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22/05/2002 - 02h30

Polícia mata 34,6% a mais no Rio de Janeiro em 2002

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FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Folha de S.Paulo, no Rio

O número de pessoas mortas em confronto com a polícia do Rio deu um salto neste ano: de janeiro a abril, foram 276 mortes _média de 69 por mês.

É um crescimento de 34,6% em relação ao primeiro quadrimestre de 2001 (51,2 mortos/mês), mostram os dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado.

O aumento atinge os três últimos meses do governo de Anthony Garotinho (PSB) e o primeiro mês de Benedita da Silva (PT), que assumiu o cargo quando o antecessor se licenciou para disputar a Presidência.

Em abril, já na gestão de Benedita, 70 pessoas morreram em confrontos com a polícia. Houve 63 mortes em março, 57 em fevereiro e 86 em janeiro.

Na capital, a média mensal de mortes no primeiro quadrimestre foi de 44,3 _um aumento de 30% em relação a 2001 e um número superior às 32 mortes mensais registradas em 1996, no auge da "gratificação faroeste".

Instituída em 1995, no governo Marcello Alencar (PSDB), a gratificação premiava os policiais "por bravura", mas acabou estimulando os confrontos e as mortes.

Uma pesquisa realizada pelo sociólogo Ignacio Cano, do Iser (Instituto de Estudos da Religião), mostrou que a "gratificação faroeste" dobrou de 16 para 32 o número mensal de mortes praticadas por policiais no município do Rio. A gratificação vigorou até junho de 1998, quando foi suspensa pela Assembléia Legislativa.

O aumento das mortes em confrontos com a polícia voltou a ocorrer no Estado em 2000, quando o total de casos chegou a 427 (35,5 por mês), sendo 116 no primeiro quadrimestre (29 por mês).

Em 2001, houve 592 casos (49,3 por mês), sendo 205 no primeiro quadrimestre (51,3 por mês).

Esse tipo de ocorrência, embora sempre tenha existido nos registros policiais, começou a ser desagregado pela Secretaria de Segurança Pública em 1998.

O total de casos no ano chegou a 397 (33,1 por mês), sendo 130 no primeiro quadrimestre (32,5 por mês). Em 99, primeiro ano de Garotinho, caiu para 289 casos (24,1 por mês) e 94 no primeiro quadrimestre (23,5 por mês).

A morte em confronto é um indicador que muitas vezes é esquecido na estatística da violência, pois, oficialmente, mede as mortes de "delinquentes".

Existe a suspeita, porém, de que muitas dessas mortes resultaram de execuções. O mesmo estudo realizado pelo Iser mostrou que, de 1993 a 1996, 65% das vítimas de policiais levaram tiros na cabeça.

Na avaliação de Ignacio Cano, o aumento dos autos de resistência está relacionado a vários fatores, como o treinamento e a ação policial voltados para o confronto.

"Em 99, o governo diminuiu os confrontos e pediu desculpas pela morte de um menino. Depois, recuou politicamente, e os confrontos aumentaram", afirmou.

Em 2002, disse ele, a mudança política, as trocas de comandos e as prisões geram instabilidade. "Se um traficante tem acerto com um batalhão, e o comando é mudado, os acertos têm de ser refeitos. Se alguém é preso, os que assumem também têm de refazer contatos e disputar pontos."

Assim, os confrontos poderiam ser uma resposta a ações policiais. Cano disse que ainda é cedo para esperar uma queda das mortes no governo Benedita, porque é impossível mudar a posição da polícia em um mês. Ele criticou o discurso de quem cobra "mais mortes", como a declaração do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), a favor da morte de "quantos delinquentes sejam necessários".

"Uma parte da sociedade demanda mais mortes, mas isso já é uma realidade. A polícia está matando muito. Quem pede mais mortes não mora numa área onde a polícia intervém", afirmou.
 

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