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10/02/2002
-
09h29
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo
Todos os dias, antes de sair para o trabalho, o comerciante Massataka Ota, 45, passa pelo quarto do filho, deseja bom dia e faz uma oração. "Até logo, meu menino." No final do dia, quando retorna, passa pelo quarto para contar as novidades, dizer boa noite e rezar.
Conversar com o filho, como se estivesse vivo, foi a forma que Ota achou para tentar superar o trauma de sua morte. Ives Yoshiaki Ota foi assassinado em agosto de 1997 depois de sequestrado pelos seguranças do próprio pai. Tinha oito anos. Um dos sequestradores, policial militar, enterrou o corpo de Ives debaixo do berço onde dormia o filho.
Há três anos Ota dedica algumas horas para ajudar na horta cultivada no pátio do Presídio Romão Gomes, no Tremembé, zona norte, que abriga ex-policiais militares. Entre os presos estão os dois assassinos de seu filho.
Os especialistas lembram que abraçar uma causa pode ser uma forma de superar a perda. Ota escolheu servir aos sequestradores que mataram seu filho.
"Os homens que estão lá presos se afastaram de Deus. Mas, se eles trabalharem a terra, podem tirar a erva daninha que está em seus corações e deixar Deus entrar."
Por medida de segurança, os dois ex-policiais ainda não estão autorizados a trabalhar na horta. Nunca olharam para Ota, mesmo quando o comerciante foi visitá-los em suas celas. "Ficam de cabeça baixa, nunca pediram perdão. Eu já os perdoei, mas o homem só compreende a força do perdão depois de sofrer muito."
Ota diz que conseguiu sair do trauma dedicando-se às promessas que fez ao filho. No mesmo dia do enterro, ele iniciou um abaixo-assinado pedindo a pena de prisão perpétua para crimes hediondos, como o de sequestro. Reuniu 2,5 milhões de assinaturas. "O Congresso não se manifestou."
Também fundou o "Movimento Paz e Justiça Ives Ota", onde todas as quintas são feitos encontros contra a violência. A mulher, Iolanda Keiko, 45, dedica-se a palestras em escolas.
"No começo, eu tinha muito ódio, queria morte, falava em vingança,
depois vi que essa não era a vontade do Ives, ele só queria paz e alegria. Mas prometi a ele que lutaria por mais justiça, que um dia vamos ter a prisão perpétua."
Ota diz que durante semanas viveu atormentado por pesadelos. "Eu sonhava com o meu filho pedindo ajuda. A imagem dos três assassinos vinha na memória o tempo todo, não saía. Eu acordava de madrugada, ajoelhava no pé da cama e pedia a Deus que afastasse de mim aqueles pensamentos. Eu me apeguei muito a Deus, a oração me ajudou demais. Rezo todos os dias diante do altar que montamos no quarto do Ives."
Iolanda, na época com 42 anos, ficou grávida um ano após a morte de Ives, depois de muito tempo tentando ter um outro filho. Veio uma filha, hoje com três anos e batizada de Ises. "Ela tem o mesmo jeito e a mesma pinta no dedinho que o Ives tinha", diz o pai.
Pai "conversa" com filho assassinado aos 8 anos
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da Folha de S.Paulo
Todos os dias, antes de sair para o trabalho, o comerciante Massataka Ota, 45, passa pelo quarto do filho, deseja bom dia e faz uma oração. "Até logo, meu menino." No final do dia, quando retorna, passa pelo quarto para contar as novidades, dizer boa noite e rezar.
Conversar com o filho, como se estivesse vivo, foi a forma que Ota achou para tentar superar o trauma de sua morte. Ives Yoshiaki Ota foi assassinado em agosto de 1997 depois de sequestrado pelos seguranças do próprio pai. Tinha oito anos. Um dos sequestradores, policial militar, enterrou o corpo de Ives debaixo do berço onde dormia o filho.
Há três anos Ota dedica algumas horas para ajudar na horta cultivada no pátio do Presídio Romão Gomes, no Tremembé, zona norte, que abriga ex-policiais militares. Entre os presos estão os dois assassinos de seu filho.
Os especialistas lembram que abraçar uma causa pode ser uma forma de superar a perda. Ota escolheu servir aos sequestradores que mataram seu filho.
"Os homens que estão lá presos se afastaram de Deus. Mas, se eles trabalharem a terra, podem tirar a erva daninha que está em seus corações e deixar Deus entrar."
Por medida de segurança, os dois ex-policiais ainda não estão autorizados a trabalhar na horta. Nunca olharam para Ota, mesmo quando o comerciante foi visitá-los em suas celas. "Ficam de cabeça baixa, nunca pediram perdão. Eu já os perdoei, mas o homem só compreende a força do perdão depois de sofrer muito."
Ota diz que conseguiu sair do trauma dedicando-se às promessas que fez ao filho. No mesmo dia do enterro, ele iniciou um abaixo-assinado pedindo a pena de prisão perpétua para crimes hediondos, como o de sequestro. Reuniu 2,5 milhões de assinaturas. "O Congresso não se manifestou."
Também fundou o "Movimento Paz e Justiça Ives Ota", onde todas as quintas são feitos encontros contra a violência. A mulher, Iolanda Keiko, 45, dedica-se a palestras em escolas.
"No começo, eu tinha muito ódio, queria morte, falava em vingança,
depois vi que essa não era a vontade do Ives, ele só queria paz e alegria. Mas prometi a ele que lutaria por mais justiça, que um dia vamos ter a prisão perpétua."
Ota diz que durante semanas viveu atormentado por pesadelos. "Eu sonhava com o meu filho pedindo ajuda. A imagem dos três assassinos vinha na memória o tempo todo, não saía. Eu acordava de madrugada, ajoelhava no pé da cama e pedia a Deus que afastasse de mim aqueles pensamentos. Eu me apeguei muito a Deus, a oração me ajudou demais. Rezo todos os dias diante do altar que montamos no quarto do Ives."
Iolanda, na época com 42 anos, ficou grávida um ano após a morte de Ives, depois de muito tempo tentando ter um outro filho. Veio uma filha, hoje com três anos e batizada de Ises. "Ela tem o mesmo jeito e a mesma pinta no dedinho que o Ives tinha", diz o pai.
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