Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/09/2002 - 15h16

Balões brancos, protesto, política e ex-chacrete dão adeus à Detenção

Publicidade

CARLOS FERREIRA
da Folha Online

Uma cerimônia realizada na manhã de hoje marcou o fim da Casa de Detenção do Carandiru, na zona norte de São Paulo. O último "bonde", como é chamado o transporte de presos, saiu por volta das 10h40 levando os 74 detentos restantes, que estavam no pavilhão 7.

Após a saída dos presos, o governador assinou o decreto que extingue as unidades 1, 2 e 3 da Casa de Detenção. Dezenas de balões brancos foram soltos e faixas com os dizeres "O Carandiru acabou" foram estendidas.

Antes da cerimônia, o governador visitou o pavilhão 8, considerado um dos mais perigosos. Alckmin se deparou com imagens de destruição e desordem deixadas pelos detentos antes da desativação.

Restos de comida apodrecida, roupas e colchões ainda estavam nas minúsculas celas da unidade. Questionado se os novos presídios que estão sendo construídos no Estado terão celas como as que visitou, Alckmin disse que "as novas penitenciárias tem um novo modelo. Unidades menores, com sistema de segurança muito melhor, com oficinas para os presos trabalharem e estudarem".

Ainda de acordo com o governador, a Casa de Detenção era um "modelo totalmente ultrapassado, que não oferecia nem a recuperação do preso, nem segurança".

No lugar da Casa de Detenção, o governo pretende construir o Parque da Juventude, cuja construção já está em licitação e deve começar em 30 dias. Uma área de mata atlântica que fica dentro da cadeia será preservada. Já nesta segunda-feira começam as obras de demolição dos pavilhões.

A Penitenciária do Estado, a Penitenciária Feminina e o Hospital dos Presos, que abrigam 3.200 detentos, continuarão funcionando.

A partir do próximo dia 20, a Casa de Detenção deve ser aberta para a visitação do público.

Protestos

Dezenas de manifestantes aproveitaram a presença do governador e membros do governo e protestaram do lado de fora do presídio.

Membros da associação "Viva Bem São Bernardo do Campo", usando nariz de palhaço, realizaram um apitaço e agitaram faixas pedindo a paralisação das obras do CDP (Centro de Detenção Provisória) que está sendo construído no centro da cidade.

Segundo Rosana Catanzaro, uma das coordenadoras da associação, a obra está irregular. "Ela [a obra] não tem alvará e nosso advogado entrará com o pedido de uma liminar para paralisar a construção. A população tem medo de que com a vinda do CDP, venha junto o crime organizado. Já que eles começaram a construir, porque não fazem então uma Fatec (Faculdade de Tecnologia)?", disse a manifestante.

A assessoria de imprensa da Secretaria da Administração Penitenciária informou que não há como parar as obras e que a unidade deve ficar pronta até março para abrigar cerca de 670 presos da cidade.

"São Bernardo tem uma cadeia em péssimas condições. O que nós estamos fazendo é trocar uma cadeia péssima por uma boa, para presos da própria cidade", disse Alckmin.

Estudantes do MSU (Movimento dos Sem-Universidade) também estiveram presentes à cerimônia pedindo que o Carandiru seja transformado em uma universidade pública popular.

Campanha política

Alckmin rebateu as críticas realizadas pelo candidato ao governo do Estado Paulo Maluf (PPB) sobre a desativação da Casa de Detenção. "Ele é um político atrasado que quer levar vantagem em tudo, ele é um oportunista sempre. Se você não desativa ele diz 'se eu for eleito vou desativar', quando desativa, critica porque desativou. Ninguém o leva a sério. Nem ele mesmo leva a sério as palavras que ele fala", disse o governador.

Ainda segundo Alckmin, no plano de governo de 2000 de Maluf, constava a desativação do Carandiru, e no lugar do complexo ele prometia um "novo parque do Ibirapuera".

O governador aproveitou para dizer que em hipótese alguma o Estado aceitará receber o traficante Fernandinho Beira-Mar, que comandou na semana passada uma rebelião no presídio de segurança máxima de Bangu 1, no Rio de Janeiro, e que acabou com quatro traficantes mortos.

Musa

A ex-chacrete Rita Cadillac, que recebeu o título de "madrinha dos presidiários", também esteve no ato que marcou o fim da Casa de Detenção.

Rita, que posou nua para a revista "Sexy" dentro do presídio, brincou ao falar da implosão dos pavilhões. "Quero estar aqui quando eles implodirem tudo. Vou levar um pedacinho dos prédios para casa e eternizar como fizeram com o Muro de Berlim."

A cantora disse que frequenta o Carandiru desde 1985 e que acabou ficando amiga de alguns presos. "Nunca passei medo aqui. Eles sempre me respeitaram. Já cheguei a ficar junto aos presos sem a presença de agentes de segurança. É triste ver isso acabar."

A ex-chacrete disse que, mesmo assim, continuará visitando os presos e que já está agendando um show de Natal em outro presídio.

Leia mais notícias sobre o Carandiru
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página