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08/07/2001 - 16h40

Perfil: O comandante Rolim andava a mil por hora

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SILVIO CIOFFI
Editor de Turismo
da Folha de S.Paulo

Três semanas antes de sua morte, quando, em 17 de junho, a TAM iniciou seus vôos para Frankfurt, ele declarou, em entrevista: "nossa participação no mercado brasileiro de aviação agora é de 31%, de modo que passamos a Varig [que detém no país 80% do mercado de vôos internacionais], o que é um grande feito".

Lula Marques/Folha Imagem

Comandante Rolim, presidente da TAM
Na manhã seguinte, Rolim já estava pronto para, de Frankfurt, ir a Le Bourget, na França, onde, na maior feira mundial de aviação, assinaria contratos de fornecimento de jatos Airbus e Embraer (cujo valor, dependendo do número de encomendas confirmadas, varia de US$ 750 milhões a US$ 3 bilhões).

E isso não era tudo. Nessa mesma manhã, antes de ir para Paris, Rolim já engendrava um outro vôo: ocupar o lugar da combalida Aerolíneas Argentinas, lançando uma linha aérea na Argentina.

A nova empresa seria formada por um braço da TAM no Mercosul, com sede no Paraguai. Também comentava com interesse um artigo de Luís Nassif, publicado pela Folha, onde se aventava a hipótese de criação de uma "AmBev" para a aviação brasileira, juntando TAM e Varig.

Teve um câncer na região da garganta e da faringe, quando foi se tratar nos Estados Unidos. Líder empresarial dinâmico e atirado que faria 59 anos no próximo dia 15 de setembro, Rolim Adolfo Amaro tinha pressa.

Começou sua carreira de piloto nos anos 60, na empresa Táxi Aéreo Marília. Sua ambição na época, dizia, com sotaque do interior, era a de ser "o melhor comandante da companhia". Mas, por uma ironia do destino, acabou deixando a Táxi Aéreo Marília e foi ser piloto para o Projeto BCN, às margens do rio Araguaia.

Foi nessa época que Rolim comprou o seu primeiro avião, um Cessna-170, de três lugares. Dois anos depois, já dirigia uma frota de dez aviões na Araguaia Transportes Aéreos (ATA).

Nesse meio tempo, a Táxi Aéreo Marília, ou TAM, foi vendida para o fazendeiro Orlando Ometto, dirigente do Grupo Ometto. Orlando era amigo e passageiro do comandante Rolim _e logo o convidou para ser sócio da TAM.

Foi aí que o comandante Rolim realmente decolou no mundo da aviação comercial brasileira. Não que tudo tivesse sido céu de brigadeiro para esse paulista da Pereira Barreto.

A TAM, que hoje tem 7.000 funcionários e opera 68 jatos (50 Fokker-100 e 18 Airbus) _voando, no exterior, para destinos como Buenos Aires, Miami, Paris e Frankfurt_ enfrentou acidentes feios, como aquele do Fokker-100 que, em outubro de 1996, caiu sobre o casario próximo do aeroporto de Congonhas, matando 99 passageiros e, num outro, ocorrido no ano seguinte, quando um passageiro foi ejetado do avião.

O comandante Rolim fez mais de 300 conferências em entidades empresariais, universidades e escolas nos últimos cinco anos. Em 1993, foi paraninfo da turma de engenheiros do ITA e, em 1996, ganhou o prêmio excelência da Associação dos Engenheiros formados pela mesma prestigiosa escola de engenharia aeronáutica de São José dos Campos. Ainda em 1996, recebeu o título de Cidadão Paulistano.

Sua obsessão pela TAM e pelo marketing criou a campanha "fale com o presidente", programa que visava aproximar o passageiro da empresa _e não raro o comandante, pessoalmente, era visto destacando bilhetes na escadinha de seus aviões.

Rolim Adolfo Amaro estimava que a TAM fecharia o ano de 2001 faturando algo em torno de US$ 1,5 bilhão. "Estamos dentro de nossa previsão de faturamento em real, mas há o problema da variação cambial".

Crítico dos políticos, "tenho histórias com eles para contar: umas boas, outras, nem tanto", Rolim, à essa altura, não era só otimismo. Apesar do vulto das transações que capitaneava, declarou, há exatas três semanas, numa segunda-feira, que íamos ter "tempos difíceis pela frente: sobretudo se o dólar for a R$ 2,70, como eu acho que ele vai". Quem sobreviver verá.

Leia mais sobre o acidente que matou o comandante Rolim
 

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