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09/07/2001 - 22h06

Polícia captura só 28 dos 106 fugitivos do Carandiru

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ALESSANDRO SILVA
CHICO DE GOIS
da Folha de S.Paulo

A polícia levou quase nove horas para localizar os primeiros fugitivos da Casa de Detenção de São Paulo que escaparam ontem à tarde por meio de um túnel. Até o final da tarde, apenas 28 dos 106 detentos haviam sido recapturados. Foi a maior fuga da Casa de Detenção.

O secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, abriu sindicância para apurar a eventual participação de funcionários na facilitação da fuga. A maioria dos fugitivos foi condenada por homicídio e roubo.

O túnel por onde escaparam os fugitivos foi descoberto às 12h30 do domingo. No entanto, somente às 21h15 é que foi localizado o primeiro fugitivo. Ele estava ferido e foi achado próximo ao Centro de Observação Criminológica (COC), ao lado da Detenção.

Outros dois detentos foram recapturados às 22h30 a algumas quadras do local da fuga. Com eles a polícia apreendeu dois celulares.

Às 23h30 de ontem, um grupo de 16 presos foi localizado ainda escondido na rede de galerias subterrâneas da avenida Ataliba Leonel, ao lado do presídio.

Os policiais tiveram de jogar bombas dentro da rede de dutos para obrigar os presos a se render. Os demais fugitivos da Detenção recapturados foram localizados durante a madrugada. Um deles, Ubirajara Gregório do Nascimento, 40, cumpria pena na Casa de Detenção desde abril deste ano.

O túnel de 15 metros de comprimento usado na fuga tinha escoramento de madeira e as paredes reforçadas com pó de cimento.

Por meio dele, os detentos entraram em um sistema de galerias com aproximadamente oito quilômetros de extensão, segundo estimativa de peritos do IC (Instituto de Criminalística).

A Polícia Militar acredita que a operação da fuga estava bem planejada. De acordo com o capitão Samuel Pizarro de Oliveira, que comandou a varredura à caça dos detentos, um grupo de 30 fugitivos foi resgatado a quatro quilômetros do presídio, após caminhar pelas galerias subterrâneas.

O número foi calculado a partir das calças de presidiários encontradas em duas casas abandonadas, onde os detentos tomaram banho e se trocaram. Os imóveis ficam na rua Sérvio Rodrigues Caldas, próximo à estação Parada Inglesa do Metrô.

Segundo o capitão Pizarro, um outro grupo deixou a rede de tubos na avenida Luís Dumont Villares, a três quilômetros do complexo do Carandiru.

No final do dia, a PM apreendeu no Tucuruvi (zona norte) uma Topic, furtada há cinco dias, que possivelmente foi usada na fuga.

Informações obtidas com moradores desses bairros indicaram à polícia que os presos saíram dos buracos nesses pontos entre 23h e 24h, enquanto as buscas eram feitas distantes dali.

Para o capitão, o grupo que escapou desse modo deve ter financiado a operação. ''Essa é a regra: primeiro saem os financiadores, seguidos de colaboradores e, por fim, os que conseguirem'', afirmou Pizarro.

Peritos
Os peritos acreditam que os túneis foram cavados do lado externo da Detenção. ''Deu para constatar que ele foi feito de fora para dentro'', afirmou o perito-chefe do caso, José Carlos Tamashiro.

Dentro da passagem subterrânea, os peritos apreenderam uma marreta, pregos e uma picareta, mais um carrinho improvisado que servia para arrastar a terra durante a escavação.

Na manhã desta segunda-feira, a direção do presídio corrigiu o número de foragidos: são 106 e não 105, como foi divulgado anteriormente. Um novo levantamento no pavilhão 9, feito de madrugada, detectou uma ausência.

O secretário Furukawa, depois de visitar o Carandiru, disse que a fuga provavelmente aconteceu na manhã de anteontem, depois das 8h30 _horário em que os presidiários saem das celas e chegam ao pátio externo.

A Polícia Militar, no entanto, acredita que a fuga ocorreu ao longo de dois dias, segundo o coronel Rui César Melo, comandante-geral da corporação. "Pelo que me informaram, no local do túnel já havia sido descoberta, em 1996, outra escavação", afirmou.

O diretor da penitenciária 1 da Detenção (os pavilhões 2, 5 e 8), Jesus Ross Martins, disse não ter conhecimento disso. ''Nós estamos dentro das muralhas, como é que vamos saber o que está acontecendo do lado de fora, sob a terra?''

Somente neste ano, segundo a direção da Casa de Detenção, 30 túneis foram descobertos.

A recaptura de fugitivos costuma ser lenta. Em junho de 1999, 334 presidiários fugiram do presídio de Putim, em São José dos Campos. Menos da metade (145) foi localizada. Em abril deste ano, 135 detentos escaparam do cadeião de Pinheiros e somente 17 foram detidos novamente.

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