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28/03/2004 - 08h17

Grafite toma de assalto a paisagem de São Paulo

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FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo

No caos visual de São Paulo, que nenhuma operação Belezura (projeto da prefeitura para limpar muros e fachadas da cidade) parece dar conta, há um colorido anônimo, cheio de formas, que se revela entre a pichação extrema e a multiplicação da publicidade.

Vandalismo para uns, arte urbana para outros, o grafite toma de assalto a paisagem, subverte tanto o cinza de São Paulo quanto as letras ilegíveis espalhadas pelos pichadores e incrementa o delírio de imagens da cidade.

Em São Paulo, ele está por toda parte, já seduziu muito jovem de classe média a andar com sprays na mochila e vem despontando mundo afora como um dos melhores e mais criativos que há.

Alguns artistas são ufanistas e avaliam os grafiteiros brasileiros como os melhores do mundo.

Mais comedidos, dois especialistas ouvidos pela Folha concordam que os traços e as cores encontrados aqui sejam realmente de vanguarda e afirmam que São Paulo está entre os três principais centros de produção de grafite do mundo.

Surpresa

O dono de uma banca de revistas na praça João Mendes, no centro da cidade, expressa bem o fator surpresa típico da prática do grafite, nem sempre bem-vinda: "Saí num domingo de manhã e tudo estava normal. Quando voltei para a banca, à tarde, ela estava toda grafitada com uma cabeça gigante", conta ele, que não quis revelar o nome, mas que assumiu: "Gostei". Mas nem todo mundo compartilha dessa opinião. "Acho isso uma sujeirada", disse uma senhora que passava pelo local.

O desenho despertou inveja nos donos das quatro outras bancas da praça. "Achei genial. Queria ver a minha assim também. Parece que a banca virou outra coisa, um objeto de arte, algo assim", diz Miguel Bizzerio, 53, dono de uma das bancas vizinhas.

Os pivôs da ciumeira são Os Gêmeos, 30, dupla de grafiteiros das mais conhecidas no Brasil e no exterior. Os irmãos chegam a passar seis meses por ano fora do Brasil, já expuseram em Nova York, São Francisco, Paris, Lisboa, Sidney e Berlim e já realizaram, a convite do Comitê Olímpico Internacional, cinco grafites em diferentes cidades da Grécia para as Olimpíadas de 2004 --sendo que um deles tem 25 metros de altura.

"Somos mais valorizados no Brasil pelo povão e, fora daqui, pelo meio artístico", conta um deles. Para eles, grafite não é vandalismo. "A quantidade de grafite que há na cidade só mostra o tipo de cuidado e de controle que se tem por aqui. É um retrato do que é o nosso governo.

Tudo está fora de controle e a cidade está aí para todo mundo usar", dizem eles, que, quando estão em São Paulo, saem uma vez por semana para pintar e usam, a cada vez, 3,5 litros de látex e dez latas de spray.

Difusão

De tão popular entre jovens, o grafite é alvo de políticas de ONGs e da Prefeitura de São Paulo. "O grafite reproduz o problema de linguagem que o jovem tem com a sociedade. É ousado por parte do governo reconhecer como arte algo que foi tão perseguido pela polícia. Já fizemos até cursos para a Guarda Municipal explicando as diferenças entre pichação e grafite", conta Alexandre Youssef, da Coordenadoria da Juventude.

Para o grafiteiro Marllus, 23, ainda assim, há muito preconceito em torno do grafite. "Se digo para alguém que sou grafiteiro, a pessoa já me olha estranho, não tem jeito. Mas o grafite já está até na publicidade", revela.

Antenada com o gosto jovem, o canto da sereia da publicidade chegou aos ouvidos dos grafiteiros e há estética de grafite em campanhas da Nike, da Puma, do Bank Boston, da Skol e da Ellus.

Há seis meses, os adeptos da prática também ganharam uma loja especializada na rua 24 de Maio, no centro da cidade. "O forte da loja é a venda de sprays, mas também vendo revistas, bicos de spray e camisetas. Há um mercado", diz Ise, 25, dono da Grapixo.

A vertente mais radical dessa difusão são os tatuadores grafiteiros, que transportaram para o corpo aquilo que já faziam nas fachadas da cidade.

Chivitz, 27, é um deles e afirma que há cada vez mais pessoas interessadas em ter traços de grafite na pele.

Mais comum no exterior, fazer grafites em vagões de trem e do metrô não é tão raro por aqui. Só que é algo que ninguém vê.

Segundo a assessoria do Metrô de São Paulo, pelo menos uma vez a cada seis meses um vagão é pintado. Ele então é imediatamente recolhido e só volta a circular quando está limpo.
 

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