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22/01/2009 - 09h24

Igreja Renascer não seguiu sugestão do IPT para revisar telhado

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

A Igreja Renascer em Cristo não seguiu a recomendação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de fazer revisões periódicas na estrutura do telhado que desabou no último domingo na região central de São Paulo, causando a morte de nove pessoas.

Veja a cobertura completa sobre o desabamento na Renascer

As revisões, de acordo com o IPT, eram fundamentais para garantir a segurança do teto. A Renascer diz ter feito as revisões, afirma que elas eram simples, mas não tem documentos para comprová-las. Revisões sem documentação técnica não têm valor legal.

Rubens Cavallari/Folha Imagem
Desabamento do teto da sede da Renascer deixou 9 mortos e mais de cem feridos; demolição está prevista para esta sexta-feira
Desabamento do teto da sede da Renascer deixou 9 mortos e mais de cem feridos; demolição está prevista para esta sexta-feira

A recomendação faz parte do relatório que o IPT elaborou em 15 de fevereiro de 2000, atestando que as recomendações que os engenheiros tinham feito para restaurar a estrutura do telhado da igreja haviam sido cumpridas. "Devido aos reforços introduzidos nas tesouras TR 01 a TR 14 a segurança está restabelecida nas condições atuais'", diz o texto. Tesoura é o jargão pelo qual é conhecida a estrutura triangular que sustenta as telhas.

Há, porém, uma ressalva na aprovação da reforma: "No entanto, esta segurança precisa ser verificada ao longo do tempo, inspecionando-se periodicamente, para detectar possíveis danos causados à estrutura de madeira por fadiga, desgaste físico, biodeterioração e eventual sobrecarga não prevista".

Segue o texto: "Portanto, desde que sejam realizadas as inspeções periódicas, pode-se concluir que a estrutura de madeira atende aos requisitos de segurança de acordo com os critérios estabelecidos na NBR 7190/97". NBR 7190/97 é a norma brasileira que trata de estruturas de madeira. Foi elaborada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) em 1997.

A recomendação está nas conclusões do documento do IPT, num item que trata da análise estrutural do edifício.

A Renascer precisou alterar a estrutura do telhado porque havia vigas com cupim e a igreja queria adicionar ar-condicionado ao edifício. O prédio que a Renascer escolheu para a sua sede mundial foi construído em 1973 e abrigou um cinema.

O escritório contratado para o projeto estrutural, do engenheiro Carlos Freire, propôs que o ar-condicionado ficasse numa torre de metal para não sobrecarregar o telhado.

Os dutos que conduzem o ar para dentro do prédio, porém, foram instalados sob o telhado. Para isso, o IPT sugeriu que a igreja usasse estruturas de metal para reforçar as vigas de madeira, o que foi feito.

Vistoria técnica como a sugerida pelo IPT só tem valor legal se for documentada, segundo o engenheiro Marcos Monteiro, presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural).

Esse tipo de relatório tem o nome de ART (Anotação de Responsabilidade Técnica). Ele define quem são os responsáveis técnicos por uma obra ou revisão. "Sem documentação não dá para comprovar que houve revisão periódica", afirma Monteiro.

Outro lado

A assessoria da Renascer informou ontem, por meio de nota, que "todas as manutenções foram realizadas", o que pode ser comprovado por documento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas entregue à reportagem da Folha. O documento só recomenda as revisões.

Diz a nota da igreja: "O próprio IPT publicou nota esclarecendo o público e enumerando quais as recomendações necessárias para manter a segurança da obra. E nenhuma delas é complexa, difícil de cumprir. As recomendações são tranquilas, costumeiras e obviamente foram e vinham sendo cumpridas sempre da melhor forma. São vistorias simples, de limpeza, de não-sobrecarga etc. Foi numa dessas vistorias, justamente, que se verificou a necessidade de troca das telhas antigas por novas o que, aliás, comprova que a manutenção era feita. E sem essas vistorias não teria obtido as revalidações periódicas de seu alvará".

A Renascer afirma que não é irresponsável e nem colocaria fiéis em uma situação de risco evitável. "A propagação deste tipo de ideia é ofensiva e deve ser veementemente repelida", diz.

 

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