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09/12/2002 - 05h03

Atrás da Sé, lojas evangélicas dominam rua no centro de SP

SÉRGIO DURAN
da Folha de S.Paulo

A mais nova rua de comércio segmentado a prosperar na cidade de São Paulo assiste ao milagre da multiplicação de lojas sem vender produtos chineses ou roupas baratas. Na rua Conde de Sarzedas, atrás da praça João Mendes (centro), o que se vende no atacado são bíblias e artigos de inspiração evangélica dos mais variados.

A rua dos evangélicos é um dos 19 "clusters" da capital, segundo levantamento feito pelo Instituto Pólis para Empresa Municipal de Urbanização (Emurb). "Cluster" é uma espécie de nicho de mercado com endereço fixo. A maioria atrai compradores ou usuários de várias partes do país.

A prefeitura planeja criar um circuito de compras para explorar a vocação comercial do centro e suas ruas segmentadas. O circuito inclui transporte especial, hotelaria e organização dos camelôs, entre outros pontos. Esse é um dos projetos do Programa de Reabilitação do Centro, que terá financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).

No mapa dos "cluster", os distritos da Sé e da República são divididos em regiões e não apenas com base nas ruas segmentadas. Na Luz, por exemplo, há da Santa Ifigênia dos eletroeletrônicos à São Caetano das noivas.

Gêmeos de Cristo

Na rua Conde de Sarzedas, o visitante se sente numa espécie de Grandes Galerias evangélica. Ao invés de ouvir o heavy metal típico do conjunto comercial da rua 24 de Maio, ele ouvirá o pop evangélico de Cassiane, cantora campeã de vendas nas lojas do local.

Os primeiros estabelecimentos, conta o comerciante e cantor Marco Aurélio, 32, surgiram a reboque da Igreja Pentecostal Deus é Amor, que fica no fim da Conde. Atualmente, a denominação evangélica constrói novo templo.

"Depois, a rua se consolidou, era muito citada no rádio, e passou a atrair gente de tudo quanto é lado. Hoje, poucos têm a ver com a Deus é Amor", afirma.

Aurélio é dono de uma das quatro gravadoras com sede na rua. O nome da empresa musical é Gêmeos de Cristo, o mesmo com o qual Aurélio forma a dupla sertaneja evangélica com o irmão univitelino, Emílio Marcos. Com sete CDs, o duo é um hit entre os consumidores ligados a esse segmento das igrejas protestantes.

Junto com os Gêmeos, a gravadora vende também CDs com testemunhos de curas sobrenaturais, como o intitulado "O Milagre do Cabelo". Esse narra a história de uma menina careca cuja mãe fez voto de não cortar mais o cabelo da pequena caso ela viesse a tê-lo. O resultado foi o crescimento de longas madeixas, supostamente capazes de curar quem as tocam.

Na Conde, é possível encontrar produtos populares entre os evangélicos, como os folhetos com mensagem bíblica ilustrados com fotografias de paisagens européias. Ramayana Carneiro Yohanã, 59, proprietário da Livraria Apocalipse, já chegou a vender 5 milhões de folhetos/ano.

"Cresci aqui, criei meus filhos, meus netos. Agora que a rua se transformou em um centro atacadista, a concorrência ficou desleal. Vejo chegar lojas montadas só para ganhar dinheiro. Os donos não querem saber nada de Deus", diz.

Faça você mesmo

Outra gravadora e atacadista conhecida na rua é a Recanto dos Evangélicos _ou RDE. "Aqui vêm pessoas de todas as cidades brasileiras por causa da facilidade de encontrar tudo em um só lugar", conta Desuíta Dias da Silva, 48, proprietária do Recanto.

Esse tudo inclui uma lista inusitada. É possível praticamente montar uma denominação evangélica com os produtos da Conde de Sarzedas. Há de sacolinhas para recolher ofertas e toalhas de renda para enfeitar o altar a gravatas coloridas, de R$ 1,50, para compor o figurino do pastor.

"É o centro atacadista evangélico. Quem não tem a mesma fé não conhece, mas em nosso meio é muito difundido", diz Hélcio Nascimento, 39, proprietário da Lírio dos Vales, atacadista com duas lojas na Conde de Sarzedas.

Para o arquiteto-urbanista Kazuo Nakano, do Pólis, que trabalhou ao lado de Raquel Rolnik na pesquisa dos "clusters", o comércio segmentado do centro pode estar ligado à própria tradição cultural e étnica de São Paulo.

"Sendo uma cidade de imigrantes, São Paulo tem bairros que se formaram a partir dos estrangeiros que se concentravam em determinados locais, como os árabes da 25 de Março", afirma.

Demografia

O mercado evangélico hoje é composto de 26 milhões de pessoas, segundo Censo 2000. Eles representam 15,45% da população brasileira (em 1991, eram 9%).

A Assembléia de Deus é a maior igreja com um contingente de 8,1 milhões de fiéis, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
 

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