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25/01/2002 - 07h18

Contratos de Santo André são investigados

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FREDERICO VASCONCELOS
da Folha de S.Paulo

O assassinato do prefeito Celso Daniel abriu espaço para a administração do tucano Geraldo Alckmin investigar um tema incômodo para o Partido dos Trabalhadores: as relações do PT com empreiteiros e fornecedores e os esquemas de financiamento de campanhas eleitorais.

Salvo se ficar comprovado que foi um sequestro comum -e a polícia deve trabalhar com todas as hipóteses-, a controvertida presença do empresário Sérgio Gomes da Silva no centro do episódio, mesmo como vítima sobrevivente, transformará em investigação policial o que até então era alvo de discreta apuração pelos tucanos: os negócios envolvendo empreiteiros e prefeituras petistas e, no limite, como funcionaria o caixa de campanha do PT.

Num ano de eleições, o assassinato brutal de Daniel é um fator de desgaste para o PSDB. Em contrapartida, as relações suspeitas de personagens que circulavam em torno do prefeito podem dar aos tucanos, para uso posterior, munição inesperada pelos petistas. A Folha apurou que essa teia de ligações vinha sendo levantada há algum tempo, reservadamente, por membros da segurança pública no governo tucano.

Dadas as ligações de Sérgio Gomes com o empresário Ronan Maria Pinto, tido como beneficiário de licitações dirigidas em Santo André, eventuais irregularidades investigadas na esfera administrativa podem vir a ganhar a atenção de inquéritos policiais.

Se o crime tiver outra conotação -como "acerto" de grupos-, ainda assim sobrará um viés político se envolver figuras que tinham ou tiveram algum trânsito junto à administração municipal.

A cúpula do PT queixa-se de que, para disfarçar a ineficiência de sua polícia, a administração tucana alimentaria versões de negócios ilegais, levantando suspeitas sobre a honestidade de Daniel.

Na contramão, políticos tucanos dizem que as eleições de 2000 em Santo André foram fartas em recursos, assim como prosperaram, na época, os dossiês apontando a suspeita de direcionamento de licitações e superfaturamento de obras públicas.

O alvo político não era apenas Celso Daniel. Batia-se também no secretário de Serviços Municipais Klinger Luiz de Oliveira Souza, responsável pela assinatura dos contratos e que se dizia vítima de perseguição comandada pelo "cartel de empresas do lixo".

Klinger atribuía o questionamento dos contratos a interesses contrariados, pois a prefeitura rompera um monopólio de 22 anos na área de limpeza pública, afastara uma grande empresa do mercado e estabelecera um patamar de preços mais baixos.

Essa explicação não afastava o fato que Santo André substituíra um cartel por um fornecedor preferencial -Ronan e as empresas que criou, a Rotedali e a Projeção-, cuja origem em nada difere da dos empresários do setor.

Empreiteiro de transportes coletivos de Minas Gerais, Ronan criou a construtora Projeção em 1995, com sede em Santo André e filial em Catanduva (município gerido pelo PT).

Já a Rotedali foi fundada no ano seguinte em Catanduva, com filial em Santo André.

Ronan admitiu que suas empresas pagaram elevadas somas, a título de "consultoria", a Sérgio Gomes, de quem era sócio na aquisição de dois imóveis.

Na administração Daniel/Klinger, Ronan também ganhou negócios sem licitação ou driblando concorrências nas áreas de limpeza pública e construção. Em 1993, antes de firmar sua presença como aliado do PT em Santo André, Ronan fechou acordo com Paulo Maluf e assinou compromisso para reduzir a tarifa de ônibus, rompendo com o sistema de municipalização dos transportes de Luiza Erundina, então no PT.

Ronan firmou manifesto afirmando que na gestão de Maluf os empresários de ônibus poderiam entrar "pela porta da frente", ao contrário da gestão do PT, quando tinham que "dialogar entrando pela porta dos fundos".


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sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel
 

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