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03/11/2002 - 05h11

Bagaço de cana vira plástico biodegradável

MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo

Objetos de plástico que demoram apenas um ano -e não dois séculos- para se degradar e podem virar adubo orgânico. Resinas que não dependem do petróleo, tampouco de processos de produção que eliminam gases que agravam o efeito estufa. Polímeros (aglomerado de moléculas) que, na sua fabricação, dão um destino adequado para os cerca de 8 milhões de toneladas de bagaço de cana que sobram da co-geração de energia nas usinas.

Reunindo esses três benefícios ambientais, o plástico biodegradável mais parece um sonho saído da ficção científica. E, a rigor, ainda é. Mas vem se tornando realidade à medida que pesquisas científicas desenvolvem matérias-primas e processos que produzem polímeros de qualidade e que, ao menos no mercado externo, já têm um preço competitivo.

A mais recente descoberta nessa área é de autoria das pesquisadoras Luiziana Ferreira da Silva e Marilda Keico Taciro, da divisão de química do Agrupamento de Biotecnologia do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

Elas desenvolveram uma técnica que usa bagaço de cana para fazer plástico biodegradável por meio da ação de bactérias que se alimentam do bagaço e formam, dentro de si, o PHB (polihidroxibutirato), que pode ser usado na fabricação de vasos, colheres e sacolas plásticas, entre outros.

A bactéria Burkholderia sacchari, que transforma o que ia para o lixo em algo que pode ir para as prateleiras dos supermercados, foi descoberta pelo próprio IPT e já está "trabalhando", desde 2000, na fabricação de PHB diretamente a partir do açúcar, numa usina em Serrana (315 km de SP).

É lá que a ficção científica busca se tornar parte do cotidiano. A planta piloto (que já custou o equivalente a R$ 28,7 milhões em investimentos aos grupos sucroalcooleiros Biagi e Balbo) produz de 50 a 60 toneladas por ano do PHB, que é exportado para o Japão, os EUA e a Europa.

Por sua vez, o novo processo, usando o bagaço, ainda não foi aplicado comercialmente.

A resina biodegradável custa quatro vezes mais que a normal, mas há dois pontos a destacar, sustentam Silva e Taciro: a escala ainda é muito reduzida e ninguém consegue produzi-la mais barata que o Brasil. "O quilo do PHB de açúcar (ou do bagaço da cana) custa US$ 5. O equivalente na Inglaterra custa US$ 14. Por isso há mercado lá fora", diz Silva.

A competitividade do preço aliada à maior consciência dos consumidores e ao maior nível de exigência da legislação ambiental em alguns países desenvolvidos animam a PHB Industrial de Serrana a tentar produzir em escala comercial a partir de 2005.

"Não temos [no Brasil] a pretensão de competir com a grande indústria de plástico. Vamos buscar nichos. Por exemplo, empresas de cosméticos que privilegiem uma imagem ambientalmente correta", afirma Sylvio Ortega Filho, responsável pelo projeto.

Notebooks, talheres, pílulas

As pesquisas em torno do plástico biodegradável começaram nos anos 80 em todo o mundo. Vêm sendo testados os usos de beterraba, ácido láctico, milho e proteína da soja; algumas aplicações já começam a sair dos laboratórios.

Na prática, as resinas já são usadas em sacolas que podem virar adubo naturalmente e talheres descartáveis (produzidos pela empresa californiana Biocorp) e até em peças de notebooks da Fujitsu japonesa.

Os estudos apontam ainda possibilidades de uso na medicina, por exemplo, em suturas internas e cápsulas para liberação gradual de medicamento.

 

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