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25/01/2004 - 04h37

Para a maior parte, ninguém é a cara de São Paulo

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Não é Rita Lee, como queria Caetano Veloso em sua "Sampa". Não é nem mesmo o próprio Caetano. À pergunta "Das pessoas famosas que você conhece, mesmo que só de ouvir falar, qual na sua opinião tem mais a cara de São Paulo", feita pelo Datafolha para moradores da cidade em novembro e dezembro do ano passado, a maioria respondeu "não sei".

São Paulo tem cara indecifrável para 26% dos ouvidos, índice que cresce para quase um terço das respostas se incluir a parcela dos que responderam "ninguém" (4%). "É uma cidade sem memória, que estimula o individualismo, o salve-se-quem-puder", acredita Miriam Chnaiderman, psicanalista e documentarista, autora de "Dizem que Sou Louco" (1994) e "Alma na Mão" (inédito).

A falta de personalidade, se é que se pode chamar assim, é ainda mais evidente ao se verificar o resultado de levantamento com moradores de oito Estados do país mais o Distrito Federal: 36% disseram não saber e 1% optaram por declarar "ninguém".

Os nominados

Entre os nominados pelos moradores, a cidade começa a tomar o rosto de alguém polêmico: 12 anos depois de vencer uma eleição e oito anos após ocupar seu último cargo público, é Paulo Maluf a cara de São Paulo para 8% dos ouvidos. Em segundo lugar vem Silvio Santos, com 5%.

A situação se inverte nacionalmente. Aí, o apresentador de TV e proprietário do SBT passa à dianteira, com 9%, deixando o político paulistano na vice-liderança, com 5%. Mas Maluf volta ao topo em outras duas questões, que talvez definam sua relação com a cidade.

Para 21% dos ouvidos em São Paulo, Maluf é o político que mais ajudou a piorar a qualidade de vida dos moradores da cidade. Pois para 26% do mesmo universo, é o que mais ajudou a melhorar a qualidade de vida.
Paradoxal? "Isso é Paulo Maluf, sempre nos extremos", disse à Folha Eduardo Kugelmas, professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo.

Sua trajetória política confirma a polarização. Maluf obteve 4,1 milhões de votos na última eleição a que concorreu, a governador do Estado, em 2002, mas não ganha um pleito desde 1992, quando se elegeu prefeito da cidade --ou seja, o malufismo continua forte em São Paulo, mas há tempos não consegue levar mais do que um terço dos votos.

A pesquisa comprova que seu nome continua na memória, porém. "Com o fim dos conceitos de esquerda e direita, só existe agora quem está no governo e sofre todo o desgaste e quem não está, que é o caso de Maluf", disse Antônio Flávio Pierucci, professor do Departamento de Sociologia da USP e autor do livro "Ciladas da Diferença" (Editora 34, 1999), sobre preconceito, entre outros. "Ele sabe se beneficiar disso."

Opinião diferente tem o próprio Paulo Maluf, que não descarta inclusive voltar a concorrer à prefeitura.

Menos pontos

No quesito personalidade que mais representa a cidade, embora líder, Maluf perde pontos desde que a pesquisa é feita entre os moradores: passou de 11% (2000) para 10% (2001) e os atuais 8%. Já Marta caiu quase à metade, depois de um salto: de 1% (2000) para 7% (2001, quando assumiu a prefeitura) para os atuais 4%.

Ainda nesse quesito, nacionalmente a prefeita de São Paulo empata com Gugu Liberato em terceiro lugar, com 3% --procurada pela Folha via assessoria de comunicação, Marta Suplicy preferiu não comentar os resultados.

A partir daí, não há mais acordo: Hebe Camargo, colega de Gugu e ambos funcionários de Silvio, é a quarta personalidade mais representativa para os moradores de São Paulo (3%), mas se embola em 5º lugar com outros 16 nomes de diversas procedências no cômputo nacional (1%).

Ainda assim, se emocionou: "Isso já é demais para mim", disse a paulista de Taubaté, de 73 anos, que mora no Morumbi e está na TV desde a inauguração da primeira emissora no país, em 1950. "Amo isso aqui, apesar de todos os problemas que a cidade tem."

É curioso perceber que, tanto para os moradores de São Paulo quanto para os de fora, a percepção da cidade passa fortemente pelo SBT, a emissora criada por Silvio Santos em 1981 no bairro do Sumaré a partir do espólio da Tupi --são artistas da empresa 4 das 11 personalidades mais citadas em São Paulo e três das sete mais lembradas nacionalmente, com Ratinho completando a lista.

"O resultado da pesquisa sugere que as pessoas identificam o SBT com São Paulo, como sugeriria que a Globo é identificada com o Rio se a localidade da pergunta fosse outra", disse Esther Hamburger, professora do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes) e doutora pela Universidade de Chicago. "Ou seja, é surpreendente, mas tem lógica."

Para a crítica de TV da Folha, não quer dizer que essa seria necessariamente a imagem que o paulistano tem da cidade se a pergunta não fechasse no conceito de famosos. "Não se sentem necessariamente representados por Maluf, Ratinho nem seja quem for."

Nem Caetano nem Rita, para voltar a "Sampa" --a dupla foi lembrada por apenas 1%, no caso do músico baiano, e menos que o suficiente para ser tabulado (1%), no caso da roqueira paulistana.

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