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05/05/2003 - 04h11

Sindicalista tem casa de R$ 380 mil em Itu

CHICO DE GOIS
ALENCAR IZIDORO
da Folha de S.Paulo

Dois diretores do sindicato dos motoristas e cobradores de São Paulo têm patrimônios que envolvem casa com piscina em condomínio fechado e carro de luxo. Eles têm renda mensal próxima de R$ 2.000, já incluída a verba de representação por conta dos cargos que ocupam na entidade.

Edvaldo Gomes de Oliveira, 48, conhecido por Dentinho, era motorista de ônibus da viação Santo Expedito, na periferia da zona sul, e vivia em um apartamento da CDHU (companhia estadual que faz casas populares para a população de baixa renda).

No final de 1997, virou diretor de garagem do sindicato que representa a categoria. Hoje, mora em um sobrado de um condomínio fechado em Itu (a 103 km de São Paulo), com mais de 300 m2 de área construída, quatro dormitórios, piscina, churrasqueira, lareira e sala para sauna.

A casa foi posta à venda e avaliada por Dentinho em R$ 380 mil -equivalente a 30 anos do salário-base de um motorista.

Em 29 de novembro de 2002, Dentinho entregou em uma casa lotérica sua Declaração Anual de Isento, conforme informação disponível no site da Receita Federal.

Procurado pela Folha, ele ameaçou a reportagem e disse que construiu a casa com a ajuda de parentes e amigos.

Francisco Xavier da Silva Filho, 27, também chamado de Chiquinho, era motorista de ônibus da viação Talgo, na periferia da zona leste. Vivia de aluguel em uma habitação coletiva numa rua de terra em Camargo Novo. No final de 2000, tornou-se diretor da executiva no sindicato que representa os motoristas e cobradores.

Hoje, a casa em que ele mora com a família no Jardim das Fontes (zona leste de SP) tem cerca de 250 m2 de área construída. Ele não anda mais de ônibus. Tem um Celta e um Audi A3 1.8 na garagem -cujo modelo mais barato, ano 97, custa cerca de R$ 28 mil. O menor preço pago por um Celta gira em torno de R$ 13 mil.

Chiquinho teve seu CPF cancelado pela Receita Federal, o que significa que durante dois anos seguidos ele não declarou Imposto de Renda nem entregou a Declaração Anual de Isento.

Ele disse à Folha que, para comprar o Audi, vendeu "uma série de carros" e que sua mulher o ajuda financeiramente.

"Estranho"

Até mesmo integrantes da direção do sindicato, composta por 63 diretores (sendo dez da executiva e 53 das garagens), consideram "estranho" um motorista de ônibus ter uma casa ou carro de luxo, mesmo com a ajuda de custo de R$ 1.050 paga pela entidade -que, segundo José Ilton Pereira Marçal, secretário de Assuntos Econômicos, serve apenas para suprir a elevação das despesas daqueles que assumem a função.

"Quem é da diretoria tem mais despesas. Fica toda hora na rua, paga sua própria gasolina para se deslocar, paga sua própria alimentação. O sindicato não cobre mais nada", explica Marçal.

Sem saber os nomes dos sindicalistas que teriam um padrão de vida superior ao da maioria da categoria, ele diz: "Não acho compatível. Com certeza os trabalhadores na garagem estão de olho neles. Na próxima eleição, não conseguirão se eleger".

Geraldo Diniz da Costa, secretário de Assuntos Jurídicos da entidade, adota uma fala parecida. "Eu já tenho dois mandatos na diretoria e um Gol 1999. Moro em uma sobra de terreno da prefeitura", diz. "Não, não tem condições", responde Diniz ao ser questionado sobre a possibilidade financeira de um sindicalista que representa os condutores andar de Audi A3 1.8 ou vender uma casa avaliada em mais de R$ 300 mil.

O Ministério Público Estadual, o Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal receberam denúncias que envolvem ao menos cinco diretores de garagem, acusados de receber dinheiro extra dos donos de empresas de ônibus.

Eles atuavam em viações que sofreram intervenções da prefeitura, principalmente por causa de constantes paralisações. Os promotores tentam saber se a ajuda empresarial não era uma forma de incentivar greves para pressionar a gestão Marta Suplicy (PT) a elevar tarifas ou dar subsídios.

Semanas antes, a Folha havia revelado que Dentinho receberia R$ 5.600 mensais da viação Santa Bárbara (antiga viação Santo Expedito) "para fazer frente aos gastos para o bom desempenho de suas funções de representante sindical", conforme carta encontrada na empresa. Ele afirma que a carta e as informações fazem parte de uma "armação" e nega que recebesse R$ 5.600.

Exceto Dentinho, os demais sindicalistas investigados pertenciam à viação Cidade Tiradentes. José Otaviano de Albuquerque, apelidado de Xerife, José Domingos da Silva e Antônio Ferreira Mendes são acusados de receber R$ 3.000 mensais a título de "ajuda de custo" da empresa de ônibus, conforme consta dos holerites de agosto de 2002.

Em depoimento ao Ministério Público há 15 dias, Xerife afirmou ser dono de uma camionete S-10 1999 e de dois imóveis -um deles herdado da mãe. Admitiu nunca ter declarado Imposto de Renda. Confirmou ter recebido a "ajuda de custo" naquele mês, mas não soube explicar por qual motivo. Ele foi expulso do sindicato dos motoristas e cobradores de SP.

A Folha apurou que mais um diretor de garagem da Cidade Tiradentes, Severino Henrique da Silva, chamado de Sem Pescoço, também foi denunciado há duas semanas pela prefeitura à Polícia Federal. A "ajuda de custo" dele, entretanto, seria menor que a dos demais: R$ 1.500.


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