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08/12/2002 - 04h01

Carandiru tem fim com implosão hoje às 11h

da Folha de S.Paulo

Depois de 46 anos de existência, quase metade deles sob a promessa de desativação, o maior símbolo do fracasso do sistema prisional brasileiro finalmente começa a desaparecer. Três pavilhões da Casa de Detenção, no complexo do Carandiru (zona norte de São Paulo), devem ir abaixo e virar entulho às 11h de hoje.

A história de mortes, rebeliões, fugas e do chamado massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, começa a mudar, segundo o governo do Estado, com o uso de 250 quilos de explosivos.

Construído em 1956, pelo então prefeito Jânio Quadros, a Casa de Detenção virou um modelo obsoleto e caro. Nas últimas contabilidades, quando a população ainda ultrapassava 7.000 presos, as instalações velhas geravam um custo só de água e energia elétrica de R$ 18 milhões ao ano.

Segundo a Secretaria Estadual da Administração Penitenciária, nunca se fez o cálculo do custo do preso da Casa de Detenção em relação aos outros presídios. Porém, segundo a secretaria, era bem maior que a média atual de R$ 660 mensais gastos por preso em regime fechado.

Espetáculo

Na platéia montada para assistir a implosão de hoje, ao lado do palanque para as autoridades, está reservado um espaço para quem diz ter até saudade da rotina do que foi o maior presídio da América Latina.

Entre eles, funcionários que trabalharam décadas e até mesmo nasceram dentro da Casa de Detenção. José Francisco dos Santos, 58, mais conhecido como Chiquinho da Detenção, passou os últimos 22 anos no complexo, trabalhando no setor administrativo.

Ele presenciou -e foi refém- de inúmeras rebeliões e participou de episódios que ele mesmo divide entre "felizes", "tristes" e "engraçados". Entre as histórias engraçadas, Santos conta que, uma vez, um dos presos que teve o maior número de entradas e saídas do presídio -foram 18 no total- chegou a implorar, de joelhos, para que não o tirassem de dentro do Casa de Detenção.

"Olha, em todos esses anos, vimos de tudo. Vou sentir falta, mas acho que estava mesmo na hora de acabar", afirma Chiquinho, que trabalhará no arquivamento das fichas dos presos.

Os laços que o agente Paulo Sérgio de Almeida Braga, 44, mantém com o complexo são "familiares". Seus avós trabalhavam no local como agentes. Seu pai e sua mãe se conheceram -e se casaram- dentro do presídio.

E ele, como os outros irmãos, nasceu no local e, seguindo a "vocação" da família, também prestou concurso para agente penitenciário aos 19 anos. Mas só foi trabalhar no Carandiru em 1999.

"Meu pai levava a gente para cortar o cabelo, almoçar com os detentos, ver eles jogarem bola. Uma vez, até sentei do lado do Luz Vermelha, e minha mãe trabalhou com o Chico Picadinho", afirma, relacionando nomes de bandidos famosos.

Álvaro Alberto Moreira, 53, e agente penitenciário desde 1977, conta que sentirá saudade principalmente das festas de final de ano, tempo em que a cadeia ficava "normal", como os próprios detentos definiam.

O espetáculo que tanto saudosos quanto críticos da Casa de Detenção vão assistir hoje vai durar apenas sete segundos, segundo Manoel Dias, engenheiro responsável pela implosão.

O isolamento do local começa às 7h, quando o trânsito nas avenidas Cruzeiro do Sul, general Pedro Leon Schneider e general Ataliba Leonel e na rua Antônio dos Santos Neto será interrompido. O tráfego só será liberado às 13h.

Os trens serão parados nas estações Santana e Tietê dez minutos antes da implosão. Segundo a Defesa Civil, 131 moradores serão retirados de suas casas durante a implosão. "Não podemos garantir 100%. Mas houve muito planejamento e todos os cuidados foram tomados", afirmou Dias.

Iranilde Julioti dos Santos, 27, recebeu a carta da Defesa Civil notificando da retirada na sexta-feira da semana passada. Ela teme que os túneis cavados pelos presos provoque problemas na estrutura de sua casa no momento da implosão.

Mesmo os moradores que não terão de deixar suas casas estão com medo de que a operação danifique os imóveis. "Aqui embaixo deve estar tudo esburacado. Não vou ficar em casa não", disse Adriana Nascimento da Silva, 23.

O engenheiro disse que não deve ocorrer problemas. Mesmo assim, sismógrafos serão colocados para medir a intensidade da implosão e verificar possíveis danos nas proximidades.

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