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30/12/2001
-
05h42
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
A identificação precoce da esquizofrenia, doença que atinge 1% da população mundial e que não tem cura, e o seu tratamento podem abortar ou retardar os efeitos da síndrome. É a hipótese de uma pesquisa com 1.500 pessoas, que está sendo desenvolvida por cientistas de 23 países, entre eles EUA, Canadá, Japão e Brasil.
O psiquiatra carioca Jorge Alberto da Costa e Silva, 59, diretor do Centro Internacional de Pesquisas e Política de Saúde Mental da Universidade de Nova York, coordena o trabalho no Brasil.
Segundo ele, um estudo inicial, feito com 80 pessoas, divididas em dois grupos, mostrou que aquelas que receberam medicamentos logo após a detecção dos sinais precoces da esquizofrenia não desenvolveram a doença. Abaixo, trechos da entrevista:
Folha - Em que momento da vida a esquizofrenia se manifesta?
Jorge Alberto da Costa e Silva - A doença atinge basicamente jovens e adolescentes que têm casos de esquizofrenia na família, num momento em que ocorre no cérebro uma destruição das conexões entre as células nervosas para a construção das novas conexões [o fenômeno é conhecido por "poda das sinapses", "proning", em inglês", que vão possibilitar ao indivíduo se organizar mentalmente para o resto da vida. Tudo o que atinge o cérebro nesse momento pode provocar danos irreversíveis. A gente consegue controlar hoje, por meio de medicamentos, a maioria dos sintomas esquizofrênicos, mas as vítimas serão indivíduos com cicatrizes de personalidade por toda a vida.
Folha - Qual a importância dessa pesquisa?
Costa e Silva - Os primeiros resultados de estudos preliminares mostram que, se conseguirmos identificar alguns sintomas precoces da doença antes dos maiores (delírios, alucinações etc.), seria o único momento para abortá-la ou retardá-la. Iniciamos em novembro a fase de traduzir os instrumentos de identificação de sintomas. Na segunda fase, a começar em março, vamos testar esses instrumentos, ou seja, identificar os sinais precoces. A partir daí, na terceira fase, começaremos a medicar essas pessoas e ver o que ocorre dois ou três anos depois, período em que a doença geralmente aparece. Nós fizemos a prova do conceito, uma metodologia moderna para testar a hipótese em pequenos grupos, com 80 pessoas: 40 tomaram o remédio e 40 receberam placebo. No grupo medicado, em dois anos, nenhum indivíduo desencadeou a doença. No outro, 33% dos indivíduos desenvolveram a esquizofrenia.
Folha - Como avaliar esses sinais precoces?
Costa e Silva - Os sintomas se parecem muito com uma crise de adolescente. O sujeito fica muito retraído, cai a performance escolar, fica trancado dentro do quarto, irrita-se facilmente, dorme de dia e fica acordado à noite, entre outros. Isso tudo sem estar ligado a drogas ou a eventos traumáticos. O indivíduo que tem alguém esquizofrênico na família, em primeiro grau (pai, mãe, irmãos), tem dez vezes mais chances de desenvolver a doença.
Folha - A doença só atinge pessoas com esquizofrenia na família?
Costa e Silva - Tem de haver uma predisposição genética, mas acreditamos que é preciso a ação de fatores ambientais para que a doença se expresse. Mas ainda não conhecemos esses fatores.
Identificação precoce pode evitar esquizofrenia
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da Folha de S.Paulo
A identificação precoce da esquizofrenia, doença que atinge 1% da população mundial e que não tem cura, e o seu tratamento podem abortar ou retardar os efeitos da síndrome. É a hipótese de uma pesquisa com 1.500 pessoas, que está sendo desenvolvida por cientistas de 23 países, entre eles EUA, Canadá, Japão e Brasil.
O psiquiatra carioca Jorge Alberto da Costa e Silva, 59, diretor do Centro Internacional de Pesquisas e Política de Saúde Mental da Universidade de Nova York, coordena o trabalho no Brasil.
Segundo ele, um estudo inicial, feito com 80 pessoas, divididas em dois grupos, mostrou que aquelas que receberam medicamentos logo após a detecção dos sinais precoces da esquizofrenia não desenvolveram a doença. Abaixo, trechos da entrevista:
Folha - Em que momento da vida a esquizofrenia se manifesta?
Jorge Alberto da Costa e Silva - A doença atinge basicamente jovens e adolescentes que têm casos de esquizofrenia na família, num momento em que ocorre no cérebro uma destruição das conexões entre as células nervosas para a construção das novas conexões [o fenômeno é conhecido por "poda das sinapses", "proning", em inglês", que vão possibilitar ao indivíduo se organizar mentalmente para o resto da vida. Tudo o que atinge o cérebro nesse momento pode provocar danos irreversíveis. A gente consegue controlar hoje, por meio de medicamentos, a maioria dos sintomas esquizofrênicos, mas as vítimas serão indivíduos com cicatrizes de personalidade por toda a vida.
Folha - Qual a importância dessa pesquisa?
Costa e Silva - Os primeiros resultados de estudos preliminares mostram que, se conseguirmos identificar alguns sintomas precoces da doença antes dos maiores (delírios, alucinações etc.), seria o único momento para abortá-la ou retardá-la. Iniciamos em novembro a fase de traduzir os instrumentos de identificação de sintomas. Na segunda fase, a começar em março, vamos testar esses instrumentos, ou seja, identificar os sinais precoces. A partir daí, na terceira fase, começaremos a medicar essas pessoas e ver o que ocorre dois ou três anos depois, período em que a doença geralmente aparece. Nós fizemos a prova do conceito, uma metodologia moderna para testar a hipótese em pequenos grupos, com 80 pessoas: 40 tomaram o remédio e 40 receberam placebo. No grupo medicado, em dois anos, nenhum indivíduo desencadeou a doença. No outro, 33% dos indivíduos desenvolveram a esquizofrenia.
Folha - Como avaliar esses sinais precoces?
Costa e Silva - Os sintomas se parecem muito com uma crise de adolescente. O sujeito fica muito retraído, cai a performance escolar, fica trancado dentro do quarto, irrita-se facilmente, dorme de dia e fica acordado à noite, entre outros. Isso tudo sem estar ligado a drogas ou a eventos traumáticos. O indivíduo que tem alguém esquizofrênico na família, em primeiro grau (pai, mãe, irmãos), tem dez vezes mais chances de desenvolver a doença.
Folha - A doença só atinge pessoas com esquizofrenia na família?
Costa e Silva - Tem de haver uma predisposição genética, mas acreditamos que é preciso a ação de fatores ambientais para que a doença se expresse. Mas ainda não conhecemos esses fatores.
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