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08/07/2003 - 04h48

Imprevisto ajudou a evitar resgate de presos

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GILMAR PENTEADO
ALESSANDRO SILVA
AMARÍLIS LAGE

da Folha de S.Paulo

Um imprevisto colaborou para o fracasso do resgate de dois detentos no presídio Adriano Marrey, em Guarulhos (Grande SP), anteontem. O trem de pouso do helicóptero sequestrado para a ação ficou preso em uma mureta do telhado da unidade quando os dois presos, sob tiroteio, já estavam no interior da aeronave prontos para fugir.

Segundo a polícia, o incidente teria provocado a revolta dos presos e dos dois sequestradores do helicóptero, que teriam atirado no piloto Alexandre Frederico de Almeida Colaço, 29. O piloto, que foi atingido no crânio, tórax e abdômen, foi operado. Segundo a assessoria do Hospital das Clínicas, seu estado é grave.

Os detentos negaram o fato à polícia, mas tanto eles quanto os sequestradores do helicóptero foram indiciados por tentativa de homicídio, além de formação de quadrilha, roubo, porte ilegal de arma e facilitação de fuga. Exames de balística do projétil que atingiu Colaço e das armas encontradas com os criminosos, que podem esclarecer o crime, não foram concluídos.

Foi o próprio piloto, segundo o delegado Rui Ferraz Fontes, do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), que disse a um agente penitenciário, ao ser socorrido, que teria sido ferido pelo grupo.

A polícia acredita que Jackson Cruz da Silva, 19, um dos sequestradores, ferido com um tiro no tórax e internado no hospital em estado grave, teria feito o disparo contra o piloto. "Mas ainda depende do exame de balística", disse Fontes, que não descarta a possibilidade de o piloto ter sido ferido pelos guardas de muralha.

Os presos Alexandre dos Santos, 29, o Seco, e Rogério Síria Moreira Silva, 28, o Baleado, alvos do resgate, disseram à polícia que a ação vinha sendo planejada, por telefone celular, havia cinco dias. Mas ligações de Érica Guimarães Antunes, 21 --também presa pelo Deic--, para celulares encontrados com Seco e Baleado mostrariam que o planejamento durou pelo menos 20 dias. Segundo Fontes, ela também usava uma central telefônica clandestina para se comunicar com os presos.

Ela seria o contato entre Seco, Baleado, Jackson Silva e João Moraes de Oliveira, 26, o Guru -os dois últimos acusados de sequestrar o helicóptero usado na ação. Uma outra mulher, identificada como Débora Regina Tarpini, que está foragida, teria feito a negociação para a locação do helicóptero por R$ 1.300. O dinheiro seria pago na volta do que seria um passeio panorâmico. Débora Tarpini teria levado a dupla até o prédio da Dacom (zona sul), onde o helicóptero decolou.

Uma das principais dúvidas da polícia é sobre a participação de Baleado, cujo envolvimento só foi descoberto horas depois da tentativa frustrada de fuga. Segundo a polícia, ele e Seco aproveitaram o relaxamento da vigilância interna por causa das visitas íntimas e arrombaram uma sala. Subiram em carteiras de aulas amontoadas e depois usaram uma escada improvisada com panos e cabos de vassoura para alcançar o telhado.

Os presos já tinham conseguido entrar no helicóptero quando foram atingidos. Ao perceber que não conseguiriam fugir, ferido com um tiro de raspão nas costas, Baleado conseguiu voltar para a sua cela. Foi localizado pelo Deic anteontem à noite.

Segundo Ferraz, Seco e Baleado negaram, em depoimento, pertencerem ao PCC (Primeiro Comando da Capital). Mas, segundo a Folha apurou, o chefe do PCC, Marcos Willians Camacho, o Marcola, citou o nome de um deles em conversas informais com policiais do Deic.

A polícia investiga a possibilidade de a ação ter sido financiada por traficantes e o alvo principal do resgate ser Baleado, que chegou da penitenciária de Iaras --reduto do PCC-- em maio. Seco estava em Guarulhos desde novembro passado. Mas, antes disso, passou pela Penitenciária do Estado e também por Iaras.

Segundo o HC, o piloto foi submetido a uma cirurgia no crânio para retirada de fragmentos de projétil, além de operações no abdômen e no tórax. O material retirado na cirurgia craniana foi levado ao Instituto de Criminalística.

Ontem, a mulher do piloto, Edite, o visitou no hospital com outros familiares. "Não sabemos o estado real dele para tomar uma providência, mas a gente vai entrar em contado com os responsáveis. Mas um vai jogar [a responsabilidade] para o outro", disse Ângelo Colaço, irmão da vítima.

A tentativa de resgate provocou ontem troca de acusações sobre falta de segurança entre a Secretaria da Administração Penitenciária e empresas de helicópteros.
 

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