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27/02/2003 - 18h15

Rio quer fazer "intercâmbio" de traficantes com outros Estados

ANA PAULA GRABOIS
da Folha Online, no Rio

O governo do Rio de Janeiro pretende transferir outros presos do complexo de Bangu, na zona oeste do Rio, para outros Estados. O secretário de Administração Penitenciária do Rio, Astério Pereira, disse que a posição do governo é de fazer trocas com bandidos de outros Estados para desmantelar o controle que os traficantes têm sobre o território.

"Eu acho que não pode ser só um. Pode ser 20, 30 e 40. Eu também estou disposto a receber 20 bandidos. Eu não estou preocupado apenas em mandar 20 problemas para lá", disse. Segundo ele, se houvesse essa cooperação entre os Estados, o combate ao crime organizado poderia ser mais eficiente.

A Polícia Civil já indiciou 37 pessoas, na sua maioria líderes do tráfico presos em Bangu, no inquérito aberto pela Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas). Entre os indiciados, em sua maioria integrantes do Comando Vermelho, estão os traficantes Elias Maluco (acusado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes), My Thor, Chapolin e Gigante.

Na madrugada de hoje, o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi transferido do presídio Bangu 1 para o de segurança máxima de Presidente Bernardes (SP).

Segundo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a permanência do traficante será por 30 dias, mas, segundo a governadora do Rio, Rosinha Garotinho (PSB), o entendimento entre o Estado e o governo federal era de que Beira-Mar deixaria o Rio e não voltaria mais. Segundo ela, o destino dele após os 30 dias ficará a cargo do governo federal.

O secretário da Segurança Pública, Josias Quintal, reafirmou na tarde de hoje que o traficante não volta mais para o Estado. "Dificilmente ele volta para o Rio. Certamente ele fica em São Paulo. Isso pode ser renovado depois dependendo da conveniência do Estado ou pode ir para outra unidade da federação. Não vejo a mínima possibilidade para ele voltar ao Rio."

Transferência

Beira-Mar chegou por volta das 3h45 no aeroporto de Presidente Prudente, distante cerca de 20 quilômetros de Presidente Bernardes, em um monomotor da Polícia Federal.

A escolta do traficante até o presídio foi feita sob um grande aparato policial, que contou com cerca de 44 homens das polícias Civil, Militar e Federal, em 12 carros.

Inaugurado em abril do ano passado, o presídio foi o primeiro a contar com um sistema de bloqueador de celular, principal meio de articulação de facções criminosas.

O presídio tem capacidade para 160 detentos, mas abriga 61. Para o local, são transferidos os criminosos de maior periculosidade, como integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) estão na penitenciária. Eles ficam em celas isoladas, com 2,5 metros por 2,5 metros. As portas são abertas para cima, e não lateralmente.

Os presos não têm direito a visitas e não mantêm contato direto com advogados: as conversas ocorrem por meio de vidros. Os advogados também precisam passar por detectores de metal.

Cada preso pode tomar sol por apenas uma hora diária. Eles saem das celas em grupos de cinco pessoas.

A muralha tem oito metros de altura. Outros dois metros de concreto ficam sob o solo, além de uma placa de aço, para evitar a construção de túneis.

O presídio possui um sistema interno de câmeras de vigilância. Além dos PMs de muralha, 92 agentes penitenciários se revezam em três turnos. Alguns ficam espalhados pelo pátio com cães treinados.

O secretário Nagashi Furukawa, e o coordenador de unidades prisionais da área oeste, Carlos Augusto Panucci, visitam e conversam com o diretor do local pelo menos uma vez ao mês.

Gravações

Beira-Mar é apontado como o responsável pelas ações criminosas que atingem o Rio desde segunda-feira.

Gravações feitas com autorização judicial pela Polícia Civil do Rio captaram conversas em que detentos dos presídios Bangu 3 e 4 transmitiam a traficantes em liberdade, via telefone celular, instruções para as ações violentas que trouxeram pânico à capital e a mais cinco cidades do Grande Rio.

Os presos diziam, segundo a polícia, que seguiam ordens de líderes da facção criminosa CV (Comando Vermelho) presos em Bangu 1.

Nas gravações, os detentos citaram como mandantes Fernandinho Beira-Mar, Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, Marcus Vinícius da Silva, o Lambari, e Marcos Antônio da Silva Tavares, o Marquinhos Niterói.

Também na última segunda-feira, um panfleto distribuído em vários pontos do Rio reivindicava para a organização a autoria dos ataques incendiários a ônibus, ameaças a comerciantes, saques a mercados e atentados com bombas de fabricação caseira.

Polêmica

A possibilidade de transferir Beira-Mar já havia sido cogitada anteriormente. No entanto, não havia obtido sucesso por conta da polêmica entre os governantes.

Em setembro de 2002, o secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, disse que não fazia objeções à transferência de Beira-Mar.

Nesta quarta-feira, após discussões sobre o destino do traficante, o secretário da Administração Penitenciária do Rio, Astério Pereira dos Santos, afirmou que a transferência de Beira-Mar, além de ser de interesse público, tinha amparo legal.

Segundo o secretário, afastar os criminosos de maior periculosidade do local de origem é importante para desarticular o crime organizado.

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