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01/09/2007 - 09h19

Trem fazia ultrapassagem, afirma técnico

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ITALO NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo, no Rio
LUISA BELCHIOR
Colaboração para a Folha, no Rio

O trem sem passageiros que foi atingido por outro que transportava cerca de 750 pessoas, anteontem em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, fazia uma ultrapassagem na hora do acidente, afirmou ontem um técnico da Supervia em depoimento à polícia.

Ele estava na cabine no primeiro vagão do trem que estava em teste. O choque deixou oito mortos e 101 feridos.

A composição vazia pegou uma chave (desvio) e ultrapassou um trem em manutenção que trafegava em baixa velocidade à sua frente. Não conseguiu voltar a tempo ao trilho original.

Ao avistar o trem de passageiros que vinha na direção oposta pela mesma pista, o técnico afirmou que o maquinista acelerou para chegar à chave que o levaria de volta ao trilho original e evitaria a colisão. Apenas dois vagões entraram no desvio a tempo.

O trem com passageiros, que seguia para Japeri, na Baixada, atingiu o final do terceiro vagão da composição que seguia em direção oposta rumo à estação da Central do Brasil e tombou.

Antes do choque, o trem cheio acabara de fazer uma curva, onde logo depois há um sinal indicando ao maquinista se ele deve seguir ou parar.

O professor da Coppe/UFRJ Hostilio Neto classificou a manobra de ultrapassagem como "anômala". "Não é irregular, mas com certeza não é um movimento usual. (...) O maquinista não tem volante, só tem freio ou acelerador. Para mudar de via, precisa da autorização da sala de controle."

O comboio atingido acabara de sair da manutenção e os técnicos verificavam suas condições de uso.

"Quando os trens deixam a oficina, passam por testes nos trilhos. Era o que acontecia naquela hora. Mas o maquinista era experiente", afirmou o presidente da Supervia, concessionária do transporte ferroviário no Rio, Amin Alves Murad.

Caixa-preta

A exemplo do que acontece nos acidentes com aviões, as caixas-pretas dos trens poderão esclarecer se a colisão foi provocada por erro humano ou falha técnica.

Segundo a Supervia, cada trem dispõe de dois sistemas de registros. Um deles capta todo o áudio e fica no Centro de Controle de Operações (CCO), na Central do Brasil. O outro grava as informações de velocidade no próprio trem.

Entre as possíveis causas técnicas apontadas pelo professor da Coppe estão: 1) o sinal do trilho em que estava o trem com passageiros não ficou vermelho após a autorização para o outro usar o desvio; 2) falha no sistema de comunicação direta por voz entre o CCO e o maquinista do trem que vinha da Central; 3) os instrumentos do CCO não detectaram a aproximação da composição que ia para Japeri no trilho usado pelo trem vazio para fazer a ultrapassagem.

A falha humana pode ter sido cometida, ainda segundo Neto, pelo maquinista do trem de passageiros ao não ver o sinal vermelho acionado após o início da ultrapassagem ou pelo controlador, ao acionar o Aparelho de Mudança de Via (AMV) -que faz os vagões trocarem de trilho- sem notar a aproximação do outro trem.

A Supervia fará uma auditoria para descobrir as causas do acidente. Murad não descartou a ocorrência de uma "falha no sistema, no sinal ou na comunicação". O laudo será concluído em dez dias e será disponibilizado para a polícia e o Ministério Público, disse Murad.

"O sistema é totalmente seguro. (...) Qualquer opinião sobre as causas antes de sair o laudo é prematura", afirmou.

O delegado da 58ª DP (Posse), Fábio Pacífico, disse que a principal hipótese é uma "falha operacional". Ele aguarda o laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que deve ser entregue em um mês.

"A princípio não houve interferência externa, como alguém atravessando a linha do trem. Precisamos muito do depoimento das outras pessoas que estavam na cabine."

O maquinista Norival Ribeiro do Nascimento, 50, que dirigia o trem de passageiros, está internado e não corre o risco de morrer. Os outros técnicos que estavam no trem sem passageiros ainda não foram localizados pela polícia.

O presidente do Sindicato dos Ferroviários, Valmir de Lemos, afirmou que a falta de conservação dos trilhos, de sinalização e o excesso de trabalho dos funcionários contribuiu para o acidente.

"O sinal [do sentido Japeri] fica depois da curva. Não daria tempo para o maquinista frear. Deveria ter uma sinalização antes", afirmou.

O diretor de operações da Supervia, João Gouveia, descartou problemas nos trilhos. Isso porque o trecho onde ocorreu o acidente passou por manutenção há uma semana.

Segundo Gouveia, os técnicos fizeram um diagnóstico da altura e da largura dos trilhos por meio de uma tecnologia a laser e não acharam nenhum defeito. "Isso fecha qualquer possibilidade de descarrilamento", afirmou.

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