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04/02/2003 - 21h21

Bala que matou menino no Rio pode ter partido de arma da polícia

TALITA FIGUEIREDO
da Folha de S.Paulo, no Rio

Tiros disparados supostamente por policiais civis mataram o menino Nicolau Yan dos Santos Xavier, 3, e feriram Elisandra de Oliveira Lucena da Silva, 7, e Ana Beatriz Rodrigues, 31, por volta das 22h de ontem, na favela Tancredo Neves, no complexo do Jacaré (zona norte do Rio).

O menino estava indo comprar balas em um bar próximo a sua casa com a irmã mais velha, Jéssica, 13.

Segundo testemunhas, policiais da DRFA (Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis) atiraram quando um Santana preto furou a blitz que realizavam. Os moradores afirmaram que os ocupantes do Santana, não identificados, não atiraram de volta, apenas fugiram.

A Corregedoria da Polícia Civil está investigando o caso e disse já ter identificado quatro policiais que participavam da blitz. A corregedoria também investiga por que os policiais não socorreram as vítimas nem fizeram o registro do caso na delegacia da área. As armas dos policiais foram apreendidas e eles vão fazer serviços burocráticos até a conclusão da investigação.

Hoje de manhã, enquanto dezenas de crianças da favela escreviam mensagens de protesto, uma cena que mostra a presença da violência na comunidade chamava a atenção. A menina Taíza, de pouco mais um ano, esticava os bracinhos e repetia "pou, pou", numa brincadeira que imitava o som de tiros.

A prima de Taíza, Daiana Clemente Fialho, 14, disse não se espantar mais com a cena. "Ela é esperta e quando está na rua aprende tudo. O que ela vê, ela aprende, o que ela escuta, aprende. Eles [os policiais] é que estão dando o exemplo", disse.

Nicolau Yan era um dos oitos filhos da artesã Jane Tito dos Santos, 32. Ela estava em casa na noite de segunda-feira e deixou a filha mais velha levar Nicolau Yan para comprar balas.

A outra criança baleada, Elisandra, estava brincando na rua quando ouviu os tiros. Ao correr teria perdido um pé de sandália, segundo sua irmã, Eilisara, 10, e voltou para buscá-la. A menina, baleada no braço esquerdo, foi operada e está em observação no Hospital Salgado Filho, no Méier (zona norte).

Um dos tiros que atingiu a dona de casa Ana Beatriz atravessou sua perna direita. O outro, passou de raspão em sua cabeça.

"Eu estava em um bar, contando para minhas amigas como é a catedral da Igreja Universal, de onde eu estava vindo. De repente ouvi os tiros e corri para dentro do bar. Nenhum policial socorreu a gente", disse ela.

O corregedor da Polícia Civil, Jorge Jesus Abreu, ouviu hoje duas moradoras que testemunharam o tiroteio. Até o fechamento desta edição, os quatro policiais estavam sendo ouvidos. Segundo eles, a versão que contavam era que eles revidaram tiros disparados pelos ocupantes do carro que furara a blitz.

"Me causou surpresa o fato não ter sido comunicado na delegacia por eles, mas por um policial militar que soube pelo rádio que havia feridos no local. Além disso, as testemunhas dizem que os policiais civis não ajudaram a socorrer as vítimas: a primeira providência em qualquer circunstância é socorrer o ferido, mesmo que seja um criminoso, o que nem era o caso", disse Abreu.

O corregedor disse que, pelo que ouviu das testemunhas, não havia necessidade de os policiais atirarem.
 

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