17/08/2000 - 18h49

"Puseram fogo em tudo, mataram meus companheiros", diz sobrevivente da Papuda

da Folha de S. Paulo, em Brasília

"Puseram fogo em tudo, mataram meus amigos, mataram meus companheiros". O testemunho é de Gildan Soares dos Santos, 19, um dos sobreviventes do conflito entre presos no Núcleo de Custódia da Papuda, em Brasília.

Esfaqueado, Gildan deu entrada no pronto socorro do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) por volta das 10 horas desta quinta-feira (17). Outros dois feridos, Adalberto de Souza Feitosa, 23, e Marco Antônio da Silva, 21, também foram encaminhados ao hospital.

Na tumultuada saída do hospital, Gildan, preso sob acusação de formação de quadrilha, afirmou estar com medo.

Segundo boletins médicos divulgados pelo HRAN, Adalberto era o que apresentava quadro mais grave. Ele tinha queimaduras de 3º grau nas costas e ficou internado na Unidade de Queimados, sem previsão de alta.

Gildan apresentava ferimentos no braço direito, tórax e cabeça. Marco Antônio teve ferimento superficial na parte posterior da cabeça em consequência de uma pancada. Após serem medicados e receberem curativos, ambos receberam alta, por volta das 13h.

Eles saíram algemados do hospital e voltaram em camburão da Polícia Militar ao Núcleo de Custódia.

Durante a manhã, familiares de detentos procuraram o hospital em busca de informações. Alguns mostraram-se revoltados com a falta de informações sobre a situação dos presos da ala em que ocorreu o conflito.

"Cadê o meu marido? Eu não sei se ele está morto, se está vivo, se fugiu", disse uma mulher que não quis se identificar.

Maria Joana Soares da França, mãe de Gildan, ficou no hospital durante a permanência do detento. Muito nervosa e chorando bastante, ela aproveitou o momento da saída do filho do posto policial do hospital para abraçá-lo.

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