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02/08/2001 - 20h32

Para meteorologia, ciclone poderia ocorrer onde helicóptero caiu

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LÍVIA MARRA
da Folha Online
e da Folha de S.Paulo

A presença da frente fria, com ventos e mar agitado, com ondas altas, era a previsão da meteorologia para o litoral norte de SP onde ocorreu a queda do helicóptero do Grupo Pão de Açúcar, na última sexta-feira, dia 27.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou à Folha Online que dois dias antes do acidente já havia a previsão da passagem de uma frente fria no Estado, acompanhado do "ciclone extra-tropical".

O Inpe não fornece boletins para os aeroportos, mas informou que "qualquer meteorologista teria acesso à informação" sobre a ocorrência de um "sistema de baixa pressão" _outra denominação para ciclone extra-tropical.

"Qualquer um poderia ter acesso às imagens e às previsões do tempo do Cptec/Inpe", segundo a meteorologista Glaucia Meira Carneiro, do Inpe. Antes de qualquer vôo os pilotos são obrigados a verificar as condições de tempo do destino. O DAC (departamento de Aviação Civil) confirma essa informação.

Segundo o Inpe, o ciclone extra-tropical é muito diferente do ciclone tropical, ou furacão. O extra-tropical é uma região onde a pressão atmosférica é mais baixa e ventos convergem, fazendo massas de ar quente e frio se encontrarem e formarem as frentes. A chegada de uma frente fria é marcada por queda de pressão atmosférica, ventos moderados vindos de Sul, com rajadas, geralmente muita nebulosidade e queda de temperatura. O ciclone acompanha a frente.

Ainda segundo o Instituto, é pela pressão atmosférica que o piloto se guia para conhecer sua altitude, principalmente se não tiver visibilidade.

"Com certeza a Aeronáutica deve ter previsto isso porque tem acesso às imagens. Cada aeroporto tem um departamento de meteorologia", disse. A frente fria era prevista como "normal", mas os ventos, dois dias antes da queda do helicóptero, já eram classificados de "moderados". Ou seja, poderiam aumentar nos dias seguintes.

"Foi imprudência saber que tinha frente fria com ventos e seguir viagem", afirmou a meteorologista.

Estavam na aeronave João Paulo Diniz (vice-presidente do grupo), sua namorada (Fernanda Vogel), o piloto Ronaldo Ribeiro e o co-piloto Luiz Araújo Cintra. Diniz e Araújo se salvaram nadando até a praia, a 3 km da queda, mas Ribeiro e Fernanda morreram. O corpo de Fernanda ainda não foi localizado.

A aeronave era um modelo Agusta 109 Power, com menos de dois anos de uso, avaliada em torno de US$ 3 milhões, segundo edição da revista "Aeromagazine" de março de 2000. O Agusta Power dos Diniz foi fabricado em 99.

Dados meteorológicos dos órgãos de controle do tráfego aéreo em São José dos Campos e Santos, que são as referências mais próximas para os pilotos que querem sobrevoar Maresias, informava que, nos dois municípios, a situação não era recomendada para vôos visuais.

Piloto morto
O corpo do piloto Ronaldo Ribeiro, 47, foi encontrado anteontem na praia de Santiago, numa distância incerta, estimada entre 5 e 10 km do local da queda.

Laudo necroscópico do IML em São Sebastião, divulgado nesta quinta-feira, apontou que a causa da morte de Ribeiro foi afogamento. Cerca de cem pessoas acompanharam ontem de manhã missa em memória do piloto.

Plano de vôo
O DAC (Departamento de Aviação Civil) investiga a possibilidade de Ribeiro não ter comunicado aos órgãos de controle do tráfego sobre seus planos de vôo. Esse é um procedimento obrigatório, por meio do qual ele poderia solicitar informações meteorológicas.



O órgão identificou apenas um plano de vôo feito no Campo de Marte, em São Paulo, em que há informações de um deslocamento da aeronave até a avenida Brigadeiro Luís Antonio, onde fica um prédio do grupo Pão de Açúcar.

De lá ele poderia fazer um novo plano de vôo para Maresias, ou então, comunicar via rádio sobre essa intenção, mesmo após a decolagem. "Ainda não sabemos se ele avisou. Estamos checando, mas ainda não temos a confirmação", disse Marco Aurélio Sendin, coronel do Serac-4 (Serviço Regional de Aviação Civil), responsável pelas investigações do DAC.

Sendin afirmou que, mesmo havendo contato, a decisão de seguir vôo é exclusivamente do piloto. "É ele que avalia se quer voltar ou se dá para prosseguir".

Apesar de o co-piloto ter afirmado após a queda do helicóptero que suspeitava de pane mecânica, as investigações não indicam essa hipótese por enquanto. Segundo ele, também "existem indícios de falha humana, mas também há diversas possibilidades. É muito cedo para alguma conclusão".
 

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