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14/09/2002 - 23h46

Carcereiro já foi tomado como refém pelos presos em cinco motins

FÁBIO PORTELA
da Folha Online

Imagine chegar ao trabalho logo cedo, iniciar suas atividades e, de repente, se ver sob a mira de uma arma, transformado em refém de detentos que lideram uma rebelião no maior presídio da América Latina.

O que para a maioria das pessoas é algo que se aproxima da ficção se tornou rotina para alguns dos carcereiros que trabalharam nos últimos anos na Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo.

Jorge Bastos, que passou os últimos 13 anos cuidando da disciplina do pavilhão 8, considerado um dos mais perigoso da cadeira, já foi tomado como refém por cinco vezes. Em uma das ocasiões chegou a ser baleado na perna.

Boa parte do agentes penitenciários prefere se afastar das funções depois de passar por uma experiência como essa, mas Bastos conta que "já está acostumado" a passar por situações de tensão.

"Normalmente, quando eles tomam um funcionário como refém, os presos estão querendo negociar a transferência para outros presídios. A gente sabe que a negociação, nesse caso, é possível, então tentamos manter a calma.

Ele conta que, em uma das vezes em que foi "guentado", segundo a gíria da cadeia, ficou 24 horas nas mãos dos presos. "O motim começou ao meio-dia do domingo e só terminou ao meio-dia da segunda-feira. Passei uma semana sem vir trabalhar, mas acabei voltando".

A situação que mais o deixou apreensivo foi quando ele foi tomado como refém por presos que tentavam fugir do presídio. "Eles passaram pelos pavilhões 7 e 9, e invadiram o 4, passando pelo portão".

"Depois de dominar o pavilhão, eles começaram a negociar o que eles queriam. Foi coisa de 8, 9 horas. Depois disso, os próprios agentes penitenciários invadiram o pavilhão 4", diz Bastos, explicando que a invasão é um momento crucial para conter um motim.

"Um dos detentos disparou. Até aquela hora ninguém sabia que ele estava armado, e o tiro me acertou na perna. Na hora eu estava com o sangue quente, muita adrenalina, e nem senti direito. Só mais tarde é que eu vi a minha calça completamente ensanguentada".

Quando fala sobre a desativação da detenção, o funcionário diz que dá graças a Deus pela medida. "No início do ano a nossa equipe de plantão tinha três homens para controlar 1.800 presos reincidentes. Você acha que isso é viável?".

Entre as piores recordações que guarda do Carandiru, Bastos conta que um de seus colegas de trabalho foi morto por detentos no pátio do pavilhão 8 e que ele próprio teve de carregar o corpo para fora do local.

"É terrível. Quando matam um funcionário é a pior coisa do mundo. Dá vontade de seguir a regra do olho por olho, dente por dente, mas se nós não déssemos o exemplo para os bandidos, a cadeia ia se tornar incontrolável. O nosso único poder é pedir a transferência dos detentos que fazem esse tipo de coisa. Trabalhamos de mãos atadas."

Os funcionários que trabalhavam no Carandiru serão transferidos para outras unidades prisionais na Grande São Paulo ou no interior do Estado.

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