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25/01/2004
-
04h23
da Folha de S.Paulo
Um dos aspectos que mais atraíram a atenção das pessoas ouvidas pela Folha a respeito dos resultados das chamadas "questões morais" da pesquisa Datafolha foi a queda abissal no índice de moradores de São Paulo que apóiam a legalização do aborto.
Saiu de 43% em 1994, quando a maioria da população se declarava a favor da descriminalização, para 21% em 1997, já em segundo nas opções, para apenas 11% na pesquisa atual --ou diferença de 32 pontos percentuais em relação ao primeiro levantamento.
"Só posso pensar que se trata de um ataque coletivo de hipocrisia", diz o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP. "As pessoas estão consumindo drogas loucamente, tendo relações de curto prazo e não estão casando mais segundo o último Censo, e vão ser contra o aborto?", pergunta.
Para Pierucci, ser contra o aborto a essa altura é ser "contra a liberdade e a autonomia sobre o corpo feminino".
A opinião do cientista político Eduardo Kugelmas, da USP, vai mais ou menos no mesmo sentido. "Em termos gerais, o resultado da pesquisa confirma uma opinião empírica da vida cotidiano de que há mais conservadorismo, principalmente na questão da segurança", disse ele.
Mas Kugelmas achou os resultados relacionados à legalização do aborto e da maconha surpreendentes. "Confesso que tinha impressão que as coisas tinham evoluído nessa área", disse.
Outra característica a se ressaltar foram os extremos de algumas das perguntas mais polêmicas. Perdizes/Pinheiros, por exemplo, tem o maior índice de aprovação da descriminalização da maconha (27%, ante média geral de 15%).
"No momento, sou contra a legalização, mas sou exceção e vejo que o clima entre os estudantes é favorável", disse à Folha a terceiranista de Direito Joyce Oliveira, 20, da PUC-SP, o centro nervoso e intelectual do bairro de Perdizes.
Já Vila Maria/Tucuruvi dispara na aprovação da adoção da pena de morte no Brasil (67%, ou oito pontos percentuais acima da média geral). É essa a opinião de Anthony, o Mágico, que mantém seu escritório na Vila Maria Alta. "Não defendo para todos os casos, não, mas acho que inibiria o pessoal na hora de cometer um crime mais grave como estupro."
Mas o caso mais curioso talvez seja o de Itaquera/Guaianazes. Está aqui a posição mais liberal em relação à pena capital: 44% dos ouvidos são contra, ante média geral de 37%. A região abrange entre outras a Cidade Tiradentes.
O que levaria este bairro que alterna conjuntos habitacionais de poucos recursos com os piores indicadores sociais da cidade e alta incidência de tráfico a rejeitar em peso a pena capital?
É do centro dele que vem uma das possíveis explicações, pela boca de Paulo Rogério dos Santos, coordenador da ONG Pueras, que ensina preservação ambiental para 60 adolescentes da região.
"É autopreservação pura", afirma. "Quem respondeu que é contra a pena de morte são os pais dos adolescentes que vivem nas ruas daqui e acabam cooptados pelo tráfico. Eles temem que, aprovada a lei, seus filhos sejam os primeiros condenados."
Especial
Saiba mais sobre os 450 anos de São Paulo
Posições extremadas sobre aborto e maconha surpreendem estudiosos
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Um dos aspectos que mais atraíram a atenção das pessoas ouvidas pela Folha a respeito dos resultados das chamadas "questões morais" da pesquisa Datafolha foi a queda abissal no índice de moradores de São Paulo que apóiam a legalização do aborto.
Saiu de 43% em 1994, quando a maioria da população se declarava a favor da descriminalização, para 21% em 1997, já em segundo nas opções, para apenas 11% na pesquisa atual --ou diferença de 32 pontos percentuais em relação ao primeiro levantamento.
"Só posso pensar que se trata de um ataque coletivo de hipocrisia", diz o sociólogo Antônio Flávio Pierucci, da USP. "As pessoas estão consumindo drogas loucamente, tendo relações de curto prazo e não estão casando mais segundo o último Censo, e vão ser contra o aborto?", pergunta.
Para Pierucci, ser contra o aborto a essa altura é ser "contra a liberdade e a autonomia sobre o corpo feminino".
A opinião do cientista político Eduardo Kugelmas, da USP, vai mais ou menos no mesmo sentido. "Em termos gerais, o resultado da pesquisa confirma uma opinião empírica da vida cotidiano de que há mais conservadorismo, principalmente na questão da segurança", disse ele.
Mas Kugelmas achou os resultados relacionados à legalização do aborto e da maconha surpreendentes. "Confesso que tinha impressão que as coisas tinham evoluído nessa área", disse.
Outra característica a se ressaltar foram os extremos de algumas das perguntas mais polêmicas. Perdizes/Pinheiros, por exemplo, tem o maior índice de aprovação da descriminalização da maconha (27%, ante média geral de 15%).
"No momento, sou contra a legalização, mas sou exceção e vejo que o clima entre os estudantes é favorável", disse à Folha a terceiranista de Direito Joyce Oliveira, 20, da PUC-SP, o centro nervoso e intelectual do bairro de Perdizes.
Já Vila Maria/Tucuruvi dispara na aprovação da adoção da pena de morte no Brasil (67%, ou oito pontos percentuais acima da média geral). É essa a opinião de Anthony, o Mágico, que mantém seu escritório na Vila Maria Alta. "Não defendo para todos os casos, não, mas acho que inibiria o pessoal na hora de cometer um crime mais grave como estupro."
Mas o caso mais curioso talvez seja o de Itaquera/Guaianazes. Está aqui a posição mais liberal em relação à pena capital: 44% dos ouvidos são contra, ante média geral de 37%. A região abrange entre outras a Cidade Tiradentes.
O que levaria este bairro que alterna conjuntos habitacionais de poucos recursos com os piores indicadores sociais da cidade e alta incidência de tráfico a rejeitar em peso a pena capital?
É do centro dele que vem uma das possíveis explicações, pela boca de Paulo Rogério dos Santos, coordenador da ONG Pueras, que ensina preservação ambiental para 60 adolescentes da região.
"É autopreservação pura", afirma. "Quem respondeu que é contra a pena de morte são os pais dos adolescentes que vivem nas ruas daqui e acabam cooptados pelo tráfico. Eles temem que, aprovada a lei, seus filhos sejam os primeiros condenados."
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