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10/07/2002 - 09h23

Ato antiarmas expõe drama de famílias

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DAGUITO RODRIGUES
da Folha de S.Paulo

O comerciante Armando Ferreira Borges, 44, levou ontem ao Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo, as botas pretas prediletas de seu filho Flávio, morto em 2001 aos 20 anos. Colocou-as ao lado dos cerca de 700 pares de calçados de vítimas de armas de fogo reunidos nas comemorações do Dia Internacional pelo Desarmamento, em evento organizado pelo Instituto Sou da Paz.

Nos calçados, fichas identificavam as vítimas, a maioria jovens de 18 a 25 anos. Borges, sua irmã, Neire, 53, e sua filha, Elizângela, 12, vestiam camisetas com fotos de Flávio. Emocionado, Borges disse que o filho foi morto por uma bala perdida no bar da família, na Casa Verde (zona norte). Dos quatro acusados, disse ele, dois foram presos.

No palco montado pela Secretaria Estadual da Cultura embaixo do viaduto do Chá, foram realizados shows com a banda Funk Como Le Gusta e grupos de hip hop. Um ato ecumênico foi liderado pelo rabino Henry Sobel e pelo padre Jaime Crowe, da Paróquia Santos Mártires, no Jardim Ângela (zona sul).

Para os organizadores, o Instituto Sou da Paz, o evento reuniu 5.000 pessoas; para a polícia, foram 600. Por volta das 13h45, uma fogueira foi acesa com tocos de madeira. A organização pretendia incinerar armas, mas o Exército não autorizou a queima.

Enquanto o público, formado em sua maioria por jovens da periferia, dançava assistindo aos shows, familiares das vítimas carregavam cartazes com mensagens e fotos dos parentes perdidos.

O secretário municipal da Saúde, Eduardo Jorge, disse que o problema do narcotráfico só será resolvido quando o Brasil abandonar o modelo americano de repressão às drogas. "A droga ilegal é a principal fonte de violência."

Impunidade

Os familiares de vítimas ouvidos pela Folha reclamaram da impunidade e se disseram vítimas de discriminação pela polícia por serem pobres.

A aposentada Socorro Justino de Moraes, 50, levou os chinelos que o filho Robério usava ao ser morto em casa, em agosto de 92, segundo ela, por um morador do bairro (Campo Limpo, zona sul), 15 dias após brigarem no trânsito. Ela chorou muito e ficou ao lado dos sapatos durante o evento.

Dados da Secretaria da Segurança Pública do primeiro trimestre deste ano indicam queda na apreensão de armas de fogo no Estado: 4,5% a menos que no mesmo período de 2001 e 0,7% abaixo do total do quarto trimestre de 2001. É o menor resultado desde o quarto trimestre de 1998.

No final do evento, o morador de rua José Maria Gonçalves Jr., 13, insistiu para que a voluntária do Instituto Sou da Paz Ariett de Almeida Gouveia, 26, entregasse um par de sapatos para ele. O garoto calçava um par de tênis cheio de furos, por onde saíam seus dedos, mas não teve seu pedido atendido.
 

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