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06/08/2002 - 20h36

Operação Castelinho foi feita para promover polícia de SP, diz preso

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LÍVIA MARRA
da Folha Online

Em uma carta com pedido de socorro, um condenado pela Justiça conta como ocorreram algumas ações do Gradi (Grupo de Repressão e Análise dos Delitos de Intolerância da polícia de São Paulo) e revela que a operação Castelinho, que resultou na morte de 12 supostos integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), foi uma cilada para "promover" a polícia paulista.

A carta, divulgada hoje à imprensa, serviu de base para a elaboração de um dossiê, entregue no final da tarde desta terça-feira ao procurador-geral de Justiça do Estado, Luiz Antonio Guimarães Marrey. A representação entregue a Marrey pede apuração sobre denúncias do recrutamento de presos pelo Gradi para atuarem em ações policiais.

O documento é assinado pelo Centro Santo Dias de Direitos Humanos, Comissão Teotônio Vilela, Associação de Juizes para a Democracia, OAB São Paulo e pelos juristas Dalmo Dallari, Fábio Comparato, José Carlos Dias e Hélio Bicudo.

Segundo Bicudo, vice-prefeito de São Paulo e integrante do Centro Santo Dias de Direitos Humanos, episódios como o sequestro de Patrícia Abravanel, filha do apresentador e empresário Silvio Santos, a morte de Fernando Dutra Pinto _mentor do sequestro de Patrícia_, no Centro de Detenção Provisória, e a fuga de helicóptero de um presídio estavam "desprestigiando" a polícia. A operação Castelinho teria sido criada para devolver a credibilidade à instituição.

O recrutamento de presos para a atuação em operações policiais é considerada ilegal.

Segundo o jurista José Carlos Dias, os presos poderiam sair apenas para diligências com escolta policial e não participar das ações.

O procurador-geral de Justiça do Estado disse que os responsáveis pela representação terão "transparência" nas investigações e que haverá "troca permanente de informações".

"Não é possível a retirada de sentenciados para a infiltração em atividades criminosas. É uma condição ilegal, que não deve ser tolerada", disse.

Como foi a Operação Castelinho
A operação ocorreu no dia 5 de março na rodovia Senador José Ermírio de Moraes, a Castelinho. Um ônibus que transportava os supostos criminosos foi interceptado na região de Sorocaba (100 km a oeste de São Paulo) pela Polícia Militar.

A operação teria sido motivada por grampos, que revelariam a intenção do grupo em roubar um avião pagador que transportava R$ 28 milhões. A PM afirmou que os 12 ocupantes do ônibus foram mortos durante confronto.

No entanto, Bicudo afirma que a ação foi um "fato montado" para devolver o prestígio à policia paulista. Ele disse que o suposto roubo foi uma "tentativa de crime impossível" porque "não havia avião pagador".

Na carta divulgada hoje, o detento conta que a operação Castelinho foi elaborada para demonstrar à população uma "operação bem sucedida" da polícia. O preso diz que em uma das reuniões com o grupo de inteligência da PM esteve com o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho.

O secretário teria dito que queria uma grande operação porque estava assumindo a pasta e que não se importava com os representantes de direitos humanos.

Durante a elaboração do plano Castelinho, os recrutas teriam feito outros criminosos acreditarem que um avião pagador, transportando R$ 28 milhões, passaria pelo aeroporto de Sorocaba. Os recrutados ofereceram o ônibus, para transportar o grupo, e as armas.

No entanto, conforme relato do detento recrutado, as balas eram de festim. Ele afirma ainda que não houve grampo telefônico em investigações, como a polícia havia afirmava.

Outro lado
Em nota à imprensa, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, "desmente as informações contidas na carta escrita por um criminoso, preso em flagrante e condenado a 22 anos de detenção por latrocínio, estelionato, ocultação de cadáver e extorsão".

Ameaças
Na carta escrita pelo preso recrutado, ele afirma que tem sofrido represálias. O detento diz que é um "arquivo vivo", a partir do momento em que resolveu se desligar do grupo. Por isso, diz, na carta, que vem sofrendo ameaças, inclusive do próprio secretário da segurança.

"Ele me chamou de traidor", afirma o detento recrutado, dizendo que sua família também tem sido perseguida e ameaçada.

O coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, João José Sady, disse nesta terça-feira que outros dois presos que ajudaram policiais do Gradi na operação Castelinho correm risco de morte. Eles estão detidos no COC (Centro de Observações Criminológicas)

Segundo ele, já foi solicitada proteção especial para os detentos ao secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa.

"São arquivos vivos que correm riscos de se tornarem arquivos mortos", afirmou Sady.

Leia mais:
  • Procurador-geral de SP recebe representação sobre ações do Gradi
  • OAB divulga dossiê sobre ação do Gradi
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