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12/02/2003 - 02h45

São Paulo ganha uma favela a cada oito dias

SÍLVIA CORRÊA
da Folha de S.Paulo

Sob viadutos, penduradas em encostas ou invadindo áreas públicas e privadas. Em locais como esses surgiram 464 favelas em São Paulo na última década. É como se uma nova favela tivesse se formado na capital paulista a cada oito dias de 1991 a 2000.

São núcleos de habitação com precárias condições de saneamento e construção para os quais ruma uma legião de novos favelados equivalente a 74 pessoas/dia.

Esse movimento resultou em uma população favelada total de 1,16 milhão de pessoas em 2000. Elas vivem em 2.018 favelas, cujas extensões variam de quase 1 km2 -caso de Heliópolis, a maior delas, no Sacomã (zona sul)- até 46 m2, como a pequena Antônio Fogal, na Cidade Ademar (também na zona sul), a menor de todas.

Em 1991, havia 1.975 favelas na cidade. Pela velocidade com que surgem, chegariam ao final da década ainda mais numerosas se 419 delas não tivessem desaparecido -ou porque se fundiram a maiores ou porque foram desfeitas, muitas vezes depois de tragédias.

Reunida, a população das favelas paulistanas formaria a 12ª maior cidade do país, com mais habitantes que Guarulhos -a segunda metrópole paulista.

As áreas faveladas somam 30,62 km2 -2% do território paulistano. Equivalem à extensão de terra ocupada pelos dez distritos da região central da cidade. A mancha cresceu 6 km2 em uma década -um bairro de Perdizes inteiro.

O raio x que demonstra a acentuada tendência de favelização da capital paulista consta de um estudo feito pela Prefeitura de São Paulo e pelo Centro de Estudos da Metrópole. Com divulgação prevista para hoje, ele foi apresentado com exclusividade à Folha
No estudo, com 8.500 fotos aéreas e 800 inspeções físicas, os pesquisadores do CEM e da Secretaria Municipal da Habitação mapearam as favelas existentes no município, definiram seus perímetros e estimaram suas populações. Em seguida, compararam a situação encontrada com a mapeada em 1991, no primeiro Censo de Favelas do município.

Bordas mais pobres

Os dados do estudo do governo revelam um movimento social preocupante. Há uma década havia 891.673 pessoas nas favelas. Em 2000, esse grupo já havia crescido 30%. No mesmo período, porém, a população total da cidade aumentou apenas 8%.

Para pesquisadores e autoridades, o raciocínio é simples: a perda de renda está pressionando a população paulistana em direção à precariedade habitacional.

"A favela é a cara da pobreza dos anos 90", diz Paulo Teixeira, secretário da Habitação da administração petista, iniciada em 2001.

"O ritmo de favelização é consequência da política econômica -que acentuou o desemprego e diminuiu a renda dos ocupados- e da falta de ação social dos governos locais", completa Amilton Moretto, pesquisador da Unicamp, assessor técnico da Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade e um dos autores do "Atlas da Exclusão Social no Brasil".

Em alguns distritos periféricos da cidade, a renda média do chefe de família caiu 10,96% nos anos 90, puxada, em geral, pelo aumento dos sem renda. Em 1991, os chefes de domicílio que não tinham nenhum rendimento eram 123.638. Em 2000, saltaram para 311.318 -um aumento de 152% em números absolutos e um crescimento de 5,8 pontos percentuais em relação ao total de chefes de família do município.

Cada vez menor, o poder aquisitivo do paulistano se divorcia dos interesses do mercado. Na cidade de 286.954 domicílios favelados há 420.327 domicílios particulares vagos, segundo o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O distrito com mais domicílios vagos é Sapopemba -com 9.073 deles-, um dos mais favelizados.

Fazer esses universos se cruzarem é, na opinião de urbanistas que estudam a dinâmica paulistana, um dos grandes desafios da administração municipal.

A solução passaria por incentivos diversos vindos do poder público -inclusive financeiros- para a ocupação desses imóveis por famílias de renda mais baixa. O secretário concorda.

"Estamos traçando o perfil desse imóveis exatamente para poder aproveitá-los no programa de locação social", diz Teixeira.

A locação social consiste em complementar o aluguel para as famílias mais pobres. Hoje, o governo tem 700 famílias no programa, que pagam de aluguel 15% de suas rendas, tendo o resto subsidiado pelo poder público. A meta é chegar a 3.000 famílias atendidas até o final de 2004, último ano de governo da atual gestão.
 

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