negro aproveitará a conferência -preparatória para o encontro organizado pelas Nações Unidas e marcado para agosto, na África do Sul- para exigir do governo medidas práticas de combate ao racismo.
"A conferência corre o risco de se transformar num ato de fachada, para que o governo diga que está consultando a sociedade civil. O governo diz uma coisa aqui, outra no exterior, onde muitos ministros não reconhecem a existência do racismo", diz o economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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