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22/07/2001
-
08h57
da Folha de S. Paulo
Há um hábito que é quase norma entre os PMs que vivem em favelas e cortiços: na vizinhança, ninguém pode saber o que fazem.
Nos barracos próximos, dizem, existem bases e casas de infratores que não só são conhecidos dos PMs, como contam a eles seus crimes. Os delitos ficam impunes. No vale-tudo da periferia, a lei da sobrevivência é mais forte do que o Regulamento Disciplinar.
Pelo regulamento, é infração média "frequentar lugares incompatíveis com o decoro social ou policial militar" e grave "faltar com a verdade". Ambas podem ter a prisão como punição.
Os policiais que contam suas histórias não permitem que seus nomes sejam divulgados. Coisas do regulamento, que pune comentários sobre a polícia.
É o caso dos soldados Sérgio, 46, 20 anos de PM, e Santos, 45, 23 deles na corporação. Ambos deram nomes fictícios, vivem em favelas da Grande SP, dividem um único quarto com a mulher e os filhos adolescentes -dois e três, respectivamente-, têm seus nomes nos serviços de proteção ao crédito, gastam cerca de 30% dos salários [menos de R$ 700 líquidos" pagando prestações de empréstimos, fazem bico, não dizem quantos já mataram e escondem que são PMs. "É a lei da selva. Eles [os vizinhos" acham que eu vivo de catar papelão", diz Santos.
A fantasia com a qual Sérgio é obrigado a conviver é ainda mais elaborada. Os vizinhos acham que ele vive de "consertar computador".
Ele diz que trabalha também de noite porque "os funcionários usam o computador de dia, e ninguém pode mexer na rede".
Quando alguém da favela aparece com um aparelho para ele consertar, afirma estar cansado e indica um técnico da região.
"Deixo a farda no batalhão", narra Sérgio, que esconda das filhas que trabalha nas ruas.
"Eu às vezes trago a farda para casa em uma sacola. Venho rezando para ninguém resolver abrir a bolsa", completa Santos.
Mazelas comuns, sonhos idênticos. "Quero um dia morar bem, poder dizer com orgulho que sou policial e tirar a funcional de dentro do sapato", diz Santos.
Leia mais sobre a crise da polícia
Favelado, policial esconde profissão da vizinhança
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Há um hábito que é quase norma entre os PMs que vivem em favelas e cortiços: na vizinhança, ninguém pode saber o que fazem.
Nos barracos próximos, dizem, existem bases e casas de infratores que não só são conhecidos dos PMs, como contam a eles seus crimes. Os delitos ficam impunes. No vale-tudo da periferia, a lei da sobrevivência é mais forte do que o Regulamento Disciplinar.
Pelo regulamento, é infração média "frequentar lugares incompatíveis com o decoro social ou policial militar" e grave "faltar com a verdade". Ambas podem ter a prisão como punição.
Os policiais que contam suas histórias não permitem que seus nomes sejam divulgados. Coisas do regulamento, que pune comentários sobre a polícia.
É o caso dos soldados Sérgio, 46, 20 anos de PM, e Santos, 45, 23 deles na corporação. Ambos deram nomes fictícios, vivem em favelas da Grande SP, dividem um único quarto com a mulher e os filhos adolescentes -dois e três, respectivamente-, têm seus nomes nos serviços de proteção ao crédito, gastam cerca de 30% dos salários [menos de R$ 700 líquidos" pagando prestações de empréstimos, fazem bico, não dizem quantos já mataram e escondem que são PMs. "É a lei da selva. Eles [os vizinhos" acham que eu vivo de catar papelão", diz Santos.
A fantasia com a qual Sérgio é obrigado a conviver é ainda mais elaborada. Os vizinhos acham que ele vive de "consertar computador".
Ele diz que trabalha também de noite porque "os funcionários usam o computador de dia, e ninguém pode mexer na rede".
Quando alguém da favela aparece com um aparelho para ele consertar, afirma estar cansado e indica um técnico da região.
"Deixo a farda no batalhão", narra Sérgio, que esconda das filhas que trabalha nas ruas.
"Eu às vezes trago a farda para casa em uma sacola. Venho rezando para ninguém resolver abrir a bolsa", completa Santos.
Mazelas comuns, sonhos idênticos. "Quero um dia morar bem, poder dizer com orgulho que sou policial e tirar a funcional de dentro do sapato", diz Santos.
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