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28/03/2004 - 04h23

Expansão da 4ª idade cria novos desafios

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ROBERTO DE OLIVEIRA
Da Revista da Folha de S.Paulo

-- Engraçado, a senhora não me é estranha --puxa assunto Mercedes Figueiredo, 106.

-- Será!? --, pergunta Rafaela Mercadante de Azevedo, 105.

-- É, acho que a gente se conhece do outro mundo --brinca Mercedes.
"Do outro mundo", não, mas "de um outro mundo", certamente bem diferente, é possível, pensou o repórter ao olhar as duas mulheres nascidas no século 19.

Sozinho, cada entrevistado desta reportagem tem um quinto da idade do país; juntos, 521 anos. Chegar tão longe com uma saúde razoável é impressionante, mas é bom a sociedade se acostumar.

"O planeta atravessa o maior fenômeno de envelhecimento já vivido, com a presença cada dia maior de centenários", diz o médico Alex Kalache, 58, coordenador do Programa de Saúde e Envelhecimento da OMS (Organização Mundial da Saúde).

São os integrantes da chamada quarta idade, termo que surgiu no final dos anos 90, quando a expressão terceira idade, cunhada na década de 40, para classificar sexagenários, ficou defasada.

Segundo a mais recente projeção populacional da ONU, o número de centenários deve saltar quase 2.000% na primeira metade deste século, passando de cerca de cerca de 167 mil estimados em 2000 para 3,3 milhões em 2050.

No Brasil, a projeção se baseia em números desatualizados --a ONU atribui ao país cerca de 1.700 centenários em 2000, bem abaixo dos 24.576 registrados pelo IBGE há pouco mais de três anos. No país, de 1991 a 2000, o número de habitantes com 100 anos ou mais aumentou 77%, enquanto a população total cresceu 15,6%.

O convívio entre a quarta idade e as gerações mais novas é considerado pela OMS um dos grandes desafios. A maior preocupação é mudar a visão em relação ao idoso. "Se estiver saudável, deve passar a ser visto também como um recurso a mais", explica Kalache.

Na Europa, EUA e Japão, lugares que terão a maior concentração de centenários até 2050, o envelhecimento já apresenta impacto em todos os aspectos sociais. Replanejamento urbano, por exemplo, faz parte da pauta.

"Há também que aumentar as oportunidades educacionais a partir da terceira idade." Essa tarefa será mais difícil para os países em desenvolvimento. "Os desenvolvidos primeiro enriqueceram para depois envelhecerem. Os do Sul estão envelhecendo antes de serem ricos", afirma Kalache.

Sempre elas

As mulheres representam a grande maioria de centenárias no mundo. No Brasil, são quase 58%. "Os homens sempre se submeteram a uma carga maior de estresse, fumo, bebida, acidentes e violência", diz a geriatra Andrea Prates, 45, coordenadora do Cies (Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável), de São Paulo.

Por enquanto, sabe-se muito pouco sobre o fenômeno. Uma teoria popular nos EUA, país com o maior número de centenários do planeta (75,4 mil), diz que são abençoados por uma espécie rara de mutação genética, que geraria células protetoras de doenças do coração ou diabetes, entre outras.

"É inegável que o fator genético ajuda, mas ele, sozinho, não explica. A forma como esse centenário viveu é ainda mais importante", diz Clineu de Mello Almada Filho, 43, geriatra da Unifesp. Jacob Filho, do HC, concorda. "O ambiente onde se vive é indispensável. A boa composição genética se manifesta em condições favoráveis e se oculta nas desfavoráveis."

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